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Geisel sabia de "farsa", afirma ex-secretário
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente Ernesto Geisel sabia que Vladimir Herzog não tinha se matado, mas esperou o
momento certo para "domar as
feras, a linha dura, que não era
brincadeira". É o que diz o ex-secretário de Imprensa da Presidência da República, Humberto
Barreto, ao comentar a reação do
então chefe do regime militar
diante da morte do jornalista. "O
presidente nem precisava falar
para mim que não acreditava na
versão do suicídio. Bastava ver as
fotos", afirma Barreto, hoje com
74 anos.
Ele relembra que, depois da
morte de Herzog, Geisel se reuniu
a portas fechadas com o comandante do 2º Exército, Ednardo
D'Ávila Mello. O encontro aconteceu no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. "Ao
voltarmos à Brasília, o presidente
me disse que havia advertido o
general de que aquilo não podia
acontecer mais. Geisel achava que
Ednardo podia até não ser o culpado, mas era o responsável, como comandante militar da área."
Quando o operário Manuel Fiel
Filho morreu de "suicídio" em janeiro de 1976, o que "não podia
acontecer mais" aconteceu de novo. "O presidente me chamou e
disse: Pode se preparar que vem
uma bomba aí. Foi uma das poucas noites da minha vida em que
eu não preguei os olhos. Aconteceu um fato muito grave. Um preso em São Paulo foi assassinado,
morreu na prisão lá. Eu vou demitir o Ednardo agora." Dito e
feito.
Barreto não tem dúvida de que
Herzog foi vítima de um embate
maior, em que os chamados porões resistiam à abertura política
propalada por Geisel.
A escalada contra o Partido Comunista naqueles meses seria
uma demonstração de força da
chamada linha dura, que tinha
em Ednardo um representante
destacado e o ministro do Exército, Sylvio Frota, como expoente.
"Chegaram a soltar panfletos nos
quartéis acusando Geisel e o Golbery do Couto e Silva [ministro-chefe do Gabinete Civil] de comunistas", afirma o ex-secretário
de Imprensa.
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