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Senado paga R$ 8 mi a clínicas de servidores
Auditoria revelou que médicos concursados recebem ilegalmente da Casa também por atendimentos particulares a funcionários
Dois diretores da área de saúde foram exonerados depois de descoberta a irregularidade; contratos deverão ser rescindidos
ANDREZA MATAIS
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Senado pagou ilegalmente,
nos últimos quatro anos, R$ 8,2
milhões a sete clínicas médicas
que têm como sócios servidores da própria Casa. Com isso,
médicos concursados que já
dão expediente no Senado, recebiam também pelo atendimento a servidores em suas clínicas particulares.
Uma auditoria interna do
próprio Senado descobriu que
nove funcionários figuram como sócios, dirigentes ou proprietários de clínicas contratadas. A Lei de Licitações prevê
em seu artigo 9º que "não poderá participar, direta ou indiretamente, da licitação, ou da
execução de obra ou serviço (...)
servidor ou dirigente de órgão
contratante".
O Tribunal de Contas da
União considera irregular esse
tipo de contratação "por atentar contra os princípios da isonomia, impessoalidade e da
probidade administrativa".
Por causa das irregularidades, os diretores do SIS (Sistema Integrado de Saúde), Fábio
Scarton, e do Sams (Secretaria
de Assistência Médica e Social),
Paulo Roberto Rodrigues Ramalho, foram exonerados.
Scarton disse que o Senado é
responsável pela contratação.
Ele disse que o SIS apenas
atende às determinações da diretoria-geral. Ramalho, a quem
os médicos são subordinados,
não foi encontrado.
O pedido para demiti-los
partiu do vice-presidente do
Senado, Marconi Perillo
(PSDB-GO), que preside o conselho de supervisão do SIS,
após analisar o resultado da auditoria. A Folha apurou que o
próprio senador autorizou a
contratação de duas clínicas de
servidores.
"Eu não tinha conhecimento, senão não teria feito [contratação] nunca. Se for constatada irregularidade dos pagamentos, as clínicas terão que
devolver o dinheiro", disse.
O senador assumiu o cargo
em 2009, após a Folha revelar
que até um morto fazia parte
do conselho e que não havia
controle sobre os R$ 160 milhões que o SIS tem em caixa.
Valores
A auditoria verificou ainda
que os contratos eram assinados sem a estipulação dos valores anuais. A Lei das Licitações
não permite "pactuar contratos
sem valor definido, ainda que
por estimativa." A tabela de
preços era diferenciada para
cada uma das clínicas.
Dos servidores flagrados,
cinco são cardiologistas e os demais são oftalmologista, ortopedista, anestesista e gastroenterologista. A Cooperativa dos
Médicos Anestesiologistas do
DF, da qual é sócio-presidente
José Silvério Assunção, foi a
que mais recebeu. Desde 2005
foram R$ 5,16 milhões. Procurado, ele não ligou de volta.
A Clínica de Olhos Dr. João
Eugenio, cujo sócio é o servidor
do Senado Hilton Arcoverde
Gonçalves de Medeiros, ficou
com o segundo maior valor: R$
1,57 milhão em quatro anos.
O parecer da auditoria não
informa se os preços cobrados
estão compatíveis com o mercado. Arcoverde afirmou que a
clínica é de seu pai e tem contrato há anos com o Senado.
A auditoria recomendou a revisão dos contratos e reabertura do credenciamento. Os contratos com os servidores devem
ser rescindidos.
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