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JANIO DE FREITAS
O risco da hora
Querer ganhar não é, necessariamente, o mesmo que não
querer perder. Foi observando
Ayrton Senna que compreendi a
diferença. Mais do que agressividade, esperável em pilotos de corridas (o manso Barrichello é exceção), era com ferocidade que Senna se lançava para bater o adversário à sua frente. Certo dia, a
meio de uma entrevista, liberou
com forte tensão, e sem muito
propósito, esta frase sobre a conduta tão exasperada: "Eu não
consigo admitir que alguém esteja na minha frente".
Luiz Inácio Lula da Silva e José
Dirceu, presidente do PT, nada
têm em comum com a psicologia
de Senna. Mas o risco imenso que
assumiram, dando como fato
consumado e indiscutível que Lula se candidate pela quarta vez,
há de fazer com que a sombra de
uma derrota possível tenha, para
ambos, um peso perturbador.
Não perder ganha um significado
diferente e maior que o de vencer.
Pode ser, mas não parece, que
apenas por coincidência Lula e
Dirceu começassem a investir
tanto em aliança com o PL, à
margem e acima de decisão partidária, quando se tornaram persistentes as indicações de que Roseana Sarney e Anthony Garotinho ascendem e Lula mantém-se
estacionado ou perde alguma coisa. A protelação para tratar da escolha do vice indica que a idéia de
alguma aliança já era considerada, mas não chega nem a sugerir
que aliança não fosse na ainda
chamada esquerda.
As (breves) considerações de
Lula sobre a falta de condições do
PT para vencer sozinho, da qual
concluiu pela renúncia à candidatura se o partido não aceitar a
aliança com o PL, dribla a questão verdadeira e mais séria. O que
se vê em grande parte do petismo
não é rejeição a aliança, mas rejeição à aliança com o PL.
A entrega da vice ao senador José Alencar seria a união a alguém
que se mostra uma novidade interessante na política, pela tradução para a vida pública das suas
idéias e realizações avançadas como empresário, mas, infelizmente
para o PT, isso não é tudo: a
aliança não se faz com o candidato a vice, é com o partido. E, embora o PL se declare de oposição e
assim aja com frequência, sem renegar de todo a linha que lhe deixou o falecido deputado Álvaro
Valle, são concepções muito conservadoras que o orientam, incompatíveis com o PT.
Não foi preciso muito tempo para ficar demonstrado, pela recusa
do governo Fernando Henrique a
políticas de inclusão social, que a
aliança do PSDB com o conservadorismo do PFL fazia e faz todo
sentido. A haver, porém, a aliança PT/PL, seria o caso de saber
qual dois mudou. Porque, sem
mudança, estaria havendo apenas utilitarismo momentâneo -
impróprio da idéia que o PT difundiu de si - e tendente, na
eventualidade do poder, ao divórcio conflituoso.
Comando
As forças militares dos Estados
Unidos mandadas há meses para
a Colômbia e o Equador tornavam-se inúteis no quadro de trégua e negociação entre o governo
colombiano e a guerrilha, que detém território semelhante ao da
Suíça.
As pessoas de muito boa fé, mas
só se for muita mesmo, podem
acreditar que foi o presidente colombiano Andrés Pastrana o autor, depois de quase quatro anos
de negociações para pacificar a
Colômbia, que aproveitou o tolo
sequestro de um senador para
instaurar a guerra dentro do seu
país.
Carona
Manchete de uma página de
economia do "Globo": "Pesquisa
mostra que o lucro de 15 bancos
cresceu 53% entre 2000 e 2001".
E os seus salários ou os seus vencimentos de funcionário, a sua
aposentadoria, as deduções do
imposto de renda que lhe é tomado a cada mês - você já fez as
contas para ver quando cresceram por ação, também, do governo Fernando Henrique/Pedro
Malan?
Atestado
Em matéria de gafe, Fernando
Henrique não está mais com tudo. Barjas Negri, pelo visto, chegou para ficar. Frase sua na posse
como novo ministro da Saúde,
depois de trabalhar com José Serra como secretário-executivo do
ministério:
"Declaramos guerra à dengue A
PARTIR DE AGORA. Isso COMEÇA NO DIA DE HOJE e só pára quando acabar a dengue."
Não podia ser mais corrosivo
para a candidatura de Serra. Encerrou qualquer discussão sobre
responsabilidade pelo que a dengue fez e o ministério não fez até
agora.
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