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Caso Herzog foi "gota d'água", afirma jornalista
DA REPORTAGEM LOCAL
Até hoje Audálio Dantas
se emociona ao rememorar
a semana que, para muitos,
foi um marco decisivo na luta contra o regime militar.
No período que separa o dia
da morte de Vladimir Herzog, em 25 de outubro, até a
realização do culto ecumênico na Praça da Sé, na sexta-feira seguinte, dia 31, o então
presidente do Sindicato dos
Jornalistas do Estado de São
Paulo dormiu muito pouco.
"Para começar, permaneci
acordado de sábado à noite,
ao ser avisado da morte do
Vlado pelo Fernando Pacheco Jordão, até segunda-feira,
dia do enterro", lembra
Dantas, que havia assumido
o sindicato alguns meses antes, em maio. "O que mantinha a gente de pé era o sentimento de revolta e a solidariedade dos colegas."
O afluxo espontâneo, e não
só de jornalistas, ao sindicato era sintoma de que alguma coisa nova estava ocorrendo. "Já se sabiam de tantos casos de morte devido a
prisões; de repente aquele
momento era o da chamada
gota d'água, em que as pessoas diziam que não dava
mais para aguentar."
Ele conta a dificuldade de
conciliar a revolta com os limites da lei, num tempo em
que, com uma simples penada, o governo podia destituir
a diretoria do sindicato e nomear uma de seu agrado.
"Desde o começo ninguém acreditou na versão de
suicídio, mas a gente não podia soltar uma nota dizendo
que os militares estavam
mentindo", afirma Dantas.
"Estávamos no fio da navalha, e a saída foi denunciar a
ilegalidade das prisões e dizer que as autoridades eram
responsáveis pela integridade dos presos."
A proposta de culto ecumênico foi sugestão de Hélio
Damante, diretor do sindicato. Foram dias de muita
pressão e tensão crescente.
"Tínhamos plena consciência de que aquele processo
tinha uma importância muito grande, todo mundo estava esperando para ver o que
ia acontecer no culto", recorda Dantas.
O resto da história todos
conhecem: apesar dos bloqueios policiais esparramados pela cidade, cerca de oito
mil pessoas foram à Catedral
da Sé. Foi a primeira grande
manifestação contra o regime militar depois do Ato
Institucional nš 5. Aos 76
anos, Dantas dedica-se agora a escrever um livro resgatando a atuação do sindicato
naqueles dias. "A sociedade,
naquele momento, despertou e disse: então eles matam? Muita gente não acreditava nessa hipótese."
(RM)
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