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Em livro, Jefferson envolve Lula e Dirceu com dinheiro de Furnas
SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO
Em "Nervos de Aço", livro
que acaba de lançar, o ex-deputado federal Roberto Jefferson
diz que contou ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva que o
PT e o PTB tinham acertado
partilhar R$ 3 milhões arrecadados de empresas prestadoras
de serviço à estatal Furnas
Centrais Elétricas.
Hoje se dizendo eleitor de
Heloísa Helena (PSOL), Jefferson diz que o acordo fora firmado com o então ministro da Casa Civil, José Dirceu. Diante da
surpresa que diz ter causado,
Lula desconhecia o acordo, suspeita Jefferson, à época deputado federal pelo PTB.
O diálogo com o presidente,
na presença de Dirceu e do ministro do Turismo, Walfrido
dos Mares Guias (PTB), é a
principal novidade das 375 páginas de "Nervos de Aço" (editora Topbooks; R$ 39,90).
Jefferson conta que aquele
foi seu último encontro oficial
com o presidente. Era a manhã
de 26 de abril de 2005. No Palácio do Planalto, Lula quis saber
a razão de o então diretor de
Engenharia e Planejamento de
Furnas, Dimas Toledo, não ter
ainda sido substituído por um
indicado pelo PTB, como acertado anteriormente.
"Roberto, por que está demorando tanto? Por que vocês não
trocaram ainda, rapaz? Eu não
quero manter esse cara lá. Por
que ainda não saiu a nomeação
do PTB? Vamos nomear o
[Francisco] Spirandel?", teria
dito Lula a Jefferson, que escreve ter sugerido ao presidente que Toledo fosse mantido.
"Lula não gostou: "Pô, como é
que é? Mas por quê? Vocês já
estão fazendo acordo?" "Já."
"Que acordo é esse?", ele quis saber. "Qual foi o acordo que vocês fizeram, porra?"."
Jefferson explicou o que era
o acordo. Segundo ele, Dirceu
defendia internamente a permanência de Dimas Toledo,
que caíra em desgraça com Lula
por transferir mais de R$ 1 milhão ao governo de Minas Gerais, de Aécio Neves, do PSDB.
Para não trocar Dimas por
um petebista, Dirceu teria proposta a ele "um acerto direto
entre o PT e o PTB", pelo qual
os partidos dividiriam "a arrecadação mensal" de Furnas,
"por meio de Dimas Toledo". O
dinheiro seria arrecadado "entre empresas interessadas em
contratos com Furnas".
Segundo Jefferson, Lula se
irritou com a explicação e não a
aceitou. "Aquele senhor está
traindo o governo, está fazendo
o jogo do governador de Minas
Gerais, e eu não quero a permanência dele. Não quero esse cara lá. Se você não tirar eu tiro e
ofereço a outro partido. Tem
que tirar!", teria dito o presidente, mandando, a seguir, Dirceu nomear Spirandel.
O Palácio do Planalto foi informado do conteúdo do livro,
mas não havia se manifestado
até a conclusão desta edição.
Dirceu não quis falar sobre o livro, informou sua assessoria.
No livro, Jefferson não esclarece o destino dos R$ 4 milhões
que o PT teria doado ao PTB
em 2004. O PT sempre negou
ter dado a verba ao partido, do
qual, até hoje, é aliado. "Politicamente, recebi, tecnicamente,
não. Não há dinheiro, logo não
há cadáver, logo não há crime."
O livro foi escrito a partir de
relatos ao jornalista e escritor
Luciano Trigo.
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