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Elio Gaspari
Greenspan e o triunfo de Ayn Rand
Russos querem saber mais a respeito da mulher que pisou fundo na defesa do egoísmo como fator de progresso
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TRÊS DIAS depois do seu lançamento nos Estados Unidos, o livro de
memórias de Alan Greenspan
chegou ao primeiro lugar em diversas listas de mais vendidos. Chama-se "A Era
da Turbulência - Aventuras num Novo
Mundo". Ele presidiu o Federal Reserve
Board (o banco central americano) de
1987 a 2006. Quem leu não achou grande
coisa. O doutor confirmou sua condição
de ser um chato interessante.
Tocou saxofone em banda de jazz e
houve uma época em que teve a dúvida
filosófica de que não existia. Contudo,
um pequeno trecho dessas memórias lavará a alma de ultraconservadores politicamente incorretos.
Greenspan contou que, num encontro
com sábios da ekipekonômica russa, um
assessor de Vladimir Putin pediu-lhe para falar um pouco sobre as idéias de Ayn
Rand. Foi o triunfo de uma mulher que
escapuliu de São Petersburgo em 1926,
aos 21 anos, e passou o resto da vida (até
1982) exaltando as formas mais radicais
de individualismo.
Ela teve uma forte influência intelectual no jovem Greenspan. Quando ele
entrou para o círculo de seus adoradores
tinha 26 anos, e ela 47. ("Parece um
agente funerário", disse a escritora.) Nos
anos 70, quando ele ganhou um escritório na Casa Branca de Gerald Ford, levou-a para uma visita. Rand escreveu dois romances de enorme sucesso ("A
Nascente" e "Quem é John Galt?", editados no Brasil há mais de 50 anos). Como
literata, seu negócio era filosofia. No projeto de "A Nascente", anotou: "O principal objetivo deste livro é a defesa do egoísmo e do seu verdadeiro significado". O indivíduo é a divindade, e o capitalismo, sua profecia.
Daí em diante, pisou no acelerador. O
patrão pode discriminar empregados, os
índios não têm direitos sobre suas terras,
a caridade não é uma grande virtude e os
programas sociais dos governos são uma
construção hipócrita a serviço da indolência: "Não podemos lutar contra o coletivismo, a menos que lutemos contra sua base moral: o altruísmo". Ou: "Todo
homem é um fim em si próprio, e não um
meio para satisfazer as necessidades dos
outros".
Não se fazem mais conservadores sinceros como antigamente.
Há mais informações sobre Ayn Rand
na página aynrand.com.br, do professor Eduardo Chaves, da Unicamp.
FFHH VÊ O PERIGO DE UMA GUERRA POR NADA
FFHH ficou famoso pela
Teoria da Dependência, mas
deveria ser estudado por
conta da Teoria da Causa
Inexistente. Sua idéia é de
que certas crises acontecem
sem motivo algum. Nem econômico nem social, nada. O
melhor exemplo de crise sem
causa seria a da renúncia do
presidente Jânio Quadros,
em 1961.
Jânio resolveu deixar o governo, os ministros militares
decidiram não empossar o vice-presidente, e o país chegou
à beira da guerra civil.
Tudo isso por nada.
Agora FFHH transpôs a
Teoria da Causa Inexistente
para o cenário mundial. Ele
teme que, por nada, o mundo
possa assistir a uma guerra de
proporções imprevisíveis.
Coisa parecida com o que
aconteceu em 1914, quando 9
milhões de pessoas morreram
sem que se saiba por quê.
O Irã caminha para fabricar
sua bomba atômica e seu governo de Teerã não se cansa
de repetir que está disposto a
bombardear Israel. (Por enquanto, com armas convencionais.) Israel tem um estoque de pelo menos 50 bombas atômicas. Pergunta: Os israelenses vão deixar o Irã montar
o artefato?
Então Israel ataca o Irã para destruir sua bomba, ou para impedir que ele a monte.
Pode ser o contrário: o Irã,
tendo conseguido montar
uma bomba, ataca Israel porque acha que será bombardeado. Quando chegar a hora
de contar por que a guerra começou vai-se cair na explicação do sujeito que entrou no
tiroteio porque saiu de casa
armado.
VIDENTE
O relatório de 172 páginas
do delegado Luís Flávio Zampronha de Oliveira descrevendo as maracutaias do tucanato
durante a campanha de Eduardo Azeredo em 1998 deverá
ser julgado pelas autoridades
competentes, mas um detalhe
do texto revela perigosa desatenção. O documento está datado de "4 de julho de 1998".
Nessa ocasião a maioria dos fatos denunciados nem sequer tinha ocorrido.
RECORDAR É VIVER
O tucanato fica devendo uma
à patuléia. Quando surgiram
as primeiras denúncias de que
as arcas de Marcos Valério
começaram a funcionar na
campanha de Eduardo Azeredo, a argumentação dos doutores girava em torno de um ponto: pode ter havido caixa dois, mas não houve desvio de dinheiro público.
O relatório do delegado Zampronha mostra a saída de dinheiro de quatro caixas da Viúva para custear patrocínios publicitários superfaturados. A
saber: Cemig, Copasa, Bemge e
Comig. Coisa de pelo menos
R$ 5 milhões. Parte desse dinheiro foi rastreado até os bolsos de uns 30 tucanos. Meteram o bico até em recursos da companhia de saneamento.
Quando esse processo chegar
ao STF, fará a alegria do ministro Cezar Peluso, que divertiu
o país mostrando o absurdo da
história dos emissários que iam
buscar grandes quantidades
de dinheiro vivo em agências
bancárias da avenida Paulista.
Há um ex-policial, motorista
de táxi, que disse ter recebido
R$ 1.000 de um passageiro para
sacar um cheque de R$ 375 mil
no Banco Rural. O cidadão
pediu a gentileza porque "havia
esquecido o documento de
identidade".
MADAME NATASHA
Madame Natasha adora Mônaco, onde tem boas amigas.
Ela gostaria de ser convidada
para rever o texto da versão
francesa do memorial do governo brasileiro pedindo a extradição de Salvatore Cacciola. Prosseguindo na sua defesa do idioma, renovou a bolsa de estudos
do ministro Marco Aurélio Mello, do STF, pelo seguinte comentário a respeito de sua decisão de mandar libertar o finório, em 2000:
"Da mesma forma como tenho implementado outras,
quando entendo que não assiste ao ato que implicou a prisão
o que temos de considerar é
que a liminar foi deferida quando ele era um simples acusado,
não havendo ainda a sentença
condenatória".
Natasha acredita que ele quis
dizer o seguinte: "Achei que o
rapaz deveria ser solto. Ele não
estava condenado".
NÓS, QUEM?
D. Pedro 2º chegou à maioridade com 14 anos. Nosso Guia
demorou um pouco mais e
atingiu-a aos 57, quando entrou
no Palácio do Planalto. Só então descobriu as virtudes da estabilidade da moeda, da responsabilidade fiscal, da CPMF
e dos biocombustíveis. Seguindo uma escrita dos inquilinos
da Viúva, adquiriu a capacidade
de falar mal de um ente abstrato chamado "os brasileiros", ou
um vago "nós" que, por definição, não o inclui.
Um exemplo, de quinta-feira
passada: "Fiquei meditando
porque no Brasil trabalhamos
com pessimismo e não conseguimos ter visão tal como as
coisas acontecem. (...) O Brasil
não pode aceitar os discursos
que nós fazemos diminuindo o
Brasil".
Basta que faça menos discursos.
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