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"Não há crise, não há arranhão", diz Mendes
Presidente do STF se recusa a fazer comentários específicos sobre o bate-boca com Barbosa; ministros tentam esfriar caso
A colegas, Barbosa havia dito que se sentia tratado de forma diferente por Mendes;
Lula minimiza episódio, mas faz crítica velada a ministros
ANDRÉA MICHAEL
FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um dia depois de protagonizar a contenda com o colega
Joaquim Barbosa, o presidente
do Supremo Tribunal Federal,
Gilmar Mendes, negou a existência de crise institucional e
disse que a imagem da corte é a
"melhor possível".
"Não há crise, não há arranhão. O tribunal tem trabalhado muito bem", afirmou Mendes, em entrevista, ao sair de
um encontro com o presidente
da Câmara, Michel Temer
(PMDB-SP). Ele completou
ontem um ano na presidência
do STF. Questionado por diversas vezes sobre o bate-boca, recusou-se a responder especificamente sobre o assunto.
O dia de ontem foi dedicado
ao esfriamento da confusão. A
maior parte dos integrantes da
corte se recusa a falar do caso.
O presidente Lula também
tentou minimizar o episódio
ontem, mas deixou um recado
aos magistrados: que não resolvam diferenças em público.
"Creio que, quando nós temos determinadas funções, é
importante que a gente diga tudo o que quiser nos autos do
processo, e não fique dizendo
pela imprensa. Mas esse é o
pensamento de um leigo, não
de um magistrado", afirmou ao
ser questionado sobre a discussão por jornalistas brasileiros
durante entrevista na sede do
governo argentino.
Lula explicou o episódio à
presidente da Argentina, Cristina Kirchner, como uma "troca de acusações verbais e palavras duras". E lançou uma crítica velada aos ministros ao afirmar que, "se esse tipo de briga,
assistida por toda a sociedade
brasileira, ajuda a sociedade e a
democracia, tudo bem".
A Folha apurou que, na avaliação do Planalto, Mendes estaria "expondo demais o Supremo", segundo a expressão
de um ministro próximo a Lula. Por exposição excessiva, o
Planalto entende a série de declarações de Mendes, que despertariam polêmicas públicas.
Na opinião desse ministro, o
Supremo deve falar pouco para
que tenha peso quando houver
uma manifestação do tribunal
-sobretudo o presidente da
corte. "Quando o Supremo falou, tá falado. É assim que funciona nos outros países", disse
o auxiliar direto de Lula.
Para o
Planalto, seria ruim e o Supremo se enfraqueceria ao se
transformar em personagem
de polêmicas e que isso seria
ruim para as instituições.
"Lamentável"
Na mesma linha, o decano do
STF, Celso de Mello, disse que
"episódios como esses são lamentáveis e afetam negativamente a imagem da instituição,
por isso exortamos todos os juízes a observarem os limites impostos pela ética judiciária".
Ontem, os ministros Carlos
Ayres Britto e Ricardo Lewandowski foram com Barbosa almoçar em um restaurante de
Brasília, em demonstração de
que o colega não está isolado
dentro do tribunal.
No encontro, os ministros,
inclusive Barbosa, concordaram que o episódio foi "lamentável" e que a partir de agora é
necessário encontrar uma forma para que o tribunal retome
sua "normalidade".
A Folha apurou que Barbosa
não mostrou arrependimento,
chegando a dizer que não foi
ele quem começou o bate-boca,
mas que teria reagido a uma
provocação de Mendes.
Anteontem depois da discussão, segundo a Folha apurou,
Barbosa disse aos colegas Britto e Celso de Mello que as palavras dirigidas em plenário ao
presidente do STF foram uma
reação por se sentir tratado de
maneira diferente daquela que
Mendes dispensaria aos demais integrantes do tribunal.
A explicação foi dada quando
os dois ministros procuraram
Barbosa e pediram a ele que se
retratasse dos ataques, a fim de
contornar a crise. No ápice da
discussão, Barbosa havia dito:
"Vossa Excelência, quando se
dirige a mim, não está falando
com com seus capangas de Mato Grosso, ministro Gilmar.
Respeite, respeite".
A Folha apurou que a intenção do ministro era sinalizar
para Mendes, publicamente,
que não aceitava ser tratado
como um subalterno.
Procurado pela reportagem,
Barbosa informou, por meio de
um assessor, que não comentaria o assunto. Também por
meio de sua assessoria , Mendes disse que não falaria.
Além de Mendes, seu mais
novo desafeto, Barbosa não fala
com os ministros Eros Grau e
Marco Aurélio Mello, com os
quais já discutiu na corte.
Colaborou THIAGO GUIMARÃES, de Buenos Aires
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