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PF flagra deputados de AL exigindo "dinheiro roubado"
Grampos autorizados pela Justiça em telefonemas de parlamentares revelam corrupção
Esquema de desvio de recursos de Assembléia foi deflagrado em Operação Taturana da PF; "quero meu dinheiro", diz ex-deputado
SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MACEIÓ
Gravações telefônicas feitas
pela Polícia Federal com autorização da Justiça mostram deputados e ex-deputados estaduais de Alagoas cobrando o recebimento de parcelas de um
suposto esquema criminoso
que desviou cerca de
R$ 280 milhões da Assembléia
Legislativa e da União e durou
de 2001 até o ano passado.
As gravações, feitas em março e abril de 2007, fazem parte
do inquérito da PF que resultou
na Operação Taturana, de dezembro do ano passado, na qual
41 pessoas foram presas e dez
deputados estaduais alagoanos
-entre eles o presidente da Assembléia, Antônio Albuquerque (DEM), apontado como líder do esquema- foram indiciados sob suspeita de desvio de
dinheiro público.
Em uma das gravações obtidas pela Folha, o ex-deputado
Gilberto Gonçalves (PMN) liga
para o então diretor de recursos humanos da Assembléia,
Roberto Menezes, e cobra dele
o recebimento de dinheiro.
"Eu quero meu dinheiro. E
não venha com desconto de
INSS, não, porque isso é dinheiro roubado", diz o ex-deputado. "É melhor você me dar
do que sair tudo [todo mundo]
algemado dessa porra."
Segundo a PF, Gonçalves
continuou a se beneficiar do
suposto esquema de desvio
mesmo com o fim de seu mandato, em fevereiro de 2007.
Em outra gravação, o empresário Marcelo José Martins
Santos Filho, o Marcelinho, sócio de várias concessionárias
em Maceió, fala com o deputado Nelito Gomes de Barros
(PMN) sobre possível acerto
com Albuquerque para a compra de três Ford Fusion -que,
segundo a investigação, seriam
pagos com dinheiro da Assembléia. Cada unidade do carro
custa em torno de R$ 80 mil.
Marcelinho, segundo a PF,
está no topo da organização
criminosa -junto com os deputados da Mesa Diretora.
O Fusion de Barros está entre os carros e camionetes de
luxo apreendidos por determinação da Justiça Federal e que
estão amontoados no pátio da
Polícia Federal em Maceió.
Em outra gravação, assessora parlamentar apontada pela
PF como laranja de Albuquerque reclama com o diretor de
RH que pessoas ligadas ao presidente da Assembléia não "receberam". "Uma irmã dele recebeu; outra, não", diz.
As irmãs de Albuquerque estariam incluídas na folha de pagamento da Assembléia sob o
código 108. Inspeção feita pela
OAB (Ordem dos Advogados
do Brasil) de Alagoas na Assembléia, concluída há duas semanas, indicou que a maioria
dos 128 servidores da "folha
108" recebia salário sem ter sido nomeada para nenhum cargo. Segundo a PF, a "folha 108"
era composta por familiares e
laranjas dos deputados investigados e era modificada mês a
mês para atender aos interesses da organização criminosa.
"[Os deputados da Mesa Diretora] inseriam funcionários
fantasmas na folha, pessoas
que nem sabiam que o CPF delas estava na Assembléia", disse
o superintendente da PF em
Alagoas, José Pinto de Luna.
Segundo ele, já há provas robustas da existência do esquema e do envolvimento dos parlamentares.
As gravações apontam que o
esquema funcionava com a
apropriação, pelos deputados,
das verbas de gabinete, gratificações dos comissionados, retenção de salários e inserção de
servidores fantasmas na folha.
Havia ainda, diz a PF, esquema
de fraude à Receita, via Imposto de Renda.
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