DANIEL CASTRO
COLUNISTA DA FOLHA

IVAN FINOTTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Indecisos, sim. Exibicionistas, não. Essa foi uma das principais preocupações da TV Globo e do Ibope ao escolher os eleitores indecisos que farão 16 perguntas aos candidatos a presidente no debate de depois de amanhã.
Afinal, é a primeira vez que a emissora produz um debate de presidenciáveis no estilo "arena". Copiado de modelo norte-americano, a arena consiste numa platéia de 50 a 60 eleitores indecisos que farão perguntas ao vivo ao petista Luiz Inácio Lula da Silva e ao tucano José Serra. Os candidatos, por sua vez, responderão, e terão direito a réplica e tréplica.
Em época de "reality show", a Globo teme que a oportunidade única desses eleitores à frente das câmeras possa resultar em algazarra. Por isso, no meio do questionário de mais de 30 itens que o Ibope fez a centenas de indecisos para escolher os participantes, está a seguinte pergunta: "Você já participou de algum programa de auditório?". Se a reposta for afirmativa, o eleitor já está vetado. Caso seja negativa, ele precisa se adequar às outras exigências da emissora e do instituto.

Sem rejeição
A principal meta do Ibope é identificar entre 50 e 60 eleitores que estejam indecisos entre os dois candidatos. Isso significa que eles não podem estar entre o candidato A e o voto nulo, por exemplo. Além disso, não podem ter rejeição por nenhum deles, não podem ser amigos ou conhecidos de nenhum deles, nem ser afiliados a partidos ou ter trabalhado em campanhas.
Grosso modo, o universo dos 50 eleitores deve representar o universo de indecisos da população brasileira, distribuídos regionalmente, por sexo e idade.
"É preciso explicar ainda que eles não estarão concorrendo a prêmios, que o debate não é uma competição entre eles e que ninguém leva cachê para casa", afirma uma pesquisadora envolvida no processo, que pede para não ser identificada.
Outra técnica de pesquisa usada para detectar quem tem propensão ao exibicionismo são as perguntas abertas, de comportamento, que instigam o eleitor a abrir o bico. "Uma delas é "Qual é a maior qualidade do povo brasileiro?'", revela a pesquisadora.
"Analisando as respostas a esse tipo de pergunta, pode-se identificar se o indeciso tem algum comportamento de risco para o programa", afirma.

Som cortado
A Rede Globo convocou o Ibope para selecionar os candidatos e a PricewaterhouseCoopers para auditar todos os momentos da produção do programa.
A emissora não sabe quem são os indecisos e só entrará em contato com eles amanhã à tarde, quando um executivo vai explicar as regras do debate.
Amanhã, eles serão reunidos num salão. Numa parede, serão colocados cartazes com 20 temas. Os eleitores farão diversas perguntas relacionadas aos temas e a Globo vai selecionar as melhores.
Na sexta-feira, durante o debate entre os presidenciáveis, o jornalista William Bonner sorteia uma pergunta e chama o eleitor que a formulou. O sorteado lerá a sua pergunta e, se resolver improvisar, terá o som cortado.
Os eleitores, vindos de todo o Brasil, chegam a partir de hoje ao Rio de Janeiro. O Ibope entrega passagens e os embarca. A Price os recebe no aeroporto e os leva para um hotel. Lá, nada de telefone. Se alguém quiser falar com parentes, até pode. Mas fora do quarto e na presença de um auditor. E nada de discutir os detalhes do programa.
Sob pena de ir para o paredão e ser eliminado do "reality show" presidencial.


Texto Anterior: Multimídia: Lula forma "eixo do mal", diz analista
Próximo Texto: Petista ganha no TSE 4 minutos de tucano
Índice