São Paulo, quarta-feira, 23 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA

Presidente autoriza elevação da meta do superávit primário para 4,5%, em sinalização de força ao ministro na disputa com Dilma

Lula aceita mais arrocho para manter Palocci

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA

Para tentar segurar Antonio Palocci no Ministério da Fazenda, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva prometeu, ao final de uma reunião anteontem à noite no Palácio do Planalto, elevar a meta de superávit primário deste ano para pelo menos 4,5% do PIB (Produto Interno Bruto).
Palocci arrancou a promessa de Lula depois de se recusar a continuar na Fazenda se não tivesse sua força no governo recomposta. O presidente relatou a auxiliares que não deixará Palocci sair e que autorizou o superávit maior.
A discussão agora será sobre oficializar ou não a nova meta de 4,5% do PIB -a oficial é 4,25%. Esse 0,25 ponto percentual -cerca de R$ 5 bilhões a mais de superávit primário- é significativo, na visão da equipe econômica, porque sinaliza ao mercado financeiro e aos investidores internacionais que o Brasil continuará o esforço fiscal para reduzir a relação entre a dívida pública e o PIB. Em setembro, essa dívida equivalia a quase 51,4% do PIB.
O superávit primário -economia do setor público para pagamento de juros da dívida-, deve ser elevado "na prática", disse Palocci, em reunião com Lula e com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.
Lula chegou a se dizer incomodado com as críticas da oposição e de caciques petistas de que países emergentes estavam aproveitando o bom momento da economia mundial e que o Brasil estaria ficando atrás. Ele citou Chile e China como economias que estariam crescendo mais que o Brasil. Palocci e Meirelles retrucaram que ambos tinham condições específicas, como aposentadoria privada (Chile) e ausência de previdência e direitos trabalhistas (China), que facilitariam o crescimento.
Interessado em manter Palocci, Lula aquiesceu. Disse que falaria com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, sobre a nova decisão de elevar o superávit primário.
Na prática, o superávit dificilmente ficará em 4,25% do PIB, mesmo que haja aceleração de gastos públicos no final do ano. Entre janeiro e setembro, o superávit equivaleu a 6,1% do PIB, o que teria assustado Dilma e Lula, que cobraram de Palocci verbas para investimentos e custeio.
Se é difícil chegar a 4,25%, Lula acha que 4,5% é concessão possível -o que confirmará o discurso de Palocci de que a política econômica continua a mesma. A equipe econômica estima um superávit entre 4,6% e 4,7% do PIB, o que seria suficiente para manter estável a relação entre dívida e PIB.
Na reunião, o presidente do Banco Central de sinais de que poderá haver queda nos juros. Disse que a Selic, taxa básica, pode ser diminuída nesta semana em 0,5 ou 0,75 ponto percentual.
O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), negou que tenha sido convidado a substituir Palocci na Fazenda e se recusou a comentar a possibilidade. Mercadante é a primeira opção de Lula para substituir Palocci, apesar de o presidente ter dito que acha "impensável" abrir mão de Palocci, nas palavras de um auxiliar direto.
Questionado se estaria "à disposição" de Lula para substituir o ministro da Fazenda, Mercadante desconversou. "Sempre estou à disposição do presidente. Para ser líder do governo no Senado. O ministro da Fazenda se chama Antonio Palocci, que goza da total confiança do presidente Lula, que já manifestou isso publicamente."
O senador disse que não há razão para que Palocci seja convocado a depor na CPI dos Bingos. "O ministro veio à CAE esclarecer tudo o que fosse preciso. Foi à Câmara. Não vejo necessidade de aprovar uma convocação."
Ele acha "mais razoável" a aprovação de um "convite". "Sempre tem sido assim nesta Casa. A hora que a CPI achar que é necessário, convida o ministro. Tenho certeza que ele virá espontaneamente", disse Mercadante.


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