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Obra parada custa o dobro do preço, diz TCU
Cento e seis obras que estavam paralisadas em 2007 e que foram concluídas até 2009 saíram em média 100% mais caras
Em alguns casos, custo final foi bem maior; construção de casas no Acre, orçada em R$ 5,9 milhões, terminou por consumir R$ 50 milhões
DIMMI AMORA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Obras do governo federal que
estavam paradas no ano de
2007 e foram retomadas custaram, ao ficarem prontas, o dobro do que estava previsto. Esta
é a constatação de um relatório
elaborado pelo TCU (Tribunal
de Contas da União).
O país tinha há três anos 400
obras federais inacabadas estimadas em R$ 3,3 bilhões. Parte
delas era implementada em
convênio com Estados e municípios e a paralisação ocorria,
na maioria dos casos, por falta
de dinheiro do orçamento.
No final de 2008, o TCU pediu informações à União e só
obteve resposta sobre 206
obras -respostas que foram
chegando ao longo de 2009.
Destas 206, 29 continuavam
paradas, 71 estavam em andamento e 106 foram concluídas.
Segundo planilha do relatório à qual a Folha teve acesso, o
preço final de 106 obras concluídas entre 2007 e 2009 chegou a R$ 716 milhões.
"Os valores aplicados nas
obras que atingiram a conclusão se apresentaram cerca de
100% acima dos valores orçados. Tal desvio em relação aos
valores inicialmente previstos,
em certa medida, decorre de
longos períodos de paralisação
que acarretaram aditivos de
prazo e de valor", diz o relatório do tribunal, feito pelo ministro Valmir Campelo.
Dez vezes
Em alguns casos, o valor passou a ser quase dez vezes maior,
como no caso da "Produção de
Moradias no Acre". Em 2006 a
obra orçada em R$ 5,9 milhões
parou por "problemas de projeto/execução". Em 2009 ela estava concluída, segundo o Ministério das Cidades, ao custo
de R$ 50 milhões.
Outro exemplo no relatório é
a construção do Hospital na
Universidade Federal do Piauí.
A obra começou em 1987 e era
avaliada em US$ 24,1 milhões
(o TCU padronizou os valores
em dólar). Até 1995, a obra já
havia recebido US$ 15,2 milhões (64% do contrato). Até
2003, os recursos na obra chegaram a US$ 22,1 milhões (91%
do valor inicial).
Mas, em 2008, a universidade fez um novo contrato de
mais R$ 13 milhões para concluir o hospital que tem previsão de inauguração para este
ano. O novo recurso foi necessário porque, dois anos atrás,
apenas 24% da unidade estavam em funcionamento.
Os técnicos constaram que a
paralisação acontece por falta
de planejamento e descontrole.
Segundo a análise, os órgãos do
governo iniciam novas obras
sem ter concluído as antigas.
Com isso, pulverizam o dinheiro que fica insuficiente para
acabar o que está iniciado.
Um exemplo citado foi do
Dnit. Em 2009, o órgão pediu
orçamento de R$ 16,1 bi. Ficou
com R$ 8,6 bi, depois acrescidos de R$ 1,1 bi, totalizando R$
9,8 bi. Mas, ao final do ano, só
pode empenhar R$ 7 bi. Para as
empresas que fazem as obras
chegou apenas R$ 1,1 bi . Ou seja, ao final, menos de 7% do que
o Dnit disse que precisava foi
efetivamente pago.
Outro problema são os convênios firmados entre os ministérios e governos estaduais e
prefeituras. Além da falta de recursos para repassar em alguns
casos, em outros os Estados e
municípios deixam de prestar
contas (às vezes de outros convênios) e ficam inadimplentes,
impossibilitando os repasses.
A intenção da análise é que
seja feito um cadastro de obras
para todos os órgãos federais
(já determinado em 2007, mas
que não aconteceu). De acordo
com os técnicos, hoje há um cadastro para obras do PAC.
Além das obras de 2007, o relatório aponta 188 novas obras
que estavam paradas em julho
de 2009. Elas estavam estimadas em R$ 4,2 bilhões.
No entanto, o número podia
ser bem maior porque apenas
os ministérios da Educação,
das Cidades e do Turismo e o
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes
(DNIT) informaram sobre as
obras paradas.
Os outros se recusaram a informar sobre suas obras. Os
técnicos do tribunal acreditam
que não foi por má-fé dos órgãos que os dados não chegaram: muitos simplesmente não
têm nenhum controle sobre as
obras em andamento.
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