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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA
Na Câmara, ministro nega ter pedido demissão e diz ser menos importante que política econômica
Só Lula responde sobre minha permanência, afirma Palocci
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA
Em novo depoimento no Congresso, desta vez na Câmara dos
Deputados, o ministro Antonio
Palocci (Fazenda) se disse menos
importante que a política econômica e foi evasivo ao responder a
insistentes questões sobre sua
permanência no cargo. Afirmou,
porém, estar "empenhadíssimo"
em manter as diretrizes fixadas
por sua pasta.
"O senhor fez uma pergunta
que é a única que eu não posso
responder, sobre a minha permanência no governo. Só o presidente Lula pode dar essas respostas",
disse, sorrindo, ao deputado Fernando Coruja (PPS-SC). "Vou colaborar com o presidente até o
momento em que ele achar que
estou ajudando, a ele e ao país."
Conforme a Folha noticiou ontem, Palocci pediu demissão na
quinta passada, o que não foi aceito por Lula, que ontem afirmou
que o ministro está "firme" no governo. Palocci, desgastado por
acusações de corrupção e críticas
à política econômica encabeçadas
por sua colega da Casa Civil, Dilma Rousseff, reivindica a recomposição de seu poder no governo.
Ontem, Palocci foi elogioso nas
menções a Lula. "Vocês sabem
que eu tenho uma relação muito
próxima com o presidente e considero muito o lado humano do
presidente. É uma pessoa que durante todos esses três anos olhou
com atenção a política econômica
e o tempo todo destacava aspectos da política que se refletiriam
ou não nas pessoas mais pobres."
Os deputados da Comissão de
Finanças e Tributação tentaram
em vão arrancar do ministro pistas sobre sua disposição de permanecer na pasta e respostas aos
ataques de Dilma.
Palocci repetiu várias vezes que
considera "normal" haver divergências no governo, disse que Dilma é "uma pessoa muito responsável" e negou a intenção de elevar o aperto fiscal, principal motivo do conflito com a Casa Civil.
"Continuo sem saber qual é a divergência entre a Fazenda e a ministra", queixou-se o líder do
PSDB, Alberto Goldman (SP).
"Eu estaria fazendo dumping
[concorrência desleal] com a oposição se fizesse o que o senhor está
pedindo", brincou Palocci. A sério, avaliou que há "meias-mentiras e meias-verdades" nas versões
sobre os atritos internos.
Diante da insistência dos deputados, no início da noite, depois
de quase oito horas de depoimento, Palocci afirmou: "Não fui discutir meu cargo com o presidente.
Não discuti esse assunto, não vou
relatar aqui minhas conversas
com o presidente, porque não sou
indiscreto. Não há nada acontecendo nesse campo."
"Tranqüilo"
Questionado se se sentia "confortável" no cargo, o ministro
usou os elogios recebidos de Lula
para sair pela tangente. "Estou absolutamente tranqüilo, o presidente Lula de novo ontem [anteontem] reafirmou os princípios
da política econômica", disse.
"Eu penso que acima das pessoas -e eu não sou uma pessoa
acima de qualquer avaliação política ou administrativa- estão as
políticas. Eu acho que muito mais
importante do que a presença do
ministro da Fazenda é a presença
da política econômica, que eu
acho que não pode mudar. Estou
empenhadíssimo em mantê-la e
melhorá-la", afirmou.
Palocci repetiu a afirmação de
Lula de que a política econômica
era de todo o governo e não apenas dele, ministro da Fazenda.
"A área econômica tem uma
política acordada e discutida com
o presidente Lula. Não fazemos
uma política do Ministério da Fazenda. A política econômica é do
governo. Imagine se a política
econômica é uma invenção particular, deste ministro!", disse Palocci, segundo o qual Lula "lidera
o governo de maneira concreta e
absoluta, arbitra de forma democrática, mas decisiva".
Ao longo da audiência, que começou às 10h37 e durou cerca de
nove horas, o ministro seguiu a linha costumeira de seus pronunciamentos públicos. Não elevou a
voz, não demonstrou irritação
com as provocações, elogiou o
Congresso e a oposição, riu das
piadas alheias e fez suas próprias.
Confrontado com a possibilidade
de ser substituído pelo líder do
governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), um de seus críticos, limitou-se a dizer, sorrindo:
"O Mercadante é meu líder".
Ele fez uma exposição inicial de
50 minutos sobre os assuntos que
motivaram sua convocação à comissão, nos quais poucos ainda
estavam interessados -repasses
de verbas a municípios e renegociação da dívida do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social)
com a rede bancária.
O ministro aproveitou a audiência para comemorar os resultados
da economia e pregar a necessidade de um acordo suprapartidário
destinado a estender as atuais metas da política fiscal por um prazo
de, por exemplo, dez anos.
A outra audiência da qual Palocci participaria, na comissão
que analisa o Fundeb (Fundo para Desenvolvimento do Ensino
Fundamental), foi adiada.
(GUSTAVO PATU, LUCIANA CONSTANTINO E CHICO DE GOIS)
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