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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ PALOCCI NA MIRA
Planalto tentava ainda ontem barrar convocação; ministro diz que irá à comissão
Governo ainda resiste, mas CPI confirma presença de Palocci
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA
O governo tentava ontem barrar
a ida do ministro Antonio Palocci
Filho (Fazenda) à CPI dos Bingos,
mas, para a comissão, o depoimento já está acertado. O presidente da CPI, senador Efraim
Morais (PFL-PB), disse que telefonou ontem à noite a Palocci e
obteve a confirmação.
Em reunião na manhã de ontem
com a cúpula do Palácio do Planalto, da qual participou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a
avaliação preponderante foi que
seria uma derrota o comparecimento do ministro à CPI para tratar de suspeitas de corrupção do
tempo em que era prefeito de Ribeirão Preto (SP).
"A data será marcada hoje. Pode ser quinta-feira ou no início da
próxima semana. Ele é convidado
e convidado tem suas regalias. A
agenda está disponível a ele", afirmou Efraim Morais.
A oposição disse que não colocará o ministro "contra a parede",
irá tratá-lo "com respeito" e até
"torcerá por ele" durante o depoimento no qual ele falaria como
convidado e não na condição de
convocado, saída articulada pelo
senador Tião Viana (PT-AC).
Nos bastidores, porém, o ministro e seus auxiliares desencadearam ofensiva para averiguar se
conseguiriam impedir a aprovação de um requerimento de convocação, caso resolva não comparecer como convidado.
Se até amanhã as sondagens
mostrarem que Palocci teria força
para derrubar a convocação, o governo deverá bancar o confronto
com a oposição.
Se a conclusão de Palocci e de
seus escudeiros for a de que dificilmente vencerão a oposição, a
articulação de Tião Viana ganhará força. E o ministro se apresentará para a CPI como convidado
-cujo desgaste político é menor
do que o de uma convocação.
No início de dezembro, Efraim
recuou da tentativa de votar um
requerimento de convocação do
ministro da Fazenda por avaliar
que era alta a chance de derrota.
Na época, para não melindrar o
senador e evitar parecer vitorioso,
Palocci se comprometeu a ir à CPI
em 2006 a convite.
A cúpula do governo discutiu
ontem a articulação de Tião Viana, que sempre defendeu a ida do
ministro à CPI. Em reunião na
Granja do Torto, Lula e os principais auxiliares avaliaram que seria
pura agenda negativa num momento em que o governo -que
deve tentar a reeleição neste
ano- tenta sair das cordas após
meses da crise do "mensalão".
Palocci crê que seria péssimo
para a sua autoridade falar de acusações de corrupção numa CPI
em que o governo tem sofrido
derrotas seguidas e considerada
sob medida para desgastar Lula.
Casos que provocam dano na
imagem de Lula e do PT são discutidos na CPI, que investiga a
morte do prefeito Celso Daniel
(Santo André) em 2002, amigos
de Lula, como o presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, e o advogado e compadre do presidente,
Roberto Teixeira.
A oposição na CPI dos Bingos
pretende questionar o ministro
sobre o suposto recebimento de
propina da empreiteira Leão Leão
quando ele era prefeito de Ribeirão Preto. A acusação partiu de
Rogério Buratti, ex-secretário de
Governo da cidade. Também devem ser alvos da CPI o suposto
tráfico de influência de seus assessores no Ministério da Fazenda e
a suspeita envolvendo o envio de
dólares de Cuba para a campanha
presidencial de Lula em 2002,
coordenada por Palocci.
ACM e Tasso
Palocci busca o apoio de setores
do PFL e do PSDB para impedir
uma convocação. Em dezembro
passado, por exemplo, pediu ajuda ao prefeito de prefeito de São
Paulo, José Serra. Serra telefonou
para tucanos, que fizeram corpo
mole e impediram a convocação.
O secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal, tem negociado diretamente com pefelistas e tucanos, como o senadores
Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) e Tasso Jereissati (PSDB-CE).
Mesmo que seja inevitável comparecer à CPI, porém, a tática de
Palocci parece ter surtido algum
efeito. Nos bastidores, líderes
mais expressivos da oposição, segundo apurou a Folha, tentarão
acalmar senadores mais exaltados
num eventual depoimento à CPI.
"Nós não temos interesse de colocar o ministro contra a parede.
Temos interesse em esclarecer as
denúncias que envolvem Ribeirão
Preto e colocam o ministro sob
desconfiança", diz o líder do PFL
no Senado, Agripino Maia (RN).
"A linha é perguntar as coisas
que têm ser esclarecidas sobre as
pessoas com as quais ele se relacionou como prefeito e algumas
com quem continua se relacionando depois de ministro. Isso
tudo com respeito, com humanidade e torcendo para que ele esclareça de maneira de satisfatória", afirmou Arthur Virgílio
(AM), líder do PSDB no Senado.
Além do respeito da aposição,
Palocci terá até torcida. "Espero
que o ministro Antonio Palocci se
saia bem no depoimento, que
consiga se defender das acusações, algumas muito fortes e consistentes, que pairam sobre o governo", afirmou ACM.
"Será uma audiência dura, mas
com respeito", disse Agripino.
(KENNEDY ALENCAR, HUDSON CORRÊA e
LUIZ FRANCISCO)
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