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ENTREVISTA
EDISON LOBÃO FILHO
Suplente nega relação com laranja e diz que vai assumir vaga no Senado
Filho de Edison Lobão afirma que deixará o DEM porque "companheiros de partido não foram leais"
Empresário declara que não
recorreu a assinatura falsa
para transferir ações da
Bemar em 1998 e afirma que não é sócio da Itumar
HUDSON CORRÊA
DO ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS
O suplente de senador Edison Lobão Filho (DEM-MA)
afirmou ontem, em São Luís,
que não teve participação na
transferência de ações de sua
antiga empresa, a Bemar Distribuidora de Bebidas, para
uma laranja, empregada doméstica, com uso de assinatura
falsa em 1998.
Lobão Filho também afirmou que não é sócio da Itumar,
outra empresa de distribuição
de bebidas envolvidas com suposta sonegação fiscal. Disse
que apresentará documentos
ao Senado e ao DEM comprovando suas afirmações. Só depois passará os documentos
também à imprensa, afirmou.
Ele disse ainda que sairá do
DEM pelas críticas recebidas,
mas que "com certeza" assumirá a vaga de senador em substituição ao pai, Edison Lobão
(PMDB-MA), que assumiu o
Ministério de Minas e Energia.
Com os olhos lacrimejando,
Lobão Filho disse que as acusações prejudicaram principalmente seus filhos, uma moça de
20 anos e um rapaz de 14.
Abaixo os principais trechos
da entrevista.
FOLHA - Como o sr. viu as denúncias que saíram envolvendo seu nome na empresa Bemar?
EDISON LOBÃO FILHO - Eu me considero perseguido nessas duas
semanas que passaram. Injustiçado. Eu não assisti à entrevista do [empresário] Marco
Antonio [Costa, que disse ao
"Jornal Nacional" da TV Globo
anteontem ser ele, e não Lobão
Filho, o responsável pela transferência das ações a uma laranja], mas soube do teor. Uma coisa que aconteceu há dez anos
atrás foi usada para desestabilizar a posse do meu pai como
ministro do governo Lula.
FOLHA - O sr. acha que foi uma
questão política?
LOBÃO FILHO - Não. Eu diria a
você que aconteceram todos os
tipos de reportagem para desestabilizar essa nomeação. (...)
Eu tive a infelicidade de estar
fora do país. A infelicidade de o
sr. Marco Antonio, que poderia
ter dado as explicações em primeira mão, ter sofrido uma cirurgia no exterior e ter voltado
neste fim de semana.
FOLHA - O sr. estava onde?
LOBÃO FILHO - Eu estava de férias com a minha família no Estados Unidos, no Colorado.
Agora, essas matérias. Um fato
ocorrido há dez anos, em que
não tive nenhuma participação. Existe uma empresa chamada Itumar do qual nunca fui
sócio, de propriedade de Marco
Antonio e Marco Aurélio. A
empresa estava em nome da
mãe dele.
FOLHA - E a Bemar?
LOBÃO FILHO - Eles representavam a distribuição em São Luís
[feita pela Itumar]. Montei [em
1998] uma empresa chamada
Bemar para distribuir cerveja
no interior do Maranhão, onde
metade [das ações] era minha e
outra metade, da mulher de um
deles [Marco Antonio] e da sogra do outro [Marco Aurélio].
Passaram dois anos, não deu
certo. Eu decidi sair da empresa. Fizemos um acordo onde
eles assumiam todo o passivo e
o ativo da empresa.
FOLHA - Sua ex-sócia na Bemar,
Maria Luiza Almeida, mulher de
Marco Antonio, disse que a Bemar
foi criada como empresa de fachada
da Itumar.
LOBÃO FILHO - Você precisa colocá-la na conjuntura dela. É
uma mulher que configura no
contrato em litígio total com o
marido. Estou colocando para
você os fatos. Não vamos ao
achismo.
FOLHA - Ela declarou isso à Polícia
Civil.
LOBÃO FILHO - Vamos ao fato. Eu
disse [ao Marco Antonio]: você
assume tudo, fica com a empresa Bemar. É a operação [pela
qual] a imprensa fala que eu
passei para laranjas [ações da
Bemar] com assinatura falsa.
Mas a laranja era a empregada
dele [Marco Antonio] e não minha. E a outra [que recebeu as
ações] era sogra do irmão dele.
FOLHA - Mas e as assinaturas?
LOBÃO FILHO - A Maria Luiza era
então casada com ele [Marco
Antonio, em 1998]. Dois, três
anos depois se separam. Aí ela
toma a iniciativa vai à Polícia
Federal, vai não sei onde e diz
que a assinatura é falsa, a procuração é falsa. Opa! você me
fez assinar um contrato com assinatura falsa?
FOLHA - O sr. perguntou isso a Marco Antonio naquela época da acusação de Maria Luiza?
LOBÃO FILHO - Foi naquela época. Ele disse que não fui eu, foi
ela [Maria Luiza]. Não entro no
mérito de briga de marido e
mulher. Meu advogado preparou um documento, um contrato, onde ele [Marco Antonio]
assume todo o passivo fiscal,
trabalhista, criminal, civil em
relação à Bemar [por conta da
transferência a laranja].
FOLHA - Mas o sr. apresentou esse
documento, assinado por Marco Antonio, à Junta Comercial, à Receita
Federal?
LOBÃO FILHO - Não. O documento eu botei no meu cofre. Eles
pegaram todos os débitos, parcelaram a empresa [Bemar]
não deve nada hoje.
FOLHA - O sr. é um empresário.
Quando chega uma situação de
transferir cotas das empresas, o sr.
ou advogados não se preocuparam
em ver quem são essas pessoas?
LOBÃO FILHO - Isso é fácil de responder. Em primeiro lugar, o
Marco Aurélio e o Marco Antonio são meus amigos.
FOLHA - Ainda são?
LOBÃO FILHO - São. Em segundo
lugar, não há de passar na cabeça de ninguém -e não passaria
na sua- que alguém faria uma
assinatura falsa ou colocaria
uma empregada doméstica
junto com a sogra de um deles
[na sociedade de Bemar]. Foi
isso que me tranqüilizou.
FOLHA - E o Congresso?
LOBÃO FILHO - Não me sinto
confortável dentro do PFL
[atual DEM]. Acho que meus
companheiros de partido não
foram leais comigo. Estou há
20 anos no PFL [DEM]. Faço
parte do diretório estadual. Eu
esperava mais apoio, mais amizade e mais ajuda. Neste momento em que estava fragilizado. Eu estava fora do país. O
meu pai sob pressão e meu partido que deveria me dar apoio
não meu deu apoio. Acho que
não foi uma postura ética do
meu partido. Não posso ser
uma vaquinha de presépio. Ou
seja, os chefões do partido decidem como se vota e todo mundo é obrigado votar. Eu não teria o direito de achar que o governo está acertando e voltar a
favor.
FOLHA - Posso dizer que o sr. vai
sair do partido?
LOBÃO FILHO - Vou sair.
FOLHA - Vai para o PMDB?
LOBÃO FILHO - Não sei se vai ser
uma saída hostil ou amigável.
Se for amigável vou procurar
outro partido. Se for hostil, fico
sem partido.
FOLHA - É uma certeza que assume
a vaga no Senado.
LOBÃO FILHO - É uma certeza.
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