São Paulo, domingo, 23 de outubro de 2005

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Guerra entre PT e PSDB antecipa disputa por sucessão presidencial

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

Encerrada a fase mais pesada de denúncias contra o governo e seus aliados, começa a guerra mais explicitamente política entre o PT e o PSDB, aproveitando o funcionamento das três CPIs e antecipando a disputa de 2006.
PT e PSDB fazem ameaças mútuas de investigação em pontos ainda obscuros de lado a lado, como os esquemas de caixa dois nas campanhas tucanas e as suspeitas sobre prefeituras petistas.
A decisão de abrir guerra à oposição partiu dos estrategistas políticos do Planalto, inclusive do ministro Jaques Wagner (Relações Institucionais), com o aval de Lula. Em recente conversa com petistas, Lula reclamou: "Todos os dias, ligo a televisão e fico horrorizado de ver como apanho. E nunca vejo ninguém me defendendo". Os petistas entenderam que a ordem era partir para o ataque. A orientação do Planalto às bancadas do PT é assumirem a guerra como delas, deixando o Planalto de fora. Lula não quer atrair para si os estilhaços do tiroteio.
A contra-ofensiva do PT foi na semana passada, com a convocação de Cláudio Mourão para depor na CPI dos Correios. Ele foi tesoureiro de campanha do tucano Eduardo Azeredo, atual presidente nacional do PSDB, ao governo de Minas em 1998.
Nesta semana, o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, enfrenta uma acareação na CPI dos Bingos com os dois irmãos do prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel, que acusam Carvalho de saber de um esquema de corrupção na prefeitura.
Os dois personagens -Mourão e Carvalho- simbolizam os principais flancos do PSDB e do PT. Os petistas tentam mostrar que o esquema Marcos Valério não é exclusivo do partido e sim uma invenção do PSDB. E o PSDB tenta levar a crise para bem perto de Lula, ameaçando convocar o filho e o irmão do presidente para depor. O filho, Fábio Luiz da Silva, para explicar um contrato de sua empresa de games com a Telemar. E o irmão, Genival Inácio da Silva, o Vavá, para falar sobre tráfico de influência no governo.
Munição não falta, mas tanto setores petistas quanto tucanos esforçam-se para evitar que a guerra acabe por explodir a crença da opinião pública na política.

Dois núcleos
Enquanto um núcleo dos dois partidos parte para o ataque, outro tenta negociar uma espécie de "acordo de cavalheiros" para estancar a crise e tentar salvar a imagem do Congresso e dos políticos.
Entre os que estão no ataque, pelo PT, destaca-se o deputado e ex-ministro José Dirceu, que está empenhado em escapar da cassação sob o argumento de que não há provas contra ele, apenas uma "guerra política": "Só o PT pode ter investigado? O PSDB, não?".
Pelo PSDB, o grande artilheiro é o líder no Senado, Arthur Virgílio (AM), responsável por bater duro no governo e no PT.
Entre os da turma do acordo, estão o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), e o senador tucano Tasso Jereissatti (CE). Há, ainda, mediadores. O melhor exemplo é o deputado Sigmaringa Seixas (DF), que foi do PSDB, está no PT e tem amigos dos dois lados, inclusive Lula. "Eu quero paz. Tem muita gente movida pela paixão, mas está na hora de parar, porque vai empatar com todo mundo perdendo", diz ele.

Economia
O principal ponto de concórdia continua sendo não tumultuar a economia, inclusive poupando o ministro Antonio Palocci (Fazenda). Ele tem conversado com pefelistas e, na quinta, encontrou-se com o prefeito tucano José Serra.
Jereissati lembra que a oposição foi bastante cautelosa ao ouvir Rogério Buratti, o ex-assessor de Palocci na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP). "Quando ele [Buratti] ia se atrapalhando, a gente [da oposição] quase ajudava, só faltava mudar de assunto", disse.
Na outra ponta, o deputado petista José Eduardo Cardozo (SP), da CPI dos Correios, frisa que os governistas foram "muito técnicos, sem nenhum adjetivo, sem nenhuma provocação" no depoimento de Cláudio Mourão.
Para Mercadante, a acareação de Gilberto Carvalho com os irmãos Daniel "é uma agressão desnecessária", como a convocação de Mourão para falar de uma campanha de 1998 "gera tensão à toa". Para o líder, os dois lados querem "tensionar" para negociar". Todos estão cansados de denúncias e querem parar por aqui, já se preparando para 2006.


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