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QUESTÃO AGRÁRIA
Dissidências no movimento mudam perfil dos integrantes do grupo, que quer atrair profissionais liberais
MST tenta substituir líderes no Pontal
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
em Presidente Prudente
A sucessão de prisões, processos
na Justiça e intrigas internas afastaram grande parte dos líderes das
invasões que transformaram o
Pontal do Paranapanema (extremo-oeste de São Paulo) em símbolo da atividade do MST.
As dissidências na liderança do
movimento no Pontal também
mudaram o perfil dos novos quadros do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), que
hoje organiza mais assentados do
que famílias acampadas no Pontal.
Aos poucos, o MST tenta incorporar advogados, agrônomos e administradores para dar retaguarda
à Cocamp (cooperativa no Pontal).
O afastamento dos líderes deixou
traumas no relacionamento com
os antigos "companheiros", como
se tratam os sem-terra que realizaram juntos dezenas de invasões e
enfrentamentos com seguranças
de fazendeiros desde 1991.
Cinco dos líderes históricos foram expulsos da cúpula do movimento, lista que inclui até Walter
Gomes, antes tido como sucessor
de José Rainha Júnior, principal
dirigente do MST no Pontal.
O processo é aberto durante as
reuniões da coordenação regional.
Se a denúncia é aceita, o MST forma uma comissão de sindicância,
que pode "cassar" o militante.
As baixas recentes foram Márcio
Barreto, Walter Gomes e Claudemir Marques Cano, o "Cláudio Cano", todos próximos a Rainha.
Juntos, eles comandaram 2.500
sem-terra que, em outubro de 95,
invadiram a fazenda São Domingos, em Sandovalina (SP). Barreto
e a Diolinda Alves de Sousa, 28,
mulher de Rainha, ficaram 18 dias
presos no Carandiru (SP).
Cano foi um dos mentores da fuga de Rainha, que também estava
com prisão decretada. Nesse período, de outubro de 95 a março de
96, Walter Gomes assumiu a dianteira na organização.
Gomes, 35, afastado sob a acusação de participar de um esquema
de extorsão contra um fazendeiro,
diz ter sido "vítima de uma cilada",
já que estava questionando a direção do movimento no Pontal.
A alternativa à saída da coordenação estadual, segundo ele, seria
uma transferência compulsória
para a Bahia. Ele estuda hoje se dedicar ao comércio de importados
no Pontal como camelô.
Márcio Barreto, que até abandonou o lote que recebeu no assentamento Santa Clara, afirma não saber a razão de ter sido expulso. Totalmente afastado de movimentos
de sem-terra, ainda não sabe o que
fará profissionalmente.
Laércio Barbosa, Germano Floretino Pereira, o "Xuxa", e João
Mendes Barreto também estão na
lista. Xuxa se transformou em pequeno produtor rural e também se
afastou dos movimentos. Barreto
virou contador em Tarabai (SP).
Os ex-líderes apontam que, hoje,
todo o poder da organização no
Pontal está concentrado em Rainha e seu grupo mais próximo.
"Me chamam de centralizador,
mas quem fala isso não enxerga
que muito mais gente trabalha em
silêncio", afiram Rainha.
Segundo ele, que no início se negava a admitir as expulsões, as decisões foram tomadas pela coordenação regional e estão amparadas.
Assim, encerrou o assunto.
Diolinda evita falar das expulsões, que prefere tratar como alternância natural de militância.
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