São Paulo, quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

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Lula pede governo coeso para eleições e duelo no Congresso

Em reunião do primeiro escalão do governo, presidente aponta "pré-disputa" para 2010

Petista reclama de falta de articulação entre os titulares da Esplanada e compara o encontro à Última Ceia de Jesus Cristo

KENNEDY ALENCAR
LETÍCIA SANDER
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Na primeira reunião ministerial de 2008, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a derrota de dezembro no Senado, na tentativa de prorrogar a CPMF, mostrou que a oposição já faz "pré-disputa" para as eleições de 2010. Em tom de reprimenda, pediu aos ministros mais entrosamento político para evitar novas derrotas no Congresso e enfrentar a oposição com sucesso nas eleições deste ano e de 2010.
No Salão Oval do Palácio do Planalto, Lula reuniu seus 37 ministros e comparou o encontro à Santa Ceia, a última refeição entre Cristo e os apóstolos. Com o objetivo de reforçar a importância da articulação política, o presidente disse: "Fico imaginando que muitas vezes ficamos cinco anos juntos, nos sentamos a esta mesa aqui, parece a Santa Ceia, todo mundo amigo, mas depois passamos um ano sem conversar. Penso que entre vocês existe pouca conversa política. Eu diria -há quase meses e meses que vocês não conversam entre si- que não trocam idéia".
O presidente ordenou aos ministros que dêem mais atenção aos pleitos de cargos e verbas dos aliados no Congresso. "Todo ministro tem de fazer política. É preciso ter base [maioria no Congresso]", disse, segundo relato de presentes.
A intenção de Lula é reforçar o papel do articulador político do governo, o ministro José Múcio (Relações Institucionais). Múcio sugeriu a criação de um órgão executivo para o Conselho Político (instância que reúne os presidentes dos 14 partidos aliados com representação no Congresso), para arbitrar disputas de cargos e verbas.
Lula também pediu união nas eleições de outubro entre os candidatos dos partidos que o apóiam. "É importante não agredir companheiros", disse o presidente. Segundo ele, desentendimentos nas eleições municipais poderão deixar seqüelas e impedir alianças em 2010, quando haverá disputa pela Presidência, governos estaduais, Câmara dos Deputados, Senado Federal e Legislativos estaduais. Lula afirmou que é "natural" a oposição querer que o governo chegue a 2010 "mais fraco" do que em 2006. "Três anos para quem está no governo passa rápido. Para a oposição, é uma eternidade. Vamos negociar o que der para negociar e fazer o enfrentamento quando for necessário."
Lula atribuiu à falta de boa articulação política do governo a derrota para PSDB e DEM na tentativa de prorrogar o imposto do cheque até 2011. "Nossa base [no Congresso] não pode deixar esse jogo prosperar."
Na terceira reunião ministerial do segundo mandato, que durou cinco horas e 20 minutos, Lula afirmou que a política é o "centro" da atividade de um governo. Ele tem duas preocupações centrais no Congresso, a curto prazo: aprovar o Orçamento e a medida provisória que aumenta a alíquota da CSLL. Mas há outros temas polêmicos de interesse do Planalto que podem ter dificuldade na aprovação no Congresso, entre elas a medida provisória que cria a TV Pública.
Em tratamento de combate a um câncer, o vice-presidente José Alencar foi de São Paulo a Brasília só para participar da reunião. Além dos ministros e do vice, dois parlamentares estavam presentes -os líderes do governo na Câmara, Henrique Fontana (PT-RS), e no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR).
Atrasado devido a uma visita de emergência ao dentista, o ministro Guido Mantega (Fazenda) foi substituído por Henrique Meirelles (Banco Central) numa avaliação sobre os efeitos da crise dos EUA sobre o Brasil.


Colaborou SHEILA D'AMORIM, da Sucursal de Brasília


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