São Paulo, domingo, 24 de janeiro de 1999

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QUESTÃO AGRÁRIA
Dissidências no movimento mudam perfil dos integrantes do grupo, que quer atrair profissionais liberais
MST tenta substituir líderes no Pontal

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
em Presidente Prudente

A sucessão de prisões, processos na Justiça e intrigas internas afastaram grande parte dos líderes das invasões que transformaram o Pontal do Paranapanema (extremo-oeste de São Paulo) em símbolo da atividade do MST.
As dissidências na liderança do movimento no Pontal também mudaram o perfil dos novos quadros do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que hoje organiza mais assentados do que famílias acampadas no Pontal.
Aos poucos, o MST tenta incorporar advogados, agrônomos e administradores para dar retaguarda à Cocamp (cooperativa no Pontal).
O afastamento dos líderes deixou traumas no relacionamento com os antigos "companheiros", como se tratam os sem-terra que realizaram juntos dezenas de invasões e enfrentamentos com seguranças de fazendeiros desde 1991.
Cinco dos líderes históricos foram expulsos da cúpula do movimento, lista que inclui até Walter Gomes, antes tido como sucessor de José Rainha Júnior, principal dirigente do MST no Pontal.
O processo é aberto durante as reuniões da coordenação regional. Se a denúncia é aceita, o MST forma uma comissão de sindicância, que pode "cassar" o militante.
As baixas recentes foram Márcio Barreto, Walter Gomes e Claudemir Marques Cano, o "Cláudio Cano", todos próximos a Rainha.
Juntos, eles comandaram 2.500 sem-terra que, em outubro de 95, invadiram a fazenda São Domingos, em Sandovalina (SP). Barreto e a Diolinda Alves de Sousa, 28, mulher de Rainha, ficaram 18 dias presos no Carandiru (SP).
Cano foi um dos mentores da fuga de Rainha, que também estava com prisão decretada. Nesse período, de outubro de 95 a março de 96, Walter Gomes assumiu a dianteira na organização.
Gomes, 35, afastado sob a acusação de participar de um esquema de extorsão contra um fazendeiro, diz ter sido "vítima de uma cilada", já que estava questionando a direção do movimento no Pontal.
A alternativa à saída da coordenação estadual, segundo ele, seria uma transferência compulsória para a Bahia. Ele estuda hoje se dedicar ao comércio de importados no Pontal como camelô.
Márcio Barreto, que até abandonou o lote que recebeu no assentamento Santa Clara, afirma não saber a razão de ter sido expulso. Totalmente afastado de movimentos de sem-terra, ainda não sabe o que fará profissionalmente.
Laércio Barbosa, Germano Floretino Pereira, o "Xuxa", e João Mendes Barreto também estão na lista. Xuxa se transformou em pequeno produtor rural e também se afastou dos movimentos. Barreto virou contador em Tarabai (SP).
Os ex-líderes apontam que, hoje, todo o poder da organização no Pontal está concentrado em Rainha e seu grupo mais próximo.
"Me chamam de centralizador, mas quem fala isso não enxerga que muito mais gente trabalha em silêncio", afiram Rainha.
Segundo ele, que no início se negava a admitir as expulsões, as decisões foram tomadas pela coordenação regional e estão amparadas. Assim, encerrou o assunto.
Diolinda evita falar das expulsões, que prefere tratar como alternância natural de militância.



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