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VALERIODUTO TUCANO / TROCA DE GUARDA
Novo ministro já foi citado no mensalão
Segundo o Ministério Público, José Múcio participou de reuniões com Delúbio sobre pagamento de R$ 4 milhões ao PTB
Depoentes mencionam que petebista sabia de "mesada" para a base aliada desde o final de 2003, mas esquema só veio a público em 2005
RUBENS VALENTE
DA REPORTAGEM LOCAL
O novo ministro das Relações Institucionais do governo
Lula, José Múcio (PTB-PE), é
citado na denúncia do mensalão entregue ao STF (Supremo
Tribunal Federal) como um
dos articuladores do acordo fechado entre as cúpulas do PT e
PTB que previa o pagamento de
R$ 20 milhões dos petistas aos
petebistas. Parte desses recursos foi paga por meio do esquema de caixa dois comandado
pelo ex-tesoureiro nacional do
PT, Delúbio Soares, e pelo publicitário Marcos Valério.
O nome de Múcio aparece
numa nota explicativa que reproduz o depoimento do ex-tesoureiro informal do PTB,
Emerson Palmieri. Ele revelou
à Polícia Federal que Múcio
manteve reuniões com o ex-presidente nacional da sigla,
Roberto Jefferson (RJ), com
Delúbio e outros petistas para
tratar de dinheiro para cobrir
gastos petebistas de 2004.
O procurador-geral da República, Antonio Fernando de
Souza, afirmou, em sua denúncia, que o esquema PT-PTB começou em julho de 2003, quando o deputado José Carlos
Martinez (PR) presidia o PTB.
Cerca de R$ 1 milhão foi enviado pelo PT até outubro daquele
ano, mês em que Martinez
morreu num acidente aéreo.
O partido elegeu então Jefferson presidente nacional e
José Múcio, líder do partido na
Câmara. No segundo trimestre
de 2004 ocorreram reuniões
entre as cúpulas partidárias.
"Como resultado do acordo
estabelecido com o núcleo central da quadrilha entre os meses abril e maio de 2004, (...)
Jefferson e Emerson Palmieri,
no mês de junho de 2004, receberam na sede nacional do
PTB, diretamente de Marcos
Valério, a importância de R$ 4
milhões (...)", diz a denúncia.
No rodapé da descrição, Souza lembrou: "Vide, entre outros, depoimento de Emerson
Palmieri, especialmente: "Que
participaram como representantes do PTB, o presidente do
partido, Roberto Jefferson, o líder do PTB na Câmara dos Deputados, José Múcio, e o declarante, e pelo PT, o presidente
José Genoino, o tesoureiro Delúbio Soares, Silvio Pereira e
Marcelo Sereno".
Palmieri confirmou as reuniões em depoimento que prestou à CPI do Mensalão.
Não citados pelo procurador
em sua denúncia, outros depoimentos dados em 2005 por Jefferson, pelo ex-ministro das
Comunicações Miro Teixeira e
por Palmieri demonstram que
Múcio tinha conhecimento do
esquema do mensalão desde,
pelo menos, o final de 2003 -o
caso só viria a público em 2005,
após Jefferson denunciá-lo, em
entrevista à Folha.
Mesmo sabendo que o PT e
integrantes do governo se valiam de um tipo de cooptação
política que envolvia pagamentos, Múcio manteve silêncio.
Em depoimento ao Conselho
de Ética da Câmara, Miro Teixeira afirmou: "Eu confirmo
que Roberto Jefferson esteve
comigo e fez menção a isso que
agora se chama de mensalão.
Fez menção, porque me visitou
acompanhado do deputado
Múcio e do deputado [João]
Lyra para me convidar a entrar
no PTB. Isso foi no final de
2003 [...] Já ia lá pelo vigésimo
minuto a conversa, que durou
uns 30 minutos, quando ele
disse: "Olha, inclusive, o PTB
não entrou nessa história de
mesada. Deputado do PTB não
recebe mesada". Perguntei:
"Que mesada, Roberto?'".
Em depoimento no Congresso, Jefferson contou que ele e
Múcio lutavam para evitar que
petebistas fossem cooptados
pelo Planalto: "Eu e o Múcio vivíamos um dia-a-dia de sofrimento com alguns companheiros que fraquejavam".
Procurado ontem, o novo
ministro não foi localizado. Ele
disse em 2005 ao Conselho de
Ética da Câmara que ouvira
apenas "rumores" sobre o
mensalão e que não discutiu o
assunto com Delúbio.
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