UOL

São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

OPERAÇÃO ANACONDA

Rodriguez tem registrados 4 imóveis, 3 carros e 2 motos; policial é sócio em obra de R$ 8 mi, diz empresário

Agente tem ao menos R$ 1,45 mi em bens

RUBENS VALENTE
MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O agente da Polícia Federal César Herman Rodriguez, 41, apontado como peça-chave no suposto esquema de venda de sentenças judiciais investigado pela Operação Anaconda, acumula um patrimônio registrado de pelo menos R$ 1,45 milhão, segundo levantamento feito pela Folha.
Essa é a soma de quatro imóveis, três carros e duas motos registrados em seu nome. Um empresário reconheceu que ele é sócio na construção de um prédio que consumiu R$ 8 milhões.
Para atingir seu atual patrimônio, Rodriguez teria que trabalhar 25 anos, sem gastar nada, com o salário máximo de agente classe especial, R$ 4.500,00 líquidos. Ele trabalha na PF há 14 anos.
Documentos apreendidos pela PF no escritório do advogado Affonso Passarelli Filho, de quem Rodriguez foi sócio, trazem indícios de que sua riqueza pode ser mais do que o dobro do R$ 1,45 milhão registrado oficialmente.

Prédio de R$ 8 milhões
Recibos, planilhas e contratos sigilosos encontrados pela polícia revelam que o agente estava construindo um prédio de 15 andares na avenida Angélica, na região central de São Paulo. O imóvel já consumiu R$ 8 milhões, segundo a incorporadora da obra. Na hipótese de o agente ter só 10% do prédio, seu patrimônio ultrapassaria os R$ 2 milhões.
O agente da PF seria sócio do empreendimento junto com Cícero Viana Filho, dono de rede Itororó de concessionárias Chevrolet (sete lojas), de empresa de táxi aéreo e de pedreira, de acordo com o advogado do empresário, Luiz Fernando Pacheco. A sociedade com o policial, contudo, não foi registrada em cartório.
"Rodriguez entregou dois imóveis residenciais que estão em seu nome para entrar na sociedade", diz o advogado. Os imóveis, segundo ele, ficam em Moema e Santana, bairros onde o agente tem, de fato, apartamentos. Pacheco informou que a participação de Rodriguez no empreendimento corresponde ao valor dos apartamentos que, contudo, não foi divulgado.
O estacionamento que funciona no subsolo do prédio em construção está em nome de Rodriguez. Batizado de Her Park, ele foi registrado em 10 de abril deste ano com um capital social de R$ 5.000, dividido por dois sócios: Rodriguez detém R$ 4.750 e Adauto Bertoncini, R$ 250.
O agente também usava laranjas para esconder parte de seu patrimônio, segundo a PF. Há recibos de condomínio em que Rodriguez aparece como o proprietário, mas o imóvel está registrado em nome de outra pessoa.
A Folha encontrou um apartamento no Morumbi (zona sul de São Paulo) em nome de Lisandra Giselle Vilela Chagas, secretária do agente no escritório de advocacia de Passarelli Filho. Ela ganha cerca de R$ 800 por mês, segundo anotações de um livro-caixa apreendido pela PF, e aparece como dona de um apartamento avaliado em R$ 120 mil.
Os papéis encontrados no escritório trazem indícios de que ele seria dono de uma cobertura no Morumbi (avaliada em R$ 400 mil), um sobrado no Guarujá, no litoral paulista, e um apartamento num residencial à beira-mar em Camboriú, em Santa Catarina.

A dupla vida de Rodriguez
A documentação apreendida detalha a dupla vida de Rodriguez. Sob a fachada do agente da PF cedido à Justiça Federal de São Paulo -com objetivos até hoje não esclarecidos pela Superintendência da PF em São Paulo- e com um salário bruto de no máximo R$ 6.000, há um Rodriguez que faz grandes gastos.
De uma vez ele comprou dois jipões Pajero, como está anotado no auto de apreensão. Os dois recibos da Danzen Veículos, de São Bernardo do Campo, estão em nome de Rodriguez: um de R$ 181.300 e outro de R$ 181.091. Um papel manuscrito traz a seguinte anotação: "181.300 em notas", o que sugere que o carro foi pago com cédulas.
"Eu não me lembro de ter recebido R$ 180 mil em notas, não me lembro desse negócio", disse à Folha Antonio Jair, dono da Danzen, que fechou no ano passado. O preço que consta da nota equivale ao valor atual da Pajero Full, o modelo mais caro do jipão.
O agente não tem nenhuma Pajero registrada em seu nome. Entre seus veículos, há um Mercedes SL 500 e um Cherokee.
Rodriguez entrou na Polícia Federal em 1985 e foi expulso em 1992, sob a acusação de ter contrabandeado um fuzil AR-15 de Miami, no sul dos EUA. Absolvido, foi reintegrado em 1996 por ordem da Justiça.
Paulista de Osasco, na Grande São Paulo, ele advoga com um registro emitido pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) do Acre. Está com três anuidades atrasadas e poderá ter o registro cancelado, segundo a entidade.
Com esse documento, Rodriguez atuou em causas de clientes de peso, como a empreiteira Levian, de patrimônio declarado de R$ 60 milhões, que construiu o Shopping Internacional de Guarulhos, o quinto maior do país.
O escritório em que trabalhava ou trabalha com Passarelli Filho defendeu acusados de operar ilegalmente no mercado financeiro no chamado "escândalo dos precatórios" e atuou em pelo menos oito processos no STJ (Superior Tribunal de Justiça), em Brasília.


Texto Anterior: Questão agrária: Para CNA, plano leva agricultor ao Fome Zero
Próximo Texto: Outro lado: Advogada de agente não fala sobre operação
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.