São Paulo, quarta-feira, 24 de março de 2004

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SOMBRA NO PLANALTO

Sindicância do governo vê "indícios veementes" de irregularidade de Waldomiro Diniz quando era assessor da Presidência e propõe ação judicial

Comissão aponta improbidade de ex-assessor

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O relatório da comissão de sindicância do Palácio do Planalto, apontando "indícios veementes" de improbidade administrativa, propôs uma ação judicial contra Waldomiro Diniz por sua "evidente" atuação para favorecer o empresário de jogos Carlos Augusto Ramos e o "pretenso consultor" Rogério Buratti nas negociações da Caixa Econômica Federal com a GTech do Brasil.
Responsável pela indicação de Waldomiro a subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência em janeiro de 2003, o ministro José Dirceu (Casa Civil) não foi citado no documento nem sequer intimado a depor pela comissão. O documento ainda pede punição à chefe-de-gabinete da subchefia.
Segundo a comissão, Waldomiro, dizendo-se representante do governo, se reuniu entre janeiro de 2003 e fevereiro passado ao menos em três oportunidades com representantes da GTech quando se discutia a renovação do contrato da empresa com a Caixa. Sobre isso, a comissão fala em "indícios bastante fortes".
A sugestão de ação por improbidade (desvio de conduta do servidor ou agente público no cargo) tem outras causas. Segundo a comissão, Waldomiro agiu como intermediário do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação na doação de cerca de mil livros a bibliotecas públicas. Os livros, porém, não foram repassados.
De acordo com a comissão, Waldomiro determinou que um servidor público da Casa Civil fosse, durante o expediente, motorista de seu carro particular. Ouvido pela comissão, o servidor Roberto Costa do Amaral admitiu o fato.
Por meio de ofícios, também solicitou atendimento médico a terceiros no Hospital Sarah Kubitschek. "Não se afigura legítimo a um agente público, em exercício na Presidência, intermediar, valendo-se do cargo, tratamento diferenciado para outrem em entidades privadas", diz o relatório.
Formada pelo sociólogo Amarildo Baesso (Secretaria de Direitos Humanos) e os advogados Edmar Fernandes de Oliveira (Advocacia Geral) e Fernando Luiz Albuquerque de Farias (Subchefia de Assuntos Jurídicos da Casa Civil), a comissão foi criada em 19 de fevereiro para investigar os atos de Waldomiro no governo.
A comissão pediu a abertura de um procedimento para investigar as ações da chefe-de-gabinete da subchefia de Waldomiro, Ana Cristina Moraes Moreira Sena. A comissão verificou que o caderno no qual as secretárias do ex-assessor anotavam suas ligações telefônicas efetuadas e recebidas no gabinete foram entregues por Ana Cristina à mulher de Waldomiro.
A comissão sugeriu ao ministro Aldo Rebelo (Coordenação Política) a instauração de processo administrativo para apuração dos fatos relacionados a Ana Cristina.
Quanto a Waldomiro, o mesmo método não pode ser adotado, pois ele era ocupante de CNE (Cargo de Natureza Especial), e não um servidor público. Assim, sua exoneração a pedido não pode ser convertida em destituição de cargo em comissão. Apesar disso, a comissão diz que tal impossibilidade "não afasta o direito-dever de a administração apurar quaisquer irregularidades".
Waldomiro, foco da investigação, era homem de confiança de Dirceu até 13 de fevereiro, quando pediu exoneração após divulgação de uma fita de vídeo que o mostra pedindo propina e doações de campanha ao empresário Carlos Augusto Ramos. A gravação é de 2002, época em que Waldomiro presidia a Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro) no governo Benedita da Silva (PT).
Em 30 dias, a comissão fez 21 reuniões e ouviu 24 pessoas (17 servidores públicos). Quatro pessoas não apareceram. Documentos da subchefia foram avaliados.
À Polícia Federal, dirigentes da GTech disseram que Waldomiro vinculou a renovação do contrato com a Caixa à contratação de Buratti como consultor por um valor que acabou reduzido para R$ 6 milhões. Buratti foi secretário de Governo do ministro Antonio Palocci (Fazenda) em sua gestão na Prefeitura de Ribeirão Preto (SP).
Waldomiro, ainda segundo a sindicância, cometeu desvios de conduta ética ao não registrar suas audiências com pessoas físicas ou jurídicas, dentro ou fora do Planalto, relativas à subchefia. A comissão afirma que ocorreu a "retirada de documentos da repartição sem prévia anuência".
Segundo a comissão, há referências na subchefia sobre possíveis contatos de Waldomiro com Maria Cristina Boner Léo, sócia e dirigente do grupo TBA. Convidados, eles não compareceram.


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