São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2008

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Nos EUA, Jobim defende Chávez e Correa

O ministro da Defesa rebateu a acusação de conivência dos líderes da Venezuela e do Equador com guerrilheiros das Farc

Jobim disse a Condoleezza Rice que não há motivo para preocupação com a América Latina e que quer Conselho Sul-Americano de Defesa

ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON

O ministro da Defesa, Nelson Jobim, aproveitou sua viagem de quatro dias aos EUA, na semana passada, para defender nas suas conversas oficiais os governos Hugo Chávez, da Venezuela, e Rafael Correa, do Equador, da acusação de conivência com guerrilheiros. Avaliou também que a transição em Cuba será tranqüila.
"Há muita tranqüilidade em relação à transição em Cuba, desde que ela seja gerenciada pelo povo cubano, que é muito orgulhoso", disse Jobim em conversa na sexta-feira com a secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, conforme ele próprio relatou à Folha antes de embarcar de volta ao Brasil.
Na conversa com Rice, o ministro comparou Fidel Castro, o ditador que renunciou ao comando do governo em Cuba, com Raúl Castro, seu irmão e sucessor: "O Fidel ouvia pouco, o Raúl ouve muito", disse à secretária que, segundo ele, considerou a observação "um aspecto muito interessante".
Rice manifestou especial interesse na visão brasileira sobre Chávez e sobre o incidente entre a Colômbia e o Equador, quando tropas colombianas bombardearam um acampamento das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em solo equatoriano, na madrugada do dia primeiro deste mês.
Jobim respondeu-lhe que "não há motivo para preocupação com a América Latina", algo que repetiu em seus outros contatos nos EUA, como, por exemplo, com o assessor do Conselho de Segurança Nacional, Stephen Hadley, e o chefe do Comando de Forças Combinadas e comandante supremo da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Jamis Mattis.

Conselho de Defesa
"Não há nenhuma gravidade especial, tudo foi devidamente contornado pela ação diplomática", respondeu-lhes Jobim, sempre na sua própria versão.
Acrescentou que o futuro Conselho Sul-Americano de Defesa, articulado pelo Brasil, pode ser precioso em eventuais situações similares. "O Conselho será um bom ambiente de diálogo, principalmente no sentido profilático, examinando situações, antecipando problemas, neutralizando tensões", disse o ministro a Rice.
Ele se esforçou todo o tempo para dissipar a percepção de que um conselho de defesa -militar, portanto- exclusivo da América do Sul poderia ser um foco de confrontação e de resistência à liderança natural e poderosa dos EUA, que têm o domínio nos organismos já tradicionais, como a ONU (Organização das Nações Unidas) e a OEA (Organização dos Estados Americanos).

Brasil e Chávez
Jobim também repetiu para Rice e para Hadley e Mattis a posição brasileira quanto a Chávez: a de que ele foi eleito democraticamente e segue todas as normas institucionais, respeitando inclusive a derrota no plebiscito sobre mandatos múltiplos. "Quem agiu não-democraticamente foi a oposição que [com apoio dos EUA] tentou um golpe para derrubar Chávez em 2002."
O ministro também discordou do discurso do presidente George W. Bush de que países sul-americanos dariam guarida e teriam conivência com grupos guerrilheiros e narcotraficantes, como as Farc.
"Os governos [do Equador e da Venezuela] não têm nada a ver com isso. Os guerrilheiros se escondem e às vezes é impossível detectá-los. Só quem não conhece a floresta é capaz de achar que é fácil identificar acampamentos nas fronteiras", disse, em defesa de Chávez e Correa.

Compras militares
O ministro, que visitou a base aeronaval de Norfolk e a base aérea de Langley, também participou de uma mesa-redonda com representantes da indústria de defesa, organizada pelo Conselho de Negócios Brasil-EUA. Ali, conforme relatou, deixou claro que o Brasil não se conforma em ser mero comprador. "Não queremos dependência, queremos fazer parcerias nacionais", disse.
Ou seja: insistiu na transferência de tecnologia.
Sugeriu, ainda, que os representantes entrassem em contado com o Comdefesa, grupo ligado à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), para articular uma pauta de negócios possíveis nessa área.
França, Rússia, EUA e, mais distante, Suécia oferecem seus aviões de caça militares para o Brasil, dentro do projeto F-X de renovação do esquadrão da FAB (Força Aérea Brasileira). Jobim voltou a dizer que não há nada fechado e encerrou a conversa com a Folha abrindo uma nova possibilidade: "Quem sabe a gente não abre uma concorrência entre eles?"


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