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Guerra entre PT e PSDB antecipa
disputa por sucessão presidencial
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
Encerrada a fase mais pesada de
denúncias contra o governo e
seus aliados, começa a guerra
mais explicitamente política entre
o PT e o PSDB, aproveitando o
funcionamento das três CPIs e
antecipando a disputa de 2006.
PT e PSDB fazem ameaças mútuas de investigação em pontos
ainda obscuros de lado a lado, como os esquemas de caixa dois nas
campanhas tucanas e as suspeitas
sobre prefeituras petistas.
A decisão de abrir guerra à oposição partiu dos estrategistas políticos do Planalto, inclusive do ministro Jaques Wagner (Relações
Institucionais), com o aval de Lula. Em recente conversa com petistas, Lula reclamou: "Todos os
dias, ligo a televisão e fico horrorizado de ver como apanho. E nunca vejo ninguém me defendendo". Os petistas entenderam que a
ordem era partir para o ataque. A
orientação do Planalto às bancadas do PT é assumirem a guerra
como delas, deixando o Planalto
de fora. Lula não quer atrair para
si os estilhaços do tiroteio.
A contra-ofensiva do PT foi na
semana passada, com a convocação de Cláudio Mourão para depor na CPI dos Correios. Ele foi
tesoureiro de campanha do tucano Eduardo Azeredo, atual presidente nacional do PSDB, ao governo de Minas em 1998.
Nesta semana, o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho,
enfrenta uma acareação na CPI
dos Bingos com os dois irmãos do
prefeito assassinado de Santo André, Celso Daniel, que acusam
Carvalho de saber de um esquema de corrupção na prefeitura.
Os dois personagens -Mourão
e Carvalho- simbolizam os principais flancos do PSDB e do PT.
Os petistas tentam mostrar que o
esquema Marcos Valério não é
exclusivo do partido e sim uma
invenção do PSDB. E o PSDB tenta levar a crise para bem perto de
Lula, ameaçando convocar o filho
e o irmão do presidente para depor. O filho, Fábio Luiz da Silva,
para explicar um contrato de sua
empresa de games com a Telemar. E o irmão, Genival Inácio da
Silva, o Vavá, para falar sobre tráfico de influência no governo.
Munição não falta, mas tanto
setores petistas quanto tucanos
esforçam-se para evitar que a
guerra acabe por explodir a crença da opinião pública na política.
Dois núcleos
Enquanto um núcleo dos dois
partidos parte para o ataque, outro tenta negociar uma espécie de
"acordo de cavalheiros" para estancar a crise e tentar salvar a imagem do Congresso e dos políticos.
Entre os que estão no ataque,
pelo PT, destaca-se o deputado e
ex-ministro José Dirceu, que está
empenhado em escapar da cassação sob o argumento de que não
há provas contra ele, apenas uma
"guerra política": "Só o PT pode
ter investigado? O PSDB, não?".
Pelo PSDB, o grande artilheiro é
o líder no Senado, Arthur Virgílio
(AM), responsável por bater duro
no governo e no PT.
Entre os da turma do acordo,
estão o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP),
e o senador tucano Tasso Jereissatti (CE). Há, ainda, mediadores.
O melhor exemplo é o deputado
Sigmaringa Seixas (DF), que foi
do PSDB, está no PT e tem amigos
dos dois lados, inclusive Lula. "Eu
quero paz. Tem muita gente movida pela paixão, mas está na hora
de parar, porque vai empatar com
todo mundo perdendo", diz ele.
Economia
O principal ponto de concórdia
continua sendo não tumultuar a
economia, inclusive poupando o
ministro Antonio Palocci (Fazenda). Ele tem conversado com pefelistas e, na quinta, encontrou-se
com o prefeito tucano José Serra.
Jereissati lembra que a oposição
foi bastante cautelosa ao ouvir
Rogério Buratti, o ex-assessor de
Palocci na Prefeitura de Ribeirão
Preto (SP). "Quando ele [Buratti]
ia se atrapalhando, a gente [da
oposição] quase ajudava, só faltava mudar de assunto", disse.
Na outra ponta, o deputado petista José Eduardo Cardozo (SP),
da CPI dos Correios, frisa que os
governistas foram "muito técnicos, sem nenhum adjetivo, sem
nenhuma provocação" no depoimento de Cláudio Mourão.
Para Mercadante, a acareação
de Gilberto Carvalho com os irmãos Daniel "é uma agressão desnecessária", como a convocação
de Mourão para falar de uma
campanha de 1998 "gera tensão à
toa". Para o líder, os dois lados
querem "tensionar" para negociar". Todos estão cansados de
denúncias e querem parar por
aqui, já se preparando para 2006.
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