São Paulo, segunda-feira, 24 de abril de 2006

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ESCÂNDALO DO MENSALÃO/ CPI DOS BINGOS

Governo rearticula apoio na comissão, que há um mês não aprova requerimentos polêmicos

Ofensiva do Planalto barra trabalhos da oposição na CPI

ADRIANO CEOLIN
KENNEDY ALENCAR

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Palácio do Planalto desencadeou ofensiva política e jurídica para enfrentar a oposição na CPI dos Bingos. Nas últimas semanas, rearticulou sua base de apoio na comissão e impediu a oposição de aprovar requerimentos. Nos bastidores, o Planalto vem estimulando depoentes a recorrer à Justiça sempre que julgarem que serão usados para atingir o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Por falta de segurança nas aprovações, há mais de um mês o presidente da comissão, Efraim Morais (PFL-PB), não realiza votações de requerimentos polêmicos como a nova quebra de sigilo de Paulo Okamotto ou a convocação do ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso.
Em reunião com auxiliares, Lula disse que a CPI dos Bingos é hoje a principal batalha que o governo tem de travar contra a oposição. Daí as manobras política e jurídica para tentar interromper as derrotas freqüentes na CPI.
A última derrota dos governistas na comissão ocorreu em 15 de março, quando foi aprovada a acareação entre Okamotto e o economista e ex-militante petista Paulo de Tarso Venceslau. Essa foi também a última reunião administrativa da CPI usada apenas para a apreciação de requerimentos para convocações, quebras de sigilo ou informações.
Uma mostra da diminuição do poder de força da oposição na então temida "CPI do Fim do Mundo" deu-se com clareza na última semana, quando a comissão ficou dois dias sem se reunir-terça e quarta-feira. Na quinta-feira, os senadores ouviram o depoimento do advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Lula. Teixeira recorreu à Justiça para manter o direito de se calar caso julgasse que poderia dar uma resposta que o prejudicasse.
Antes do depoimento, os senadores só conseguiram votar alguns requerimentos porque foi costurado um acordo entre o presidente da CPI e o senador Tião Viana (PT-AC), articulador do governo na comissão.
Foi aprovada por unanimidade a quebra do sigilo do telefone fixo da "casa do lobby", a qual o ex-ministro Antonio Palocci foi acusado de freqüentar.
"Todos os requerimentos foram acordados com o Tião [Viana]", disse a senadora Ideli Salvatti, líder do PT no Senado. "Já haviam quebrado os sigilos telefônicos das pessoas que freqüentaram a casa. Portanto, não tinha sentido brigarmos por pouco."

Consenso
E as negociações partiram do presidente da CPI. No início da semana, ele defendeu a necessidade de se buscar consenso para aprovar requerimentos. Efraim argumentou que a medida é necessária, pois ele pretende encerrar a CPI no fim de maio, um mês antes do prazo final marcado para 24 de junho.
A antecipação do término da comissão agrada aos governistas, já que a oposição ameaçava prorrogá-la até outubro e usá-la para atacar o presidente Lula até a véspera da eleição.
O presidente da CPI dos Bingos decidiu que só vota requerimentos polêmicos se tiver garantia de vitória. Como o governo tem convencido os senadores da base a marcarem presença nas sessões, isso tem sido inviabilizado.


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