São Paulo, quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

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China venceu jogo dos Brics, decreta inventor do termo

Jim O'Neill diz que país asiático está "em outra liga", acima de Brasil, Rússia e Índia

Na véspera da abertura do Fórum Econômico, pesquisa mostra brasileiros menos otimistas com economia do que executivos estrangeiros


CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

Os inventores da sigla Bric (de Brasil, Rússia, Índia e China, os países emergentes que até 2020 estariam no topo do mundo) admitem agora que o campeonato interno entre eles acabou. Ganhou, fácil, a China.
É o que escreve, com tato e veladamente, Jim O'Neill, o chefe de pesquisa econômica global da portentosa empresa norte-americana Goldman Sachs, justamente criador e criadora do acrônimo.
"A China está numa liga própria dentro dos Brics", compara O'Neill, em artigo para o jornal britânico "Financial Times" de ontem, usando linguagem futebolística (na Europa, os campeonatos de futebol são chamados de ligas).
O'Neill não sepulta os outros Brics na vala comum, até porque os argumentos teóricos para inventá-los continuam valendo e são lógicos: países de enorme território e população.
Mas uma coisa é ter potencial para atingir o topo do mundo e outra, bem diferente, é jogar o jogo (do crescimento econômico) como joga a China.
Outro executivo global, Samuel DiPiazza, executivo-chefe da PwC (PricewaterhouseCoopers), fez questão de lembrar ontem que a China continua sua curva ascendente, ao passo que os outros três Brics têm tido crescimento menor (ou, no caso do Brasil, pequeno, coisa que DiPiazza diplomaticamente evitou mencionar).

Pesquisa
Talvez por isso, o empresariado brasileiro, embora também surfe na onda de euforia que caracteriza seus colegas do resto do mundo, mostra menos confiança no crescimento dos ganhos das corporações do que há um ano, exatamente o contrário do que ocorre com o empresariado planetário e entre executivos dos chamados mercados emergentes.
É o que revela pesquisa, a 10ª de uma série, feita pela PricewaterhouseCoopers com 1.100 CEOs de 50 países, 139 deles na América Latina. O levantamento tem sido divulgado na véspera da abertura do Fórum Econômico Mundial, cuja clientela é formada pelos superexecutivos das grandes corporações.
No geral, a pesquisa deste ano revela nível recorde de otimismo a respeito do crescimento dos ganhos corporativos neste ano. Noventa por cento dos pesquisados manifestam expectativa risonha, o dobro do que acontecia faz apenas cinco anos. É um óbvio reflexo de uma seqüência de anos positivos para a economia global, sem as turbulências que a assolaram na década anterior.
O otimismo se estende além do horizonte dos próximos 12 meses, tanto no conjunto dos consultados como entre os brasileiros. São 93% os que dizem estar confiantes em que haverá crescimento das receitas nos três anos à frente. Deles, 52% são muito otimistas e, os restantes, um pouco otimistas.
Entre os brasileiros, 60% -mais que a média global, portanto- estão "muito confiantes" sobre os ganhos em 2007, ao passo que 57% esticam a confiança até o fim de 2009.
O que é curioso é que o pico de otimismo, entre brasileiros e latino-americanos em geral, não tenha sido fotografado na pesquisa divulgada ontem.
Trinta e três por cento dos brasileiros estão hoje menos confiantes sobre o crescimento das receitas na comparação com a pesquisa anterior.

PAC e Lula
O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) não chegou a tempo, como é óbvio, de influir nos resultados da pesquisa. Nem DiPiazza havia tido tempo de ouvir comentários dos CEOs a respeito.
De todo modo, é razoável supor que as promessas de investimento em infra-estrutura, um dos componentes do PAC, soem como música ao ouvido dos homens de negócio: 74% dos brasileiros consultados pela PwC estão muito preocupados com a inadequação da infra-estrutura básica. No resto do mundo, só 49% têm preocupação com essa carência.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na sua terceira participação no Fórum, chega amanhã e fala duas vezes na sexta-feira. É pouco provável que sua fala consiga mudar o placar no fictício campeonato dos Brics.


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