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Só um terço da direção do PT rejeita volta de Delúbio
Folha ouve 75 dos 84 petistas que decidirão sobre retorno de ex-tesoureiro à sigla
73% dos entrevistados não descartam a volta de pivô
do mensalão; ele precisa de maioria simples na reunião da cúpula no dia 23 de maio
Lula Marques - 18.mar.09/Folha Imagem
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Delúbio no Congresso, na última semana |
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Menos de um terço dos
membros do Diretório Nacional do PT ouvidos pela Folha
rejeita categoricamente o retorno ao partido do ex-tesoureiro Delúbio Soares, pivô do
escândalo do mensalão.
Foram consultados 75 dos 84
membros da instância que decidirá sobre a volta de Delúbio,
expulso do PT em 2005. Dos
ouvidos, 25 petistas aceitam a
volta de Delúbio, contra 20 que
não aceitam. Estão indecisos
28, e 2 não disseram a opção.
Nove não foram encontrados.
Em outras palavras, 73% dos
entrevistados não descartam o
retorno do responsável pelo
maior escândalo da história do
partido, que chegou a ameaçar
a sobrevivência do governo Lula em 2005. O esquema de
compra de apoio congressual
virou inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal), no qual
Delúbio é um dos 39 réus.
Para retornar, Delúbio tem
de receber o voto favorável da
maioria simples do diretório,
em reunião dia 23 de maio. Hoje, a Executiva petista fará uma
primeira discussão do tema.
"Há perseguição tucana contra Delúbio. É uma pessoa honestíssima, conheço desde os
anos 70", diz João Felício,
membro do diretório e da ala
Construindo um Novo Brasil
(CNB), que era a de Delúbio.
Se o ex-tesoureiro tiver o
apoio da CNB e pequenas alas
satélites, que formam uma espécie de "centrão" petista, a
volta estará assegurada.
Mas há alguns problemas.
Parte do CNB, apesar de simpatizar com Delúbio, tem dúvidas sobre revisitar esse assunto
agora, em plena pré-campanha
de Dilma Rousseff.
A oposição de Lula também
deve pesar. O presidente já disse a dirigentes do PT ser contra
a anistia antes da decisão do
STF. Num cenário otimista, o
processo deverá ser julgado até
o final de 2010. A tendência é
que demore mais.
Nas palavras de um auxiliar
direto, o presidente avalia que
a anistia só traria "problemas"
ao governo, ao PT e a Dilma.
Uma manobra em estudo pelos amigos de Delúbio é comutar a expulsão para suspensão
por quatro anos, retroagindo.
Na prática, a volta seria imediata, já que o escândalo, revelado
pela Folha, é de 2005. O discurso oficial seria de que não se
trata de uma anistia, e sim de
uma "progressão de pena".
"Delúbio cometeu erros, mas
a expulsão é muito dura", afirma o líder do partido na Câmara e pai intelectual da ideia da
volta de Delúbio, Cândido Vaccarezza (SP).
O ex-tesoureiro tem a seu favor apoios que extrapolam sua
tradicional base de sustentação
interna no PT. Curiosamente,
um exemplo é o de um petista
identificado com Dilma, o ex-prefeito de Recife João Paulo
Lima e Silva, coordenador de
sua campanha no Nordeste.
"Eu acho e sempre achei Delúbio um grande companheiro.
A vida nos mostra quantos foram injustiçados. Até a decisão
final da Justiça, ele pode fazer
parte do partido", disse Silva.
Em vários setores do petismo, Delúbio é lembrado hoje
como uma figura querida, com
25 anos de serviços ao partido,
que não teria desviado recursos em benefício próprio nem
entregou companheiros.
Rumo a 2010
O ex-tesoureiro conta com o
perdão. Não por acaso, diz sua
carta ao partido: "Não sou acusado de um único ato que visasse meu beneficio, seja político,
financeiro ou pessoal". Planeja
se candidatar a deputado federal por Goiás em 2010.
O núcleo duro da resistência
ao retorno do ex-tesoureiro está nas correntes "à esquerda",
que somam cerca de 35% do
PT, como Mensagem ao Partido e Articulação de Esquerda
(AE). "A volta de Delúbio traria
uma pauta negativa no momento em que pensamos na sucessão presidencial", afirma
Marcelo Mascarenha, da AE.
Mesmo nessas correntes, detecta-se uma certa flexibilidade. O ministro Tarso Genro
(Justiça), por exemplo, afirma
que não fará nenhum movimento para impedir a volta de
Delúbio. "Estou ocupado com
atribuições do ministério", diz.
(FÁBIO ZANINI, SOFIA FERNANDES, MARIA CLARA CABRAL E KENNEDY ALENCAR)
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