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ELIO GASPARI
Um caso de abafa, ou de chantagem
O PT, o PSDB e o PFL meteram-se numa briga de
comadres: "Se você fizer isso, eu
faço aquilo". Os trunfos tucanos
são a ameaça e o receio (ou vice-versa) de uma convocação de Fábio Luiz Lula da Silva para explicar numa CPI as circunstâncias
em que a empresa Gamecorp,
da qual é sócio, tornou-se parceira da Telemar. Em janeiro passado, a concessionária de telefonia
fixa associou-se à sua produtora
de vídeos, investindo e contratando serviços num montante de
R$ 5 milhões, valor quase igual ao
capital de R$ 5,2 milhões da companhia.
O depoimento do empresário
parece necessário e cheira a inevitável. Não só porque a Telemar
associou-se a uma empresa da
qual o filho do presidente da República é sócio, como também
porque é pouco convincente a
única explicação dada à patuléia.
A consultora Trevisan disse que
levou a oferta de sociedade à Telemar sem identificar os donos da
Gamecorp. Vá lá. Um comentário
atribuído a Lula informa que ele
desaconselhou uma associação
do filho com o banqueiro Daniel
Dantas. O banqueiro, que controlava a Brasil Telecom, contou à
CPI que sua empresa negociou
com a Gamecorp sabendo que
Fábio Lula era um dos sócios. Como é que a Brasil Telecom soube
cedo de uma coisa que a Telemar
só foi saber na última etapa da
negociação?
Lula considera a discussão pública da sociedade Telemar/Gamecorp como uma invasão da vida privada de sua família. Exagero. Se a empresa de seu filho tivesse fechado uma sociedade com a
metalúrgica Independência, esse
raciocínio seria perfeito. Ninguém discute outros contratos da
Gamecorp. Tratando-se de uma
concessionária de serviço público,
a história é outra.
A idéia de que se façam acordos
para conceder imunidade a Fábio Luiz ofende a turma que paga
impostos e contas de telefones, coloca o PSDB na posição de fingido
e o PT na de sonso. Se a oposição
acha que deve convocar o empresário Fábio Luiz, que o faça. Se
não, o governo deve denunciar as
ameaças como uma chantagem
destinada a intimidar o partido
do presidente da República.
A velha e boa sangria da Corte
Saiu uma boa revista de estudos
da história nacional, a primeira
com ênfase nas pesquisas econômicas. Chama-se "História e Economia", é dirigida pelo professor
John Schulz e editada pela escola
pernosticamente denominada
Brazilian Business School, de São
Paulo.
Um dos seus oito artigos ilumina uma das grandes perguntas da
história do Império: quem tomava dinheiro de quem? São Paulo
espoliou o Nordeste ou o Nordeste sugou São Paulo?
O professor Adalton Franciozo
Diniz estudou os balanços de receitas e despesas do governo de
1830 a 1889 e a resposta surpreende: ambos foram explorados.
Quem lucrou foi a Corte, que torrou 29% mais do que arrecadou.
(Aquilo que no século 19 se chamava de Corte é uma área que a
geografia deixou no Rio e a política levou para Brasília.) A província que conseguiu mais dinheiro
foi o Rio Grande do Sul. Recebeu
28% mais do que arrecadou.
Em termos regionais, não há
dúvida, o Sul e o Sudeste chuparam o sangue do Norte e do Nordeste. São Paulo ficou no grupo
das províncias espoliadas. Recebeu 36% do que coletou. Pior
aconteceu com o Rio, que ficou só
com 32%. Pernambuco e Bahia tiveram de volta entre 45% e 50%.
O Império pagou 65 milhões de
libras à banca internacional por
conta do dinheiro que tomou emprestado. Esse ervanário foi equivalente ao total dos impostos arrecadados pela Coroa em Pernambuco, em São Paulo e no Rio
de Janeiro durante 50 anos.
Um artigo do professor Schulz
pede aos pesquisadores que estudem o arquivo dos Rothschild, os
banqueiros do Império. Os papéis
estão disponíveis e, pelo cheiro da
brilhantina, ajudarão a entender
como se calculavam as comissões
dos negociadores da dívida.
Enriquecerão o estudo da imponente figura do barão de Penedo,
embaixador em Londres e bom
amigo de Leonel Rothschild.
Infelizmente, os textos não estão na internet.
Segurança companheira
Lula levou urucubaca para o
referendo. Neste ano, seu governo dispôs de R$ 413 milhões para investir no Sistema
Único de Segurança Pública.
Só administrou R$ 22 milhões (5%, dez centavos para
cada brasileiro).
Noutra conta, durante os
últimos 17 anos, o carnê
Bolsa-Ditadura de Lula custou à Viúva R$ 1,8 milhão, em
valores corrigidos. (São
R$ 8.862,57 mensais, R$ 106
mil anuais, livres de imposto
de renda). Como diria o companheiro: "Damos um exemplo ao mundo cuidando dos
nossos superaposentados:
Em 20 anos, uma dúzia deles
recebe o equivalente a todos
os investimentos federais em
segurança num ano".
Grande dia
O alcance da sessão do STF de
quarta-feira é muito maior
que um placar de 7 x 3 contra
José Dirceu. Só nesta semana
será possível a leitura cuidadosa das notas taquigráficas.
Num resumo que transforma
laranja em bagaço: o Supremo não comprou a tese da
beatitude do comissário mas
também não deu a impressão
de que acredita que ele tenha
sido o único indecoroso na
turma do Planalto.
Não é o Zé
Vingativo, voluntarista, violento nas suas reações políticas, ele nunca se incomodou
quando a imprensa da capital
noticiou que mandava tanto
quanto o presidente. É possível que não consiga concluir o
mandato.
É Richard Cheney, vice-presidente dos EUA. Quem se
dispuser a acompanhar com
atenção a sua fritura aprenderá como o Ministério Público
é capaz de funcionar com a
precisão de um relógio e o peso de uma motoniveladora.
Boa notícia
Deu bolo a prisão espetaculosa do professor Antônio
Carlos Hummel, diretor de
Florestas do Ibama, em junho passado. Ele foi acusado
pelo procurador Mário Lúcio Avelar de se beneficiar de
malfeitorias no mundo desmatamento. Hummel foi
preso com outras 124 pessoas na Operação Curupira.
O professor tinha 23 anos
de serviço público, patrimônio desprezível e honra intocada. Foi algemado, passou a
noite na cadeia e chorou na
cela. A prisão foi relaxada
sem que fosse indiciado.
A partir de uma reclamação do deputado José Carlos
Aleluia, o corregedor-geral
do Ministério Público Federal abriu sindicância para
apurar o que aconteceu.
Avelar explicará sua atitude,
num caso para se observar
como os procuradores examinam os procuradores.
Macaquito
Em 1995, o embaixador Júlio
César dos Santos chefiava o
cerimonial de FFHH. Tratava de negócios com um empresário que lhe dava boca-livre no uso de jatinhos. Foi
personagem do primeiro escândalo do tucanato. Acabou em pizza. O diplomata
foi para o México e acabou
cônsul em Nova York. Agora
o doutor prestou sua colaboração à liderança continental
do "nosso guia". Chamou os
imigrantes hispânicos que
vivem nos EUA de "cucarachos", tratamento depreciativo semelhante ao que os argentinos dão aos brasileiros
quando os chamam de "macaquitos". Felizmente, a repórter Leila Suwwan ouviu e
contou.
Antes do episódio, Lula
designou-o embaixador junto aos "cucarachos" colombianos. Júlio César dos Santos desculpou-se, mas precisa achar o telefone da pizzaria que o salvou em 1995.
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