|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
QUESTÃO AGRÁRIA
Grupos como o MLT e o MLST disputam liderança de sem-terra em regiões como o sudeste do PA
Rivais ameaçam a hegemonia do MST
BERNARDINO FURTADO
da Reportagem Local
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra)
começa a ter a
hegemonia
ameaçada em
regiões com larga tradição de conflito de terras. A novidade é o perfil dos concorrentes, não mais sindicatos, federações de trabalhadores rurais ou grupos isolados de
sem-terra controlados por políticos locais.
Os novos rivais são o MLT (Movimento de Luta pela Terra) e o
MLST (Movimento de Libertação
dos Sem-Terra), grupos de esquerda organizados em vários Estados, com uma coordenação central, símbolos próprios e um discurso recheado de críticas e de rivalidade com o MST.
O episódio mais recente dessa
disputa foi a invasão, na quarta-feira passada, de uma fazenda
nas imediações de Curionópolis
(PA) por sem-terra liderados pelo
MLT. Segundo Lourival Gusmão,
um ex-agrônomo do Incra que se
tornou coordenador nacional do
MLT, a invasão foi a primeira de
uma série que o movimento pretende fazer no sudeste do Pará.
Para isso, o MLT montou escritório com fax e telefone em Curionópolis e deslocou para lá seus líderes mais experientes, como
Gusmão, que atuava na Bahia.
Se o MLT cumprir a promessa,
estará se enraizando numa região
vital para o MST. Lá foram assentadas aproximadamente 15%
(12.320) das 80 mil famílias que o
governo Fernando Henrique Cardoso afirma ter assentado em 97.
Além disso, o sudeste paraense
foi palco de um episódio trágico
que acabou fortalecendo politicamente o MST: o massacre de 19
trabalhadores sem-terra em Eldorado de Carajás, em 17 de abril de
96 pela Polícia Militar do Estado.
Segundo Gusmão, 1.200 trabalhadores sem terra participaram
da invasão de quarta-feira marchando com bandeiras do MLT de
uma praça de Curionópolis até a
fazenda de 2.000 hectares, de propriedade do prefeito local, Osmar
Ribeiro (PMN). A Folha não conseguiu falar com Ribeiro. Segundo
funcionários da prefeitura, o prefeito estava viajando e só voltaria
depois do Carnaval.
"Boa parte dos sem-terra que
participaram da invasão conosco
eram do MST e presenciaram o
massacre de Eldorado de Carajás.
Eles estão desiludidos com o
MST", disse Gusmão.
"Estamos ocupando o espaço
aberto pelo fracasso político do
MST na organização de assentamentos, especialmente no sul da
Bahia", afirma Edson Pimenta,
coordenador nacional do MLT e
presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura da Bahia. Segundo Pimenta, o MLT está
organizado e ativo também em
Sergipe.
Pimenta diz que, apesar de ter
chegado depois que o MST no sul
da Bahia, o MLT já tem hegemonia
na região. Segundo ele, o MLT fez
oito invasões de terra em 98 na região, controla 56 assentamentos e
tem nove equipes de assistência
técnica aos assentados pagas pelo
projeto Lumiar, do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
"É mais que o MST tem na região, com certeza", diz.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|