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Ciro quer salário mínimo de R$ 1.000 em oito anos
PATRICIA ZORZAN
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O pré-candidato do PPS à Presidência da República, Ciro Gomes,
44, defende como uma das propostas de seu eventual governo a
elevação do salário mínimo dos
atuais R$ 180 (US$ 72) para R$
1.000 (o equivalente hoje a US$
398) em um período de oito anos.
Na eleição de 1998, o programa
de Ciro sugeria que o salário mínimo, então de R$ 130 (à época, o
equivalente a US$ 109), fosse dobrado (US$ 218).
A nova proposta, que embute
um aumento de 456% no valor do
mínimo atual, tem sido citada pelo pré-candidato durante palestras -às quais a imprensa não
tem acesso-, em que ele divulga
suas propostas de governo.
A idéia revela ainda um projeto
para dois mandatos, apesar de,
formalmente, o ex-ministro dizer-se contrário à reeleição.
Segundo assessores do presidenciável, o aumento do mínimo
seria vinculado à implementação
das reformas tributária e previdenciária, também defendidas
pelo pré-candidato.
Pesquisa Datafolha de setembro, mostra Ciro com 14% dos votos, atrás apenas de Luiz Inácio
Lula da Silva (PT), com 30%, mas
tecnicamente empatado, devido à
margem de erro de dois pontos
percentuais, com a pefelista Roseana Sarney (12%) e o peemedebista Itamar Franco (11%). Pesquisas posteriores, divulgadas nas
duas últimas semanas, mostram
Ciro em queda, atrás de Roseana.
A proposta, que já é tema de
projeto de lei do PPS na Câmara,
deve integrar o programa de governo de Ciro. Batizado de ""Projeto Nacional de Desenvolvimento com Justiça", o programa é
coordenado pelo filósofo Roberto
Mangabeira Unger, um dos principais conselheiros de Ciro.
Juntos, os dois publicaram o livro ""O próximo Passo - Uma Alternativa Prática ao Neoliberalismo" (Topbooks, 1996). A obra,
um resumo de propostas para o
país, selou uma parceria iniciada
em 1994 e consolidada com a
campanha derrotada de Ciro à
Presidência em 1998.
Formado por políticos ligados
ao PPS, economistas, intelectuais,
juristas e representantes de organizações não-governamentais, o
grupo comandado por Mangabeira tem se reunido desde o início de outubro no Rio para concluir um primeiro esboço do texto
até o final deste mês.
A partir daí, o pré-candidato
promete submeter suas idéias às
contribuições do PTB, que, pelo
menos por enquanto, afirma estar
disposto a apoiar Ciro.
Documento
Embora o programa de governo
coordenado por Mangabeira esteja em fase de consolidação, um
texto com as principais propostas
do PPS foi distribuído pelo próprio Ciro a um grupo de empresários de São Paulo, em setembro.
No documento, de caráter bastante genérico, o ex-ministro propõe um modelo tributário que desonere a cadeia produtiva e os salários, ""deslocando para o consumo e para os ganhos de capital e
de propriedade a tarefa de bem financiar o setor público".
Para a Previdência, sugere um
regime de capitalização público.
Em nenhum dos dois casos são
fornecidos detalhes sobre a execução das idéias. ""Para cada objetivo, há um detalhamento pronto
para ser aprimorado ao longo do
debate", afirma o texto.
Segundo informações do site
oficial de Ciro, a idéia é vincular a
poupança previdenciária a um investimento produtivo.
O documento fala no estímulo à
organizações internas de financiamento ""o mais possível assemelhadas às instituições internacionais do gênero" para recuperar
a coordenação entre governo e
""empreendedores nacionais".
Assim como a política econômica do governo federal e o programa petista para o setor, o presidenciável enumera propostas
para a distribuição de renda.
Além do aumento do salário
mínimo, cita, com esse objetivo, o
aperfeiçoamento da legislação sobre a participação de trabalhadores nos lucros das empresas e uma
reforma agrária acompanhada de
políticas de crédito, assistência
técnica e estoques reguladores.
No texto dado aos empresários
não há referências às privatizações ou ao alongamento de prazo
para o vencimento da dívida externa defendido pelo ex-ministro.
Para a educação, menciona-se
apenas ""uma profunda reforma"
na esfera pública, focada na reciclagem do magistério ""mediante
ganhos salariais proporcionais a
ganhos de qualificação".
Ciro ainda estimula no documento a realização de plebiscitos
e referendos -""para que a população possa mediar impasses conceituais , encerrando a crônica de
fisiologia ou de crises que perpassam a história do presidencialismo brasileiro"- e a preparação
do país para o parlamentarismo.
No plano internacional, estimula a aproximação com países como China, Índia, Rússia e Indonésia, e defende a negociação com
os Estados Unidos de um formato
alternativo para a Alca.
O pré-candidato pede também
"paciência" e ""cooperação" em
relação à Argentina, ao Chile e aos
demais países sul-americanos, na
tentativa de fortalecer o Mercosul.
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