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Nos EUA, Jobim defende Chávez e Correa
O ministro da Defesa rebateu a acusação de conivência dos líderes da Venezuela e do Equador com guerrilheiros das Farc
Jobim disse a Condoleezza
Rice que não há motivo para
preocupação com a América
Latina e que quer Conselho
Sul-Americano de Defesa
ELIANE CANTANHÊDE
ENVIADA ESPECIAL A WASHINGTON
O ministro da Defesa, Nelson
Jobim, aproveitou sua viagem
de quatro dias aos EUA, na semana passada, para defender
nas suas conversas oficiais os
governos Hugo Chávez, da Venezuela, e Rafael Correa, do
Equador, da acusação de conivência com guerrilheiros. Avaliou também que a transição
em Cuba será tranqüila.
"Há muita tranqüilidade em
relação à transição em Cuba,
desde que ela seja gerenciada
pelo povo cubano, que é muito
orgulhoso", disse Jobim em
conversa na sexta-feira com a
secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice,
conforme ele próprio relatou à
Folha antes de embarcar de
volta ao Brasil.
Na conversa com Rice, o ministro comparou Fidel Castro,
o ditador que renunciou ao comando do governo em Cuba,
com Raúl Castro, seu irmão e
sucessor: "O Fidel ouvia pouco,
o Raúl ouve muito", disse à secretária que, segundo ele, considerou a observação "um aspecto muito interessante".
Rice manifestou especial interesse na visão brasileira sobre Chávez e sobre o incidente
entre a Colômbia e o Equador,
quando tropas colombianas
bombardearam um acampamento das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) em solo equatoriano, na
madrugada do dia primeiro
deste mês.
Jobim respondeu-lhe que
"não há motivo para preocupação com a América Latina", algo que repetiu em seus outros
contatos nos EUA, como, por
exemplo, com o assessor do
Conselho de Segurança Nacional, Stephen Hadley, e o chefe
do Comando de Forças Combinadas e comandante supremo
da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Jamis Mattis.
Conselho de Defesa
"Não há nenhuma gravidade
especial, tudo foi devidamente
contornado pela ação diplomática", respondeu-lhes Jobim,
sempre na sua própria versão.
Acrescentou que o futuro
Conselho Sul-Americano de
Defesa, articulado pelo Brasil,
pode ser precioso em eventuais
situações similares. "O Conselho será um bom ambiente de
diálogo, principalmente no
sentido profilático, examinando situações, antecipando problemas, neutralizando tensões", disse o ministro a Rice.
Ele se esforçou todo o tempo
para dissipar a percepção de
que um conselho de defesa
-militar, portanto- exclusivo
da América do Sul poderia ser
um foco de confrontação e de
resistência à liderança natural
e poderosa dos EUA, que têm o
domínio nos organismos já tradicionais, como a ONU (Organização das Nações Unidas) e a
OEA (Organização dos Estados
Americanos).
Brasil e Chávez
Jobim também repetiu para
Rice e para Hadley e Mattis a
posição brasileira quanto a
Chávez: a de que ele foi eleito
democraticamente e segue todas as normas institucionais,
respeitando inclusive a derrota
no plebiscito sobre mandatos
múltiplos. "Quem agiu não-democraticamente foi a oposição
que [com apoio dos EUA] tentou um golpe para derrubar
Chávez em 2002."
O ministro também discordou do discurso do presidente
George W. Bush de que países
sul-americanos dariam guarida
e teriam conivência com grupos guerrilheiros e narcotraficantes, como as Farc.
"Os governos [do Equador e
da Venezuela] não têm nada a
ver com isso. Os guerrilheiros
se escondem e às vezes é impossível detectá-los. Só quem
não conhece a floresta é capaz
de achar que é fácil identificar
acampamentos nas fronteiras",
disse, em defesa de Chávez e
Correa.
Compras militares
O ministro, que visitou a base
aeronaval de Norfolk e a base
aérea de Langley, também participou de uma mesa-redonda
com representantes da indústria de defesa, organizada pelo
Conselho de Negócios Brasil-EUA. Ali, conforme relatou,
deixou claro que o Brasil não se
conforma em ser mero comprador. "Não queremos dependência, queremos fazer parcerias nacionais", disse.
Ou seja: insistiu na transferência de tecnologia.
Sugeriu, ainda, que os representantes entrassem em contado com o Comdefesa, grupo ligado à Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), para articular uma pauta de
negócios possíveis nessa área.
França, Rússia, EUA e, mais
distante, Suécia oferecem seus
aviões de caça militares para o
Brasil, dentro do projeto F-X de
renovação do esquadrão da
FAB (Força Aérea Brasileira).
Jobim voltou a dizer que não há
nada fechado e encerrou a conversa com a Folha abrindo
uma nova possibilidade:
"Quem sabe a gente não abre
uma concorrência entre eles?"
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