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Inspeção restrita abre brecha, diz pesquisador
DA REPORTAGEM LOCAL
Embora não veja o Brasil como
ameaça nuclear, Gary Milhollin,
diretor da ONG americana Projeto Wisconsin para Controle de
Armas Nucleares e co-autor do
artigo publicado na "Science",
acredita que a atitude do governo
brasileiro de dificultar as inspeções da AIEA em Resende (RJ)
possa criar uma brecha para que
países belicosos criem armas nucleares com mais facilidade.
"Uma inspeção limitada lá abre
um perigoso precedente para que
outros países mais preocupantes,
como o Irã, exijam o mesmo tratamento", disse Milhollin.
Apesar de admitir não ter razões para suspeitar das motivações brasileiras, o pesquisador se
mostra intrigado com a necessidade de desenvolver tecnologia
de beneficiamento de urânio. Para ele, as justificativas econômicas
não são muito convincentes.
"Dizem que é para economizar
nas importações. Mas é difícil ver
como eles poderiam gastar menos
dinheiro com o desenvolvimento
da usina do que importando."
A seguir, leia trechos da entrevista que o norte-americano concedeu à Folha.
(SN)
Folha - O artigo dos srs. foi motivado pelo temor de que o Brasil
possa se tornar uma nação que
constrói armas nucleares?
Gary Milhollin - Eu não acho que
exista a preocupação de que o
Brasil esteja desenvolvendo armas nucleares. Não há evidências
de que o país esteja perseguindo
isso. Mas, certamente, ele está desenvolvendo a capacidade de fazê-las. Hoje, ele é contra. Mas, no
futuro, pode mudar sua política.
Folha - Qual seria a grande preocupação para o momento atual,
com a crise em Resende?
Milhollin - Uma inspeção limitada lá abre um perigoso precedente para que outros países mais
preocupantes exijam o mesmo
tratamento, como o Irã.
Folha - Há razões econômicas que
justifiquem o desenvolvimento da
tecnologia de enriquecimento no
Brasil, sem despertar desconfianças sobre usos bélicos?
Milhollin - Você tem de pensar
nessas coisas com cuidado. As
justificativas do Brasil nunca foram muito boas. Primeiro, diziam
que queriam beneficiar urânio
para construir um submarino nuclear. Agora, dizem que é para
economizar nas importações.
Mas é difícil ver como eles poderiam gastar menos dinheiro com
o desenvolvimento da usina do
que importando.
A mesma coisa com a coisa do
espaço. Por que o Brasil investe
tanto no desenvolvimento desses
grandes foguetes, se há tantas
possibilidades comerciais mundo
afora de adquirir esses serviços?
São ambas tecnologias de uso
dual. É preciso levar essas coisas
em consideração.
Folha - Qual é a posição da comunidade internacional com relação
às dificuldades impostas pelo Brasil à inspeção em Resende?
Milhollin - A maioria dos observadores está espantada, porque o
Brasil sempre mostrou a boa vontade de se apresentar como um
"bom cidadão nuclear".
Folha - Pelo que o sr. ouviu das
condições dadas aos inspetores para os trabalhos, elas serão suficientes para garantir que não haverá
beneficiamento de urânio para a
construção de armas?
Milhollin - Teremos de esperar a
posição da agência. Eles viram e
dirão um pronunciamento sobre
se as condições da inspeção foram
adequadas ou não. No momento,
eles é que estão sob os holofotes.
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