São Paulo, domingo, 24 de janeiro de 1999

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PAINEL
Mais uma aposta

FHC se reuniu com Malan (Fazenda) anteontem à noite. O ministro crê que o dólar se estabilizará em algo entre R$ 1,50 e R$ 1,55, mas que a instabilidade durará semanas. Concluíram que esta semana será tão difícil quanto a passada, pois o mercado estaria testando a disposição do Banco Central de bancar a livre flutuação da taxa de câmbio.

Aparentemente calmo

Na conversa de anteontem à noite, o presidente fez questão de tranquilizar Malan, que está sob fogo cerrado do Congresso.

Tem certa razão

De um ministro e amigo de FHC, sobre os líderes governistas estarem cobrando da equipe econômica soluções para a crise: "O governo não pode ficar ouvindo a palavra do Geddel (Vieira Lima, líder do PMDB)".

Vem quente

ACM (PFL-BA) só espera o dia 2 de fevereiro, quando deve ser reeleito presidente do Senado, para voltar a ter uma atuação mais incisiva em relação ao governo. Especialmente na condução da política econômica.

Uvas ainda verdes

De José Serra (Saúde), sobre a possibilidade de ir para a Fazenda: "É folclore paulista".

Canoa furada

Caciques do PMDB, do PPB e do PFL estão espantados com a velocidade com que se sucedem fatos negativos para a economia. Temem uma rápida queda, nas pesquisas, da popularidade do governo que estão apoiando.

Guerra declarada

A lua de mel de Malan (Fazenda) com o PFL acabou na tumultuada nomeação de Emílio Carazzai para a presidência da Caixa. O troco deve vir no futuro, provavelmente com uma tentativa de retomada da diretoria do fundo de pensão da estatal -nomeada totalmente pelo ministro.

Jogo pesado

Pode sair pela culatra o fato de a Fazenda ter informado os organismos internacionais sobre o risco de inadimplência de MG e de RS."É o avalista do empréstimo dizendo ao credor que o devedor pode não pagar", afirma quem transita nas instituições.

Ficção parlamentar

Como ninguém no Congresso acredita no imposto verde, houve muita confusão na comissão de Orçamento: ninguém queria vincular suas emendas ao tributo. A saída foi a criação de um grupo para dividir o prejuízo igualmente entre as bancadas.

Distensão federativa

O Ministério da Fazenda estuda mudanças na Lei Kandir. "Aperfeiçoamentos", como dizem os técnicos, para aumentar os repasses aos Estados, que alegam situação de penúria. Ano passado, essas transferências ficaram em torno dos R$ 2 bi.

Jóia na berlinda

Avalia-se no Planalto que a Petrobrás não está pronta para ser vendida, idéia que ressurgiu com força no rastro da crise. Um tucano de primeira linha diz que seria preciso mais do que um período de governo para sanear a empresa. O que não será feito sob a regência de Joel Rennó.

Marcha lenta

O lobby das concessionárias de estradas no Congresso, que tem boa relação com Eliseu Padilha (Transportes), é eficiente. Apesar de estar na pauta da convocação extraordinária, não anda o projeto que as obriga a recolher o ISS sobre o valor dos pedágios.

Clima tenso

Sem interlocução com o MST desde que Milton Seligman deixou a presidência do Incra, Raul Jungmann (Política Fundiária) pediu socorro à associação dos funcionários do instituto para tentar estabelecer um novo canal de diálogo com o movimento.

Herói vermelho

Itamar Franco (MG) conseguiu o impossível: uniu em torno de si todas as facções do PT, inclusive a esquerda do partido, que detonou a aliança com o peemedebista na eleição, e o PSTU, partido de esquerda mais radical do país.

Caindo da cama

O PMDB, que reclamava mas perdeu a Sudene para o PFL, chutou alto: formalizou junto a FHC o nome de Moreira Franco (RJ) para presidir a Petrobrás.

TIROTEIO

Do ator e diretor de teatro Cacá Rosset, sobre o governador Itamar Franco (PMDB), que declarou moratória em relação à dívida de Minas com a União:
- Itamar pode parecer tolo, pode falar com um tolo, agir como um tolo, mas é bom que todos saibam: ele é um tolo.
CONTRAPONTO
Humor brasiliense

Uma história contada por um subordinado de Pedro Malan (Fazenda) talvez seja o melhor termômetro do clima atualmente vivido pela equipe econômica.
Prestes a assumir cargo do primeiro escalão, um funcionário foi pedir conselhos ao seu antecessor. Este se limitou a lhe entregar três envelopes.
- Abra um sempre que a situação ficar ruim - disse.
Passado algum tempo, as coisas ficaram difíceis, e o funcionário abriu o primeiro envelope. Dizia: "Culpe o antecessor".
Foi o que o funcionário fez, mas não adiantou. Pouco tempo depois, a situação se agravou, e ele abriu o segundo envelope. Dizia: "Culpe os auxiliares".
O funcionário ganhou algum fôlego, mas o quadro voltou a piorar. Ele abriu o terceiro envelope: "Deixe o cargo e escreva três cartas para o sucessor".
Comentário do auxiliar de Malan:
- Nós estamos no segundo envelope.



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