São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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Geisel sabia de "farsa", afirma ex-secretário

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Ernesto Geisel sabia que Vladimir Herzog não tinha se matado, mas esperou o momento certo para "domar as feras, a linha dura, que não era brincadeira". É o que diz o ex-secretário de Imprensa da Presidência da República, Humberto Barreto, ao comentar a reação do então chefe do regime militar diante da morte do jornalista. "O presidente nem precisava falar para mim que não acreditava na versão do suicídio. Bastava ver as fotos", afirma Barreto, hoje com 74 anos.
Ele relembra que, depois da morte de Herzog, Geisel se reuniu a portas fechadas com o comandante do 2º Exército, Ednardo D'Ávila Mello. O encontro aconteceu no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. "Ao voltarmos à Brasília, o presidente me disse que havia advertido o general de que aquilo não podia acontecer mais. Geisel achava que Ednardo podia até não ser o culpado, mas era o responsável, como comandante militar da área."
Quando o operário Manuel Fiel Filho morreu de "suicídio" em janeiro de 1976, o que "não podia acontecer mais" aconteceu de novo. "O presidente me chamou e disse: Pode se preparar que vem uma bomba aí. Foi uma das poucas noites da minha vida em que eu não preguei os olhos. Aconteceu um fato muito grave. Um preso em São Paulo foi assassinado, morreu na prisão lá. Eu vou demitir o Ednardo agora." Dito e feito.
Barreto não tem dúvida de que Herzog foi vítima de um embate maior, em que os chamados porões resistiam à abertura política propalada por Geisel.
A escalada contra o Partido Comunista naqueles meses seria uma demonstração de força da chamada linha dura, que tinha em Ednardo um representante destacado e o ministro do Exército, Sylvio Frota, como expoente. "Chegaram a soltar panfletos nos quartéis acusando Geisel e o Golbery do Couto e Silva [ministro-chefe do Gabinete Civil] de comunistas", afirma o ex-secretário de Imprensa.


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