São Paulo, domingo, 24 de fevereiro de 2008

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"Pagadores" de Lula dizem viver sob tensão

Funcionários que cuidam de compras do presidente gastaram R$ 3,86 milhões com cartões corporativos

SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Preocupados com a exposição a que serão submetidos com a CPI dos Cartões Corporativos, instalada na quinta-feira pelo Congresso, os funcionários da Presidência da República autorizados a usar cartões corporativos para compras diretamente relacionadas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus familiares estão reclusos e atormentados.
Os ecônomos (nome técnico dado a esses funcionários) do Planalto foram orientados a não dar entrevistas desde a divulgação, no início do mês, de seus nomes e do total de gastos feitos -segundo eles, todos por determinação da Presidência.
Pressionados, se queixam de estarem sendo tratados como bandidos. Um deles, que está há quatro anos na função, reclamou que teve de tirar uma semana de férias e que não tem conseguido dormir à noite por causa das suposições de que desviou dinheiro público.
Na semana passada, um grupo de ecônomos do Presidência fez uma reunião para discutir como agir durante a CPI. Eles temem perder o cargo de confiança que ocupam se falarem sobre as despesas sem ter autorização do governo.
"Precisamos definir uma estratégia. Se falarmos, poderemos estar sujeitos até a problemas jurídicos. Mas vai chegar a hora em que não teremos saída", disse um deles, que conversou com a Folha sob a condição de anonimato.
Ligados à Secretaria da Administração da Casa Civil, dez ecônomos são responsáveis pelas compras da família do presidente Lula e gastaram de janeiro a dezembro de 2007 nos cartões corporativos o valor de R$ 3,86 milhões, entre saques e compras a crédito.
O detalhamento dos gastos e os nomes dos responsáveis pelas compras e saques foram retirados do Portal da Transparência pela Presidência há 15 dias, segundo o governo, por "questão de segurança".
Pouco conhecidos dos funcionários habituados a circular pelo Palácio do Planalto e de parlamentares que freqüentemente viajam com o presidente Lula, os ecônomos são servidores reservados e acostumados com o anonimato.
Ainda assim, tiveram que mudar a rotina para tentar escapar de perguntas e do assédio da imprensa. Mesmo desconhecidos do público, têm evitado atividades prosaicas do dia a dia, como fazer caminhadas.
Eles se negam a falar sobre os produtos e serviços comprados com o cartão corporativo, justificando que lhes é exigido sigilo absoluto sobre os gastos presidenciais.
Os dez ecônomos são funcionários de carreira de diferentes órgãos da administração pública e foram cedidos para a Presidência da República.
A Casa Civil não divulga o salário desses funcionário. É sabido que, além da remuneração fixa, eles ganham uma gratificação que corresponde a 60% pela função de confiança, adicional que varia de R$ 1.977,31 a R$ 6.396,04.
Esta não é a primeira vez que os ecônomos se tornam alvo de suspeita pelas compras feitas no cartão corporativo.
Em setembro de 2006, durante um comício de Lula à reeleição, em Jacareí (SP), o ecônomo Mauro Augusto da Silva utilizou o cartão para pagar despesas de alimentação de acompanhantes do presidente, no valor total de R$ 2.300,00.
Em dezembro de 2007, o TCU (Tribunal de Contas da União) analisou representação da Procuradoria Regional Eleitoral para investigar suposta distribuição dos lanches a militantes. Segundo o TCU, não houve irregularidades no uso do cartão pelo ecônomo, pois os lanches foram comprados para os seguranças de Lula, o que não é proibido.


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