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China venceu jogo dos Brics, decreta inventor do termo
Jim O'Neill diz que país asiático está "em outra liga", acima de Brasil, Rússia e Índia
Na véspera da abertura do Fórum Econômico, pesquisa mostra brasileiros menos otimistas com economia do que executivos estrangeiros
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
Os inventores da sigla Bric
(de Brasil, Rússia, Índia e China, os países emergentes que
até 2020 estariam no topo do
mundo) admitem agora que o
campeonato interno entre eles
acabou. Ganhou, fácil, a China.
É o que escreve, com tato e
veladamente, Jim O'Neill, o
chefe de pesquisa econômica
global da portentosa empresa
norte-americana Goldman
Sachs, justamente criador e
criadora do acrônimo.
"A China está numa liga própria dentro dos Brics", compara O'Neill, em artigo para o jornal britânico "Financial Times"
de ontem, usando linguagem
futebolística (na Europa, os
campeonatos de futebol são
chamados de ligas).
O'Neill não sepulta os outros
Brics na vala comum, até porque os argumentos teóricos para inventá-los continuam valendo e são lógicos: países de
enorme território e população.
Mas uma coisa é ter potencial
para atingir o topo do mundo e
outra, bem diferente, é jogar o
jogo (do crescimento econômico) como joga a China.
Outro executivo global, Samuel DiPiazza, executivo-chefe da PwC (PricewaterhouseCoopers), fez questão de lembrar ontem que a China continua sua curva ascendente, ao
passo que os outros três Brics
têm tido crescimento menor
(ou, no caso do Brasil, pequeno,
coisa que DiPiazza diplomaticamente evitou mencionar).
Pesquisa
Talvez por isso, o empresariado brasileiro, embora também surfe na onda de euforia
que caracteriza seus colegas do
resto do mundo, mostra menos
confiança no crescimento dos
ganhos das corporações do que
há um ano, exatamente o contrário do que ocorre com o empresariado planetário e entre
executivos dos chamados mercados emergentes.
É o que revela pesquisa, a 10ª
de uma série, feita pela PricewaterhouseCoopers com 1.100
CEOs de 50 países, 139 deles na
América Latina. O levantamento tem sido divulgado na véspera da abertura do Fórum Econômico Mundial, cuja clientela
é formada pelos superexecutivos das grandes corporações.
No geral, a pesquisa deste
ano revela nível recorde de otimismo a respeito do crescimento dos ganhos corporativos
neste ano. Noventa por cento
dos pesquisados manifestam
expectativa risonha, o dobro do
que acontecia faz apenas cinco
anos. É um óbvio reflexo de
uma seqüência de anos positivos para a economia global,
sem as turbulências que a assolaram na década anterior.
O otimismo se estende além
do horizonte dos próximos 12
meses, tanto no conjunto dos
consultados como entre os brasileiros. São 93% os que dizem
estar confiantes em que haverá
crescimento das receitas nos
três anos à frente. Deles, 52%
são muito otimistas e, os restantes, um pouco otimistas.
Entre os brasileiros, 60%
-mais que a média global, portanto- estão "muito confiantes" sobre os ganhos em 2007,
ao passo que 57% esticam a
confiança até o fim de 2009.
O que é curioso é que o pico
de otimismo, entre brasileiros e
latino-americanos em geral,
não tenha sido fotografado na
pesquisa divulgada ontem.
Trinta e três por cento dos
brasileiros estão hoje menos
confiantes sobre o crescimento
das receitas na comparação
com a pesquisa anterior.
PAC e Lula
O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) não
chegou a tempo, como é óbvio,
de influir nos resultados da
pesquisa. Nem DiPiazza havia
tido tempo de ouvir comentários dos CEOs a respeito.
De todo modo, é razoável supor que as promessas de investimento em infra-estrutura,
um dos componentes do PAC,
soem como música ao ouvido
dos homens de negócio: 74%
dos brasileiros consultados pela PwC estão muito preocupados com a inadequação da infra-estrutura básica. No resto
do mundo, só 49% têm preocupação com essa carência.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na sua terceira participação no Fórum, chega amanhã e fala duas vezes na sexta-feira. É pouco provável que sua
fala consiga mudar o placar no
fictício campeonato dos Brics.
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