São Paulo, sexta-feira, 24 de maio de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Vice de Serra diz que pode desistir de indicação se houver revelação eticamente desabonadora contra marido

Rita admite renúncia em caso de problema

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Vice do presidenciável tucano, José Serra, a deputada federal Rita Camata (PMDB-ES) afirmou que renunciará à indicação "sem nenhuma dificuldade" se surgir revelação eticamente desabonadora em relação a ela ou ao marido, o senador Gerson Camata.
Rebatendo a versão de que só virou vice por ser mulher e bela, Rita disse: "Não é demérito ser mulher e ser bonita. Não é porque é loira que é burra. Não é porque é bonita que é incompetente. Tenho militância social e coerência na vida pública".
Rita, 41, classificou de "marmitas requentadas" as acusações de adversários políticos e precisou de ajuda da principal assessora de imprensa da campanha do PSDB, Andréia Gouvêa Vieira, que interrompeu a entrevista para não deixar a deputada comentar uma declaração do marido.
"Ela [Rita" não responde sobre declarações do senador Gerson Camata. Pergunte ao senador", disse a assessora, escalada por Serra e pelo publicitário Nizan Guanaes para evitar tropeços.
A deputada deu a entender que não era a autora de sua frase de estréia na campanha.
A Folha apurou ser de Nizan a frase: "De salto alto e maquiagem, nesta campanha, só eu". Seguem os principais trechos da entrevista com a deputada.

Folha - O principal motivo para a sua escolha é a esperança de que traga votos para Serra por ser mulher e bonita. São atributos que justificam a vice?
Rita Camata -
Não é demérito ser mulher e ser bonita. Não é porque é loira que é burra. Não é porque é bonita que é incompetente. Tenho militância social e coerência na vida pública.

Folha - Sua frase "de salto alto e maquiagem, nesta campanha, só eu" é indireta para Lula?
Rita -
Você acha [risos"?

Folha - Sim. A sra. não acha?
Rita -
Não sei. A interpretação fica para quem quiser fazer.

Folha - É verdade que seu discurso de apresentação foi escrito por marqueteiros com sugestões do Serra? E que a frase "De salto alto e maquiagem...." é do publicitário Nizan Guanaes?
Rita -
Não tenho dificuldade de denominar a autoria de projeto, de proposta, de uma frase.

Folha - A informação é que a frase é do marqueteiro.
Rita -
Já dei a resposta.

Folha - Parecerá ser do Nizan.
Rita -
As coisas são como são. Não como parecem ser.

Folha - A sra. concorda com a afirmação de Serra de que Lula é incoerente, porque o discurso do PT difere da prática?
Rita -
Não cabe a mim isso. O mais importante é mostrar o que aconteceu no governo FHC e o que pode avançar.

Folha - A sra. foi convidada para ser vice do Lula?
Rita -
Para vice, não. Tive conversas amigáveis e respeitosas no Congresso sobre um eventual apoio na eleição presidencial.

Folha - O PSDB acusa o PT de vira-casaca. Depois de votar com o PT no governo FHC, não teme ser acusada do mesmo?
Rita -
Mantenho as mesmas posições.

Folha - Serra é diferente de FHC?
Rita -
Acho. FHC deixou a casa arrumada. O compromisso do Serra é fazer do Brasil uma potência social.

Folha - A sra. mantém a declaração de que FHC foi melhor senador do que é presidente?
Rita -
Ah, meu Deus [risadas". Viver um processo legislativo sem ter vivido um processo no Executivo é muito diferente. No Legislativo, há idéias e ideais que, quando se chega ao Executivo, você não consegue colocar em prática.

Folha - É vital aliança formal com o PFL para Serra vencer?
Rita -
O PFL estava na base do governo. Seria muito positivo recompor a aliança, independentemente de ser formal ou não.

Folha - O senador Camata, seu marido, foi cobrado pelo PMDB e PSDB a respeito de supostas denúncias. Se surgir algo desabonador em relação a ele ou à sra., abrirá mão da candidatura?
Rita -
Sem nenhuma dificuldade.

Folha - Reportagem da revista "IstoÉ", de 2000, diz ter tido acesso a um livro-caixa de Toninho Roldi, empresário morto acusado de ter sido chefe do crime organizado no Espírito Santo, que teria a rubrica Camata. Roldi teria financiado candidatos a prefeito e políticos ligados ao senador Gerson Camata.
Rita -
Estou nesse livro?

Folha - Não. Mas, segundo a revista, o marido da sra. estaria.
Rita -
Não existe absolutamente nada. É uma indignidade.

Folha - Quando governava o Espírito Santo, o senador Camata disse que desistiu de fechar o jogo do bicho "porque bicheiros avisaram que, se isso ocorresse, colocariam as 15 mil pessoas que ficariam desempregadas na porta do Palácio Anchieta". Por esse argumento, a polícia não deveria combater o narcotráfico no Rio porque emprega muita gente nos morros.
Rita -
- É uma analogia meio louca essa.

Folha - O governador Camata admitiu ter recebido pressão de bicheiros. Não houve omissão?
Rita -
- Não tenho conhecimento.

Folha - Na Vice-Presidência ou no lugar dele, como agiria?
Rita -
Firme...
[A assessora de imprensa Andréia Gouvêa Vieira interrompe e diz: "Não é assunto do vice-presidente o jogo do bicho"".

Folha - Perguntei à deputada.
Rita -
Não há nada para falar.
[A assessora interrompe novamente: "Sou assessora dela. Estou aqui para ajudá-la sempre que for preciso". A Folha diz que, se a assessora for responder, dará o crédito a ela na entrevista. A assessora diz que "não tem problema" e afirma: "Ela não responde sobre declarações do senador Gerson Camata. Pergunte ao senador!""

Folha - A sra. não comenta declarações do senador Camata?
Rita -
Não tenho... [sussurra, sem terminar a resposta".

Folha - Para manter a forma, a sra. faz exercício físico ou dieta?
Rita -
Tenho um "personal trainer" de um ano e nove meses de idade, meu filho Bruno David. Caminhava antes da gravidez.

Folha - Por que a sra. fuma?
Rita -
Porque é uma fraqueza.

Folha - A sra. se importa quando perguntam a sua idade?
Rita -
Não. Tenho 41. A idade é um processo de amadurecimento. Os traços começam a aparecer. Tem toda uma história por trás deles.

Folha - A sra. é a favor da legalização do aborto?
Rita -
Sou a favor de um atendimento integral à saúde da mulher, com processo preventivo que evite o recurso ao aborto.

Folha - E a mulher, informada e atendida, que deseja abortar?
Rita -
Aí tenho dificuldade. Não tenho opinião consolidada.

Folha - E se amanhã a sra. fosse votar um projeto de aborto?
Rita -
Votaria contra.

Folha - Virgindade é tabu? Mulher tem de casar virgem?
Rita -
[Ri" Casar virgem? Não. As pessoas devem conviver mais antes de um processo estável, para evitar esse casa e descasa, que tem reflexo sobre os filhos. Na hora em que achar que não dá certo a relação, é uma coisa muita digna assumir que não dá mais.



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