São Paulo, terça-feira, 24 de março de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Só um terço da direção do PT rejeita volta de Delúbio

Folha ouve 75 dos 84 petistas que decidirão sobre retorno de ex-tesoureiro à sigla

73% dos entrevistados não descartam a volta de pivô do mensalão; ele precisa de maioria simples na reunião da cúpula no dia 23 de maio

Lula Marques - 18.mar.09/Folha Imagem
Delúbio no Congresso, na última semana


DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Menos de um terço dos membros do Diretório Nacional do PT ouvidos pela Folha rejeita categoricamente o retorno ao partido do ex-tesoureiro Delúbio Soares, pivô do escândalo do mensalão.
Foram consultados 75 dos 84 membros da instância que decidirá sobre a volta de Delúbio, expulso do PT em 2005. Dos ouvidos, 25 petistas aceitam a volta de Delúbio, contra 20 que não aceitam. Estão indecisos 28, e 2 não disseram a opção. Nove não foram encontrados.
Em outras palavras, 73% dos entrevistados não descartam o retorno do responsável pelo maior escândalo da história do partido, que chegou a ameaçar a sobrevivência do governo Lula em 2005. O esquema de compra de apoio congressual virou inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal), no qual Delúbio é um dos 39 réus.
Para retornar, Delúbio tem de receber o voto favorável da maioria simples do diretório, em reunião dia 23 de maio. Hoje, a Executiva petista fará uma primeira discussão do tema.
"Há perseguição tucana contra Delúbio. É uma pessoa honestíssima, conheço desde os anos 70", diz João Felício, membro do diretório e da ala Construindo um Novo Brasil (CNB), que era a de Delúbio.
Se o ex-tesoureiro tiver o apoio da CNB e pequenas alas satélites, que formam uma espécie de "centrão" petista, a volta estará assegurada.
Mas há alguns problemas. Parte do CNB, apesar de simpatizar com Delúbio, tem dúvidas sobre revisitar esse assunto agora, em plena pré-campanha de Dilma Rousseff.
A oposição de Lula também deve pesar. O presidente já disse a dirigentes do PT ser contra a anistia antes da decisão do STF. Num cenário otimista, o processo deverá ser julgado até o final de 2010. A tendência é que demore mais.
Nas palavras de um auxiliar direto, o presidente avalia que a anistia só traria "problemas" ao governo, ao PT e a Dilma.
Uma manobra em estudo pelos amigos de Delúbio é comutar a expulsão para suspensão por quatro anos, retroagindo. Na prática, a volta seria imediata, já que o escândalo, revelado pela Folha, é de 2005. O discurso oficial seria de que não se trata de uma anistia, e sim de uma "progressão de pena".
"Delúbio cometeu erros, mas a expulsão é muito dura", afirma o líder do partido na Câmara e pai intelectual da ideia da volta de Delúbio, Cândido Vaccarezza (SP).
O ex-tesoureiro tem a seu favor apoios que extrapolam sua tradicional base de sustentação interna no PT. Curiosamente, um exemplo é o de um petista identificado com Dilma, o ex-prefeito de Recife João Paulo Lima e Silva, coordenador de sua campanha no Nordeste.
"Eu acho e sempre achei Delúbio um grande companheiro. A vida nos mostra quantos foram injustiçados. Até a decisão final da Justiça, ele pode fazer parte do partido", disse Silva.
Em vários setores do petismo, Delúbio é lembrado hoje como uma figura querida, com 25 anos de serviços ao partido, que não teria desviado recursos em benefício próprio nem entregou companheiros.

Rumo a 2010
O ex-tesoureiro conta com o perdão. Não por acaso, diz sua carta ao partido: "Não sou acusado de um único ato que visasse meu beneficio, seja político, financeiro ou pessoal". Planeja se candidatar a deputado federal por Goiás em 2010.
O núcleo duro da resistência ao retorno do ex-tesoureiro está nas correntes "à esquerda", que somam cerca de 35% do PT, como Mensagem ao Partido e Articulação de Esquerda (AE). "A volta de Delúbio traria uma pauta negativa no momento em que pensamos na sucessão presidencial", afirma Marcelo Mascarenha, da AE.
Mesmo nessas correntes, detecta-se uma certa flexibilidade. O ministro Tarso Genro (Justiça), por exemplo, afirma que não fará nenhum movimento para impedir a volta de Delúbio. "Estou ocupado com atribuições do ministério", diz.
(FÁBIO ZANINI, SOFIA FERNANDES, MARIA CLARA CABRAL E KENNEDY ALENCAR)


Texto Anterior: Painel
Próximo Texto: Frase
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.