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GOVERNO
Comissão especial para analisar assunto é reinstalada no Congresso
FHC pede reforma tributária e nega aumento de imposto
WILLIAM FRANÇA
da Sucursal de Brasília
O presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que o
governo federal "está convencido
de que agora chegou a hora" da reforma tributária e que a questão
principal não deve ser o aumento
das alíquotas dos impostos, mas
sim a expansão da base de arrecadação deles.
FHC disse que, para a reforma
tributária ter efeito, "é condição
necessária" a aprovação da Lei de
Responsabilidade Fiscal, "para
evitar a repetição desses braços-de-ferro entre União, Estados e
municípios a todo instante".
O ministro Paulo Paiva (Orçamento e Gestão) pode se reunir hoje com líderes dos partidos governistas na Câmara para apresentar a
versão final do projeto, que será
enviada ao Congresso. O projeto
estabelece critérios para formulação e execução dos orçamentos
públicos e prevê penas para maus
administradores.
Falando para empresários reunidos em um seminário na CNI
(Confederação Nacional da Indústria), o presidente disse que vai designar em poucos dias um interlocutor do governo federal para conduzir a reforma tributária.
"O governo não vai deixar de assumir a liderança da reforma tributária, mas precisa do apoio do
Congresso e da sociedade", disse.
O presidente defendeu que sejam
adotadas idéias simples para o tratamento da carga tributária, que
ele classificou como "irracional" e
"deformada".
"A carga tributária global é entre
28% e 30% (do Produto Interno
Bruto). O governo não quer mais,
porque não precisa de mais. Não é
essa mais a questão. Essa carga tributária (atual) está é com a incidência errada, os impostos estão
errados, são mal distribuídos e os
impostos nem sempre são gastos
ou distribuídos em termos de responsabilidade de cada esfera do
governo", afirmou.
O presidente exemplificou: "Não
tem sentido haver uma tributação
do consumo, como nós temos
aqui. ICMS, PIS, Cofins e IPI, tudo
em cima do consumo. É irracional", disse FHC. "No sistema do
ICMS, os Estados "exportam' impostos para outros Estados porque
o imposto é cobrado na origem e
isso distorce a cadeia produtiva."
FHC disse que não pretende alterar mais a Lei Kandir (que exonera
as exportações de ICMS).
Segundo FHC, a discussão sobre
o imposto sobre combustíveis (ou
imposto verde), que está sob avaliação da comissão especial da Câmara, deve ser "mais um passo no
sentido da reforma tributária e não
um imposto a mais".
Sem citar o governador de Minas, Itamar Franco (PMDB), o presidente disse que é preciso evitar
que no país "demandas justas" de
alguns Estados -como a renegociação das dívidas em títulos-
"criem condições de insolvabilidade para o Brasil".
"Eu não vou ceder nesse ponto,
porque se eu ceder estou indo contra o interesse do povo e contra tudo o que nós construímos nesses
anos todos", afirmou.
Para o presidente, é possível que
o Congresso conduza a reforma
tributária e a reforma política paralelamente. FHC disse que a reforma política "é para fortalecer
um pouquinho" a estrutura partidária, justamente para facilitar o
encaminhamento das reformas.
A Câmara instalou ontem a comissão especial que vai discutir a
reforma tributária em meio a divergências entre o governo e a sua
base de sustentação e ao ceticismo
de aliados.
O presidente da Câmara, Michel
Temer (PMDB-SP), e líderes governistas defendem a mudança na
distribuição da arrecadação, chamada de "repactuação federativa"
pelos parlamentares.
O governo, com medo de perder
recursos, considera que a divisão
do bolo tributário entre a União, os
Estados e os municípios não precisa mudar.
"A distribuição de receitas, do
nosso ponto de vista, está adequada. A questão é mais o peso que o
atual sistema tributário tem sobre
o setor produtivo", afirmou o secretário-executivo do Ministério
da Fazenda, Pedro Parente, presente à instalação da comissão ontem.
²
Colaboraram
Denise Madueño e Luiza Damé,
da Sucursal de Brasília
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