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Gato recebeu R$ 20 do Bolsa Família em MS por cinco meses
Bicho de estimação foi cadastrado por seu dono, coordenador na Prefeitura de Antônio João do programa do governo federal
Fraude foi descoberta na visita de um agente de saúde à casa do suposto beneficiário; dono do animal pediu exoneração
RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE
Um gato de estimação fez
parte, durante cinco meses, da
lista de beneficiários do Bolsa
Família em Antônio João (300
km de Campo Grande), um dos
municípios mais pobres de Mato Grosso do Sul. O animal, chamado Billy, foi inscrito com nome, sobrenome e data de nascimento por seu dono, Eurico Siqueira da Rosa, coordenador
local do programa do governo.
Billy tinha número de identificação social, cartão magnético e vinha recebendo R$ 20
mensais do governo federal como complementação de renda.
A fraude foi descoberta durante a visita de um agente de
saúde à casa do suposto beneficiário, em novembro passado.
Recebido pela mulher do
coordenador, o agente quis saber por qual motivo a criança
Billy Flores da Rosa não havia
sido levada para fazer a medição e a pesagem, exigidas para
os cadastrados no programa.
A mulher estranhou a pergunta: "Mas o único Billy aqui é
o meu gatinho". O agente relatou o diálogo à prefeitura, que
abriu sindicância.
"Convocamos testemunhas e
exigimos que o coordenador
comprovasse a existência da
suposta criança que ele cadastrou", disse à Folha a secretária
de Assistência Social do município, Neuza Carrillo.
O processo de cadastramento das famílias é de responsabilidade do município. O coordenador, disse a secretária, é encarregado de receber e verificar
a documentação dos candidatos ao benefício. Ao final dessas
etapas, cabia a ele incluir os dados no sistema on-line do Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome.
"Os documentos não são remetidos a Brasília, somente as
informações. Ele se aproveitou
disso para criar um cadastro
inteiramente falso, com dados
como nome, peso e data de nascimento, e depois batizou a invenção com o nome do gato."
Ouvido ao final da sindicância, Rosa admitiu a fraude.
Funcionário municipal concursado desde 2006, ele foi
afastado em dezembro. Na semana passada, pediu exoneração do serviço público.
Para a secretária, o caso é
"absurdo, mas isolado". Ela defende a necessidade de alteração das normas de controle.
"Se houvesse um setor em Brasília encarregado de receber e
verificar a documentação, fraudes como essa se tornariam
mais difíceis do ocorrer."
A prefeitura decidiu recadastrar as 891 famílias que recebem o Bolsa Família na cidade.
Em Antônio João, causou comoção o rumor de que, por
conta da fraude, os pagamentos
seriam suspensos. "O único benefício bloqueado foi o do gato", disse Carrillo.
A Folha não conseguiu contato com o ex-coordenador.
Em nota, a secretária-executiva-adjunta da pasta de Desenvolvimento Social, Rosilene
Rocha, disse que o caso "mostra o esforço que nós estamos
fazendo para auditar o cadastro, fazer cruzamento de dados
e checar os beneficiários".
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