São Paulo, terça, 24 de fevereiro de 1998

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QUESTÃO AGRÁRIA
Grupos como o MLT e o MLST disputam liderança de sem-terra em regiões como o sudeste do PA
Rivais ameaçam a hegemonia do MST

BERNARDINO FURTADO
da Reportagem Local


O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) começa a ter a hegemonia ameaçada em regiões com larga tradição de conflito de terras. A novidade é o perfil dos concorrentes, não mais sindicatos, federações de trabalhadores rurais ou grupos isolados de sem-terra controlados por políticos locais.
Os novos rivais são o MLT (Movimento de Luta pela Terra) e o MLST (Movimento de Libertação dos Sem-Terra), grupos de esquerda organizados em vários Estados, com uma coordenação central, símbolos próprios e um discurso recheado de críticas e de rivalidade com o MST.
O episódio mais recente dessa disputa foi a invasão, na quarta-feira passada, de uma fazenda nas imediações de Curionópolis (PA) por sem-terra liderados pelo MLT. Segundo Lourival Gusmão, um ex-agrônomo do Incra que se tornou coordenador nacional do MLT, a invasão foi a primeira de uma série que o movimento pretende fazer no sudeste do Pará.
Para isso, o MLT montou escritório com fax e telefone em Curionópolis e deslocou para lá seus líderes mais experientes, como Gusmão, que atuava na Bahia.
Se o MLT cumprir a promessa, estará se enraizando numa região vital para o MST. Lá foram assentadas aproximadamente 15% (12.320) das 80 mil famílias que o governo Fernando Henrique Cardoso afirma ter assentado em 97.
Além disso, o sudeste paraense foi palco de um episódio trágico que acabou fortalecendo politicamente o MST: o massacre de 19 trabalhadores sem-terra em Eldorado de Carajás, em 17 de abril de 96 pela Polícia Militar do Estado.
Segundo Gusmão, 1.200 trabalhadores sem terra participaram da invasão de quarta-feira marchando com bandeiras do MLT de uma praça de Curionópolis até a fazenda de 2.000 hectares, de propriedade do prefeito local, Osmar Ribeiro (PMN). A Folha não conseguiu falar com Ribeiro. Segundo funcionários da prefeitura, o prefeito estava viajando e só voltaria depois do Carnaval.
"Boa parte dos sem-terra que participaram da invasão conosco eram do MST e presenciaram o massacre de Eldorado de Carajás. Eles estão desiludidos com o MST", disse Gusmão.
"Estamos ocupando o espaço aberto pelo fracasso político do MST na organização de assentamentos, especialmente no sul da Bahia", afirma Edson Pimenta, coordenador nacional do MLT e presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura da Bahia. Segundo Pimenta, o MLT está organizado e ativo também em Sergipe.
Pimenta diz que, apesar de ter chegado depois que o MST no sul da Bahia, o MLT já tem hegemonia na região. Segundo ele, o MLT fez oito invasões de terra em 98 na região, controla 56 assentamentos e tem nove equipes de assistência técnica aos assentados pagas pelo projeto Lumiar, do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária).
"É mais que o MST tem na região, com certeza", diz.



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