São Paulo, quinta-feira, 23 de novembro de 2006

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PMDB diz "sim" a Lula e deve ampliar espaço no governo

Temer diz que "amplíssima" maioria apoiará presidente; 6 senadores ficam na oposição

Logo após o encontro com Temer, petista liga para os senadores Renan Calheiros e José Sarney, que comandam a ala governista do partido


Jorge Araujo - 25.out.2006/Folha Imagem
Entre Alckmin e Serra, Temer, que apoiou o tucano ao Planalto


PEDRO DIAS LEITE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após reunião de quase duas horas no Palácio do Planalto, o PMDB anunciou ontem que vai aderir ao "governo de coalizão" de Luiz Inácio Lula da Silva.
Aliado de Geraldo Alckmin (PSDB) na eleição, o presidente do PMDB, Michel Temer, disse que o apoio integral do partido ao governo deve ser formalizado em até duas semanas. Segundo o peemedebista, uma "amplíssima" maioria do partido vai aderir a Lula. "Não gostaria mais de fazer essa distinção entre governistas e oposicionistas. Acho que há uma interação do PMDB em busca de apoio a esses projetos. Pelo menos do nosso ângulo, vamos tentar evitar essa rotulação de governista, não-governista", disse Temer, que fez oposição a Lula no primeiro mandato.
À noite, Lula disse que a "reunião foi histórica": "Todo mundo sabe que nós queríamos fazer uma política de alianças mais forte com o PMDB desde 2002. Todo mundo sabe que tivemos problemas internos no PMDB que não permitiram". Segundo Lula, Temer lhe disse que "havia disposição do PMDB, como partido político, de trabalhar com o governo".
O apoio de todo o PMDB ao governo é algo que foi tentado por todos os presidentes desde a redemocratização, mas jamais existiu de fato. Hoje só a ala liderada por Renan Calheiros e José Sarney apóia o governo. O PMDB está rachado.
Logo após a conversa institucional com o presidente do PMDB, Lula ligou para Renan e Sarney: "O Lula achou muito bom o encontro. Ele disse que colheu a impressão de que todos querem colaborar. Eu tenho estimulado todos esses movimentos de interlocução das diferentes correntes do partido com o governo", disse Renan. O presidente do Senado não quis acompanhar Temer.
Com o anúncio da adesão ao governo, Temer vai convocar uma reunião da Executiva do partido para terça-feira. A Executiva deve então aprovar a reunião de um órgão mais amplo, o Conselho Nacional do Partido. É dessa reunião que pode ocorrer, num prazo de uma a duas semanas, a formalização do apoio ao governo.
A adesão não significa o fim dos problemas específicos. Temer já esclareceu que o apoio não tem relação com a disputa do comando da Câmara e do Senado, em fevereiro: "Onde o PMDB fez maioria, não deve abrir mão da presidência".
O discurso depois da reunião era o de que não foram discutidos cargos no governo, mas ficou claro nas entrevistas -tanto de Temer e dos deputados do PMDB que o acompanharam, quanto do ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro- que o apoio passa pelo loteamento dos ministérios.
Na reunião, Lula apresentou uma "agenda mínima de coalizão", com sete pontos, que vão da reforma política a uma renegociação da dívida dos Estados, passando por um crescimento de 5% ao ano no próximo mandato. Temer afirma que esse é um dos motivos que devem levar o partido a se unir. "Não me recordo de uma conjugação de forças políticas no passado que se ancorasse numa proposta de projetos para o país. Isso facilita muito a presença do PMDB, porque uma das coisas que o PMDB não deseja é ser apodado de fisiológico. É apoio em troca de projeto", disse Temer.
Apesar do discurso, deve haver uma mudança significativa do que foi o primeiro mandato de Lula quando, mesmo com o poder de indicar os ministros, os partidos não tinham direito a preencher todos os postos -sempre havia petistas em cargos estratégicos. Agora, a idéia é que o ministério seja todo entregue aos partidos.
O acordo com o PMDB deve aumentar o descontentamento do PT, que teme perder espaço para o partido no "governo de coalizão". Dos 34 cargos com status de ministro no governo, 16 estão nas mãos de petistas.
O PMDB promete apoiar unido o governo, mas seis de seus senadores já avisaram que não participarão do "governo de coalizão". Temer levou esse informe a Lula, que vai chamar os seis para conversar. No entanto os senadores afirmaram que serão "não-alinhados".

Colaborou FERNANDA KRAKOVICS, da Sucursal de Brasília

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