São Paulo, quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

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ENTREVISTA
EDISON LOBÃO FILHO


Suplente nega relação com laranja e diz que vai assumir vaga no Senado

Filho de Edison Lobão afirma que deixará o DEM porque "companheiros de partido não foram leais"

Empresário declara que não recorreu a assinatura falsa para transferir ações da Bemar em 1998 e afirma que não é sócio da Itumar

HUDSON CORRÊA
DO ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS

O suplente de senador Edison Lobão Filho (DEM-MA) afirmou ontem, em São Luís, que não teve participação na transferência de ações de sua antiga empresa, a Bemar Distribuidora de Bebidas, para uma laranja, empregada doméstica, com uso de assinatura falsa em 1998. Lobão Filho também afirmou que não é sócio da Itumar, outra empresa de distribuição de bebidas envolvidas com suposta sonegação fiscal. Disse que apresentará documentos ao Senado e ao DEM comprovando suas afirmações. Só depois passará os documentos também à imprensa, afirmou. Ele disse ainda que sairá do DEM pelas críticas recebidas, mas que "com certeza" assumirá a vaga de senador em substituição ao pai, Edison Lobão (PMDB-MA), que assumiu o Ministério de Minas e Energia. Com os olhos lacrimejando, Lobão Filho disse que as acusações prejudicaram principalmente seus filhos, uma moça de 20 anos e um rapaz de 14. Abaixo os principais trechos da entrevista.

 

FOLHA - Como o sr. viu as denúncias que saíram envolvendo seu nome na empresa Bemar?
EDISON LOBÃO FILHO -
Eu me considero perseguido nessas duas semanas que passaram. Injustiçado. Eu não assisti à entrevista do [empresário] Marco Antonio [Costa, que disse ao "Jornal Nacional" da TV Globo anteontem ser ele, e não Lobão Filho, o responsável pela transferência das ações a uma laranja], mas soube do teor. Uma coisa que aconteceu há dez anos atrás foi usada para desestabilizar a posse do meu pai como ministro do governo Lula.

FOLHA - O sr. acha que foi uma questão política?
LOBÃO FILHO -
Não. Eu diria a você que aconteceram todos os tipos de reportagem para desestabilizar essa nomeação. (...) Eu tive a infelicidade de estar fora do país. A infelicidade de o sr. Marco Antonio, que poderia ter dado as explicações em primeira mão, ter sofrido uma cirurgia no exterior e ter voltado neste fim de semana.

FOLHA - O sr. estava onde?
LOBÃO FILHO -
Eu estava de férias com a minha família no Estados Unidos, no Colorado. Agora, essas matérias. Um fato ocorrido há dez anos, em que não tive nenhuma participação. Existe uma empresa chamada Itumar do qual nunca fui sócio, de propriedade de Marco Antonio e Marco Aurélio. A empresa estava em nome da mãe dele.

FOLHA - E a Bemar?
LOBÃO FILHO -
Eles representavam a distribuição em São Luís [feita pela Itumar]. Montei [em 1998] uma empresa chamada Bemar para distribuir cerveja no interior do Maranhão, onde metade [das ações] era minha e outra metade, da mulher de um deles [Marco Antonio] e da sogra do outro [Marco Aurélio]. Passaram dois anos, não deu certo. Eu decidi sair da empresa. Fizemos um acordo onde eles assumiam todo o passivo e o ativo da empresa.

FOLHA - Sua ex-sócia na Bemar, Maria Luiza Almeida, mulher de Marco Antonio, disse que a Bemar foi criada como empresa de fachada da Itumar.
LOBÃO FILHO -
Você precisa colocá-la na conjuntura dela. É uma mulher que configura no contrato em litígio total com o marido. Estou colocando para você os fatos. Não vamos ao achismo.

FOLHA - Ela declarou isso à Polícia Civil.
LOBÃO FILHO -
Vamos ao fato. Eu disse [ao Marco Antonio]: você assume tudo, fica com a empresa Bemar. É a operação [pela qual] a imprensa fala que eu passei para laranjas [ações da Bemar] com assinatura falsa. Mas a laranja era a empregada dele [Marco Antonio] e não minha. E a outra [que recebeu as ações] era sogra do irmão dele.

FOLHA - Mas e as assinaturas?
LOBÃO FILHO -
A Maria Luiza era então casada com ele [Marco Antonio, em 1998]. Dois, três anos depois se separam. Aí ela toma a iniciativa vai à Polícia Federal, vai não sei onde e diz que a assinatura é falsa, a procuração é falsa. Opa! você me fez assinar um contrato com assinatura falsa?

FOLHA - O sr. perguntou isso a Marco Antonio naquela época da acusação de Maria Luiza?
LOBÃO FILHO -
Foi naquela época. Ele disse que não fui eu, foi ela [Maria Luiza]. Não entro no mérito de briga de marido e mulher. Meu advogado preparou um documento, um contrato, onde ele [Marco Antonio] assume todo o passivo fiscal, trabalhista, criminal, civil em relação à Bemar [por conta da transferência a laranja].

FOLHA - Mas o sr. apresentou esse documento, assinado por Marco Antonio, à Junta Comercial, à Receita Federal?
LOBÃO FILHO -
Não. O documento eu botei no meu cofre. Eles pegaram todos os débitos, parcelaram a empresa [Bemar] não deve nada hoje.

FOLHA - O sr. é um empresário. Quando chega uma situação de transferir cotas das empresas, o sr. ou advogados não se preocuparam em ver quem são essas pessoas?
LOBÃO FILHO -
Isso é fácil de responder. Em primeiro lugar, o Marco Aurélio e o Marco Antonio são meus amigos.

FOLHA - Ainda são?
LOBÃO FILHO -
São. Em segundo lugar, não há de passar na cabeça de ninguém -e não passaria na sua- que alguém faria uma assinatura falsa ou colocaria uma empregada doméstica junto com a sogra de um deles [na sociedade de Bemar]. Foi isso que me tranqüilizou.

FOLHA - E o Congresso?
LOBÃO FILHO -
Não me sinto confortável dentro do PFL [atual DEM]. Acho que meus companheiros de partido não foram leais comigo. Estou há 20 anos no PFL [DEM]. Faço parte do diretório estadual. Eu esperava mais apoio, mais amizade e mais ajuda. Neste momento em que estava fragilizado. Eu estava fora do país. O meu pai sob pressão e meu partido que deveria me dar apoio não meu deu apoio. Acho que não foi uma postura ética do meu partido. Não posso ser uma vaquinha de presépio. Ou seja, os chefões do partido decidem como se vota e todo mundo é obrigado votar. Eu não teria o direito de achar que o governo está acertando e voltar a favor.

FOLHA - Posso dizer que o sr. vai sair do partido?
LOBÃO FILHO -
Vou sair.

FOLHA - Vai para o PMDB?
LOBÃO FILHO -
Não sei se vai ser uma saída hostil ou amigável. Se for amigável vou procurar outro partido. Se for hostil, fico sem partido.

FOLHA - É uma certeza que assume a vaga no Senado.
LOBÃO FILHO -
É uma certeza.


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