UOL

São Paulo, sexta-feira, 24 de janeiro de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CASO SILVEIRINHA

Documento suíço mostra funcionários como beneficiários de contas

Mais 3 auditores da Receita são suspeitos de corrupção

DA SUCURSAL DO RIO

Mais três auditores da Receita Federal estão sob suspeita de participar do esquema de corrupção que teria enviado ilegalmente US$ 33,4 milhões para contas na Suíça. Eles figuram como beneficiários das contas e já foram incluídos no processo da corregedoria da Receita Federal, por ordem do corregedor Moacir Ferreira Leão.
Agora são sete auditores, além dos quatro fiscais estaduais, investigados, entre eles o ex-subsecretário de Administração Tributária da gestão do ex-governador Anthony Garotinho, Rodrigo Silveirinha Corrêa, suspeito de comandar o esquema.
Marcos Antônio Bonfim da Silva, beneficiário da conta do auditor Amauri Nogueira Filho, é auditor da Receita desde 97 e trabalha na Delegacia de Fiscalização do Rio. Roberto Cavalieri Vommaro é auditor desde 81, foi afastado da Delegacia de Fiscalização em 2001 e está na Delegacia de Administração Tributária do Rio.
Heraldo da Silva Braga, fiscal desde 85, trabalha na Delegacia de Fiscalização. Vommaro e Braga aparecem na documentação entregue ao Brasil pelo Ministério Público da Suíça como beneficiários de Axel Ripoll Hammer, um dos suspeitos.
"Já determinei que eles sejam processados e que a comissão os inclua no rol dos investigados. Isso confirma o que eu já vinha dizendo: tem mais gente envolvida", afirmou Leão.
Os depósitos somam US$ 33,4 milhões, mas, segundo o Ministério Público da Suíça, a correção cambial eleva a quantia para cerca de US$ 36 milhões atuais.
Segundo documento entregue pela Procuradoria suíça à brasileira, o fiscal de renda Júlio Cesar Nogueira é beneficiário da conta do irmão Amauri Nogueira Filho.
Leão disse que pediu à Procuradoria Geral da República que os papéis enviados pela Suíça sejam encaminhados à corregedoria.

Polícia
A divulgação da movimentação bancária dos quatro fiscais de renda do Rio e dos quatro auditores federais desencadeou ontem ações do Ministério Público Federal, da PF (Polícia Federal) e da Polícia Civil fluminense.
Policiais da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas e Inquéritos Especiais) estiveram na casa de Silveirinha para entregar uma intimação para que deponha no dia 30.
A procuradora federal Marylucy Santiago Barra foi ao apartamento do fiscal Lúcio Manoel Picanço fazer um levantamento de bens. A Justiça informou que Picanço tinha no apartamento jóias e objetos de arte. Ele não estava. Moradores disseram à Folha que na segunda-feira ele retirara objetos pessoais.
A reportagem teve acesso ao documento que traz o mapa das contas. O documento está anexado ao relatório do Ministério Público suíço que relata as supostas operações ilegais cometidas pelo grupo, mas não contém timbre ou identificação oficial do banco UBP (Union Bancaire Privée), onde o dinheiro estaria, ou do Discount Bank and Trust, que fez o envio dos recursos para a Suíça.
O documento revela que há procurações em nome de filhos, esposas, irmãos e colegas de trabalho dos suspeitos, para movimentar as contas abertas entre 1989 e 2000. Designado para o caso, o delegado Adauto Almeida Marins, da PF, chegou ontem ao Rio. Segundo a PF, as diligências começaram ontem mesmo.
A Polícia Civil indiciou os quatro fiscais do Estado por formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, peculato (desvio e/ou apropriação de bens públicos) e concussão (obtenção indevida de benefícios por funcionário público).
Caso seja necessário para o andamento da investigação, serão chamados a depor o ex-governador Anthony Garotinho (PSB) e seu ex-secretário de Fazenda Carlos Antônio Sasse. Os quatro auditores da Receita serão ouvidos como testemunhas, pois estão fora da alçada da polícia estadual.
Ontem, foram expedidas intimações a todos os indiciados. Eles devem comparecer à Draco nos próximos dias 30 e 31, para depor.

CPI da Assembléia
A deputada Aparecida Gama (PSB) disse que a primeira medida da CPI do caso Silveirinha será pedir a prisão preventiva dos suspeitos, caso seja comprovado o envio de dinheiro para a Suíça.
A CPI será instaurada no próximo dia 3, após a posse na Assembléia Legislativa. Gama e a deputada Graça Matos (PSB), também da comissão preliminar que investiga o caso, dizem que o documento com a movimentação das contas não pode ser considerado prova. Para elas, são necessários documentos com as assinaturas dos suspeitos.


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Outro lado: Advogados dizem que não há prova de corrupção
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.