São Paulo, sábado, 23 de outubro de 2004

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CRIME AMBIENTAL

Após ser detido em briga de galos no Rio, publicitário é acusado de três crimes; ele disse ao depor que todos sabiam de seu hobby

Indiciado, Duda paga fiança e obtém liberdade

Alexandre Campbell/Folha Imagem
Publicitário Duda Mendonça é escoltado pela PF ao deixar o IML, após exame de corpo de delito


DA SUCURSAL DO RIO

Após passar uma noite preso na sede da Polícia Federal do Rio, o publicitário Duda Mendonça, 60, pagou R$ 1.000 de fiança e obteve liberdade provisória ontem por decisão do juiz da 26ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça, Sergio Luiz Ribeiro de Souza. Ele deixou a sede da PF no centro do Rio às 22h22, sem dar entrevistas.
Duda havia sido preso em flagrante às 21h de anteontem pela PF, quando participava de uma briga de galos no Clube Privê Cinco Estrelas, em Jacarepaguá. A rinha é considerada crime ambiental. O publicitário ficará em liberdade provisória, mas foi indiciado sob a acusação de formação de quadrilha, maus-tratos a animais e apologia ao crime (no local foram apreendidos cartazes e panfletos incentivando a rinha). Ele pode ser condenado a até seis anos de prisão pelos três crimes.
Duda Mendonça é responsável pelo marketing político do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da candidata petista à Prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy (PT). Um dos mais premiados e famosos publicitários brasileiros, é responsável também por contas de empresas como a Ambev e a Brasil Telecom.
Além de Duda, outros cinco participantes da rinha foram presos e depois soltos por decisão da Justiça do Rio. São eles o vereador petista Jorge Luiz Hauat, 39, o Jorge Babu; o engenheiro Alberto Juramar Lemos Andrade, 54, que mora na Bahia; o fiscal de rendas aposentado Ademir Alamino Lacalle, 50, residente no Estado de São Paulo; o advogado Eduardo José de Arruda Buregio, 56; e o industrial José Daniel Tosi, 80, que também vive em São Paulo. Eles foram indiciados pelos mesmos três crimes do publicitário.
A operação que levou a prisão de Mendonça foi batizada de "Rudis"- nome que se dava a espada de madeira entregue como prêmio aos gladiadores da Roma Antiga. O delegado Antônio Carlos Rayol, da Delegacia de Crimes Contra o Meio Ambiente e Patrimônio Histórico, afirmou que começou a investigar o local da rinha de galos há cerca de 20 dias após receber denúncias de ONGs de defesa dos animais.
O delegado disse que, ao abordar o publicitário na rinha, ele se identificou como sendo um assessor do presidente: "Quando falou isso, entendi que ele era assessor do presidente do clube", afirmou.
De acordo com Rayol, logo após ter falado com Mendonça, recebeu um telefonema da direção-geral da PF (Polícia Federal) em Brasília, que perguntou se o publicitário estava entre os presos. "Respondi que sim e me falaram para agir com a lei."
O delegado Lorenzo Pompílio da Hora afirmou ter sido empurrado por Duda Mendonça quando lhe deu voz de prisão.
O publicitário passou a madrugada e a manhã prestando depoimento na sede da PF no Rio. Segundo Rayol, declarou que todo mundo sabia que a briga de galos era seu hobby e que não estava fazendo nada de errado. Disse que tentava legalizar a atividade, mas não obteve autorização judicial.
Se não tivesse sido libertado, Duda, que não tem curso superior, seria encaminhado para o presídio Ary Franco, onde está preso, entre outros, Paulo Maluco, irmão de Escadinha.
Além dos seis presos, outras 11 pessoas que também estavam no clube foram levadas para a delegacia e liberados. Duzentos pessoas que assistiam às brigas, foram identificadas e serão chamadas para prestar depoimento.
Segundo a PF, Duda seria um dos sócios-fundadores do clube, onde foi encontrado uma placa com seu nome entre eles. O publicitário nega a acusação. O delegado Hora afirmou que investiga a possibilidade de o local ser usado como lavagem de dinheiro.


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