São Paulo, quarta-feira, 23 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA

Na Câmara, ministro nega ter pedido demissão e diz ser menos importante que política econômica

Só Lula responde sobre minha permanência, afirma Palocci

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

Em novo depoimento no Congresso, desta vez na Câmara dos Deputados, o ministro Antonio Palocci (Fazenda) se disse menos importante que a política econômica e foi evasivo ao responder a insistentes questões sobre sua permanência no cargo. Afirmou, porém, estar "empenhadíssimo" em manter as diretrizes fixadas por sua pasta.
"O senhor fez uma pergunta que é a única que eu não posso responder, sobre a minha permanência no governo. Só o presidente Lula pode dar essas respostas", disse, sorrindo, ao deputado Fernando Coruja (PPS-SC). "Vou colaborar com o presidente até o momento em que ele achar que estou ajudando, a ele e ao país."
Conforme a Folha noticiou ontem, Palocci pediu demissão na quinta passada, o que não foi aceito por Lula, que ontem afirmou que o ministro está "firme" no governo. Palocci, desgastado por acusações de corrupção e críticas à política econômica encabeçadas por sua colega da Casa Civil, Dilma Rousseff, reivindica a recomposição de seu poder no governo.
Ontem, Palocci foi elogioso nas menções a Lula. "Vocês sabem que eu tenho uma relação muito próxima com o presidente e considero muito o lado humano do presidente. É uma pessoa que durante todos esses três anos olhou com atenção a política econômica e o tempo todo destacava aspectos da política que se refletiriam ou não nas pessoas mais pobres."
Os deputados da Comissão de Finanças e Tributação tentaram em vão arrancar do ministro pistas sobre sua disposição de permanecer na pasta e respostas aos ataques de Dilma.
Palocci repetiu várias vezes que considera "normal" haver divergências no governo, disse que Dilma é "uma pessoa muito responsável" e negou a intenção de elevar o aperto fiscal, principal motivo do conflito com a Casa Civil. "Continuo sem saber qual é a divergência entre a Fazenda e a ministra", queixou-se o líder do PSDB, Alberto Goldman (SP).
"Eu estaria fazendo dumping [concorrência desleal] com a oposição se fizesse o que o senhor está pedindo", brincou Palocci. A sério, avaliou que há "meias-mentiras e meias-verdades" nas versões sobre os atritos internos.
Diante da insistência dos deputados, no início da noite, depois de quase oito horas de depoimento, Palocci afirmou: "Não fui discutir meu cargo com o presidente. Não discuti esse assunto, não vou relatar aqui minhas conversas com o presidente, porque não sou indiscreto. Não há nada acontecendo nesse campo."

"Tranqüilo"
Questionado se se sentia "confortável" no cargo, o ministro usou os elogios recebidos de Lula para sair pela tangente. "Estou absolutamente tranqüilo, o presidente Lula de novo ontem [anteontem] reafirmou os princípios da política econômica", disse.
"Eu penso que acima das pessoas -e eu não sou uma pessoa acima de qualquer avaliação política ou administrativa- estão as políticas. Eu acho que muito mais importante do que a presença do ministro da Fazenda é a presença da política econômica, que eu acho que não pode mudar. Estou empenhadíssimo em mantê-la e melhorá-la", afirmou.
Palocci repetiu a afirmação de Lula de que a política econômica era de todo o governo e não apenas dele, ministro da Fazenda.
"A área econômica tem uma política acordada e discutida com o presidente Lula. Não fazemos uma política do Ministério da Fazenda. A política econômica é do governo. Imagine se a política econômica é uma invenção particular, deste ministro!", disse Palocci, segundo o qual Lula "lidera o governo de maneira concreta e absoluta, arbitra de forma democrática, mas decisiva".
Ao longo da audiência, que começou às 10h37 e durou cerca de nove horas, o ministro seguiu a linha costumeira de seus pronunciamentos públicos. Não elevou a voz, não demonstrou irritação com as provocações, elogiou o Congresso e a oposição, riu das piadas alheias e fez suas próprias. Confrontado com a possibilidade de ser substituído pelo líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), um de seus críticos, limitou-se a dizer, sorrindo: "O Mercadante é meu líder".
Ele fez uma exposição inicial de 50 minutos sobre os assuntos que motivaram sua convocação à comissão, nos quais poucos ainda estavam interessados -repasses de verbas a municípios e renegociação da dívida do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) com a rede bancária.
O ministro aproveitou a audiência para comemorar os resultados da economia e pregar a necessidade de um acordo suprapartidário destinado a estender as atuais metas da política fiscal por um prazo de, por exemplo, dez anos.
A outra audiência da qual Palocci participaria, na comissão que analisa o Fundeb (Fundo para Desenvolvimento do Ensino Fundamental), foi adiada.
(GUSTAVO PATU, LUCIANA CONSTANTINO E CHICO DE GOIS)


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