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RUMO ÀS ELEIÇÕES
Vice de Serra diz que pode desistir de indicação se houver revelação eticamente desabonadora contra marido
Rita admite renúncia em caso de problema
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Vice do presidenciável tucano,
José Serra, a deputada federal Rita
Camata (PMDB-ES) afirmou que
renunciará à indicação "sem nenhuma dificuldade" se surgir revelação eticamente desabonadora
em relação a ela ou ao marido, o
senador Gerson Camata.
Rebatendo a versão de que só
virou vice por ser mulher e bela,
Rita disse: "Não é demérito ser
mulher e ser bonita. Não é porque
é loira que é burra. Não é porque é
bonita que é incompetente. Tenho militância social e coerência
na vida pública".
Rita, 41, classificou de "marmitas requentadas" as acusações de
adversários políticos e precisou
de ajuda da principal assessora de
imprensa da campanha do PSDB,
Andréia Gouvêa Vieira, que interrompeu a entrevista para não deixar a deputada comentar uma declaração do marido.
"Ela [Rita" não responde sobre
declarações do senador Gerson
Camata. Pergunte ao senador",
disse a assessora, escalada por
Serra e pelo publicitário Nizan
Guanaes para evitar tropeços.
A deputada deu a entender que
não era a autora de sua frase de estréia na campanha.
A Folha apurou ser de Nizan a
frase: "De salto alto e maquiagem,
nesta campanha, só eu". Seguem
os principais trechos da entrevista
com a deputada.
Folha - O principal motivo para a
sua escolha é a esperança de que
traga votos para Serra por ser mulher e bonita. São atributos que
justificam a vice?
Rita Camata - Não é demérito ser
mulher e ser bonita. Não é porque
é loira que é burra. Não é porque é
bonita que é incompetente. Tenho militância social e coerência
na vida pública.
Folha - Sua frase "de salto alto e
maquiagem, nesta campanha, só
eu" é indireta para Lula?
Rita - Você acha [risos"?
Folha - Sim. A sra. não acha?
Rita - Não sei. A interpretação fica para quem quiser fazer.
Folha - É verdade que seu discurso de apresentação foi escrito por
marqueteiros com sugestões do
Serra? E que a frase "De salto alto e
maquiagem...." é do publicitário
Nizan Guanaes?
Rita - Não tenho dificuldade de
denominar a autoria de projeto,
de proposta, de uma frase.
Folha - A informação é que a frase
é do marqueteiro.
Rita - Já dei a resposta.
Folha - Parecerá ser do Nizan.
Rita - As coisas são como são.
Não como parecem ser.
Folha - A sra. concorda com a afirmação de Serra de que Lula é incoerente, porque o discurso do PT difere da prática?
Rita - Não cabe a mim isso. O
mais importante é mostrar o que
aconteceu no governo FHC e o
que pode avançar.
Folha - A sra. foi convidada para
ser vice do Lula?
Rita - Para vice, não. Tive conversas amigáveis e respeitosas no
Congresso sobre um eventual
apoio na eleição presidencial.
Folha - O PSDB acusa o PT de vira-casaca. Depois de votar com o PT
no governo FHC, não teme ser acusada do mesmo?
Rita - Mantenho as mesmas posições.
Folha - Serra é diferente de FHC?
Rita - Acho. FHC deixou a casa
arrumada. O compromisso do
Serra é fazer do Brasil uma potência social.
Folha - A sra. mantém a declaração de que FHC foi melhor senador
do que é presidente?
Rita - Ah, meu Deus [risadas".
Viver um processo legislativo sem
ter vivido um processo no Executivo é muito diferente. No Legislativo, há idéias e ideais que, quando se chega ao Executivo, você
não consegue colocar em prática.
Folha - É vital aliança formal com
o PFL para Serra vencer?
Rita - O PFL estava na base do
governo. Seria muito positivo recompor a aliança, independentemente de ser formal ou não.
Folha - O senador Camata, seu
marido, foi cobrado pelo PMDB e
PSDB a respeito de supostas denúncias. Se surgir algo desabonador em relação a ele ou à sra., abrirá mão da candidatura?
Rita - Sem nenhuma dificuldade.
Folha - Reportagem da revista
"IstoÉ", de 2000, diz ter tido acesso
a um livro-caixa de Toninho Roldi,
empresário morto acusado de ter
sido chefe do crime organizado no
Espírito Santo, que teria a rubrica
Camata. Roldi teria financiado candidatos a prefeito e políticos ligados ao senador Gerson Camata.
Rita - Estou nesse livro?
Folha - Não. Mas, segundo a revista, o marido da sra. estaria.
Rita - Não existe absolutamente
nada. É uma indignidade.
Folha - Quando governava o Espírito Santo, o senador Camata disse
que desistiu de fechar o jogo do bicho "porque bicheiros avisaram
que, se isso ocorresse, colocariam
as 15 mil pessoas que ficariam desempregadas na porta do Palácio
Anchieta". Por esse argumento, a
polícia não deveria combater o narcotráfico no Rio porque emprega
muita gente nos morros.
Rita - - É uma analogia meio louca essa.
Folha - O governador Camata admitiu ter recebido pressão de bicheiros. Não houve omissão?
Rita - - Não tenho conhecimento.
Folha - Na Vice-Presidência ou no
lugar dele, como agiria?
Rita - Firme...
[A assessora de imprensa Andréia Gouvêa Vieira interrompe e
diz: "Não é assunto do vice-presidente o jogo do bicho"".
Folha - Perguntei à deputada.
Rita - Não há nada para falar.
[A assessora interrompe novamente: "Sou assessora dela. Estou
aqui para ajudá-la sempre que for
preciso". A Folha diz que, se a assessora for responder, dará o crédito a ela na entrevista. A assessora diz que "não tem problema" e
afirma: "Ela não responde sobre
declarações do senador Gerson
Camata. Pergunte ao senador!""
Folha - A sra. não comenta declarações do senador Camata?
Rita - Não tenho... [sussurra,
sem terminar a resposta".
Folha - Para manter a forma, a
sra. faz exercício físico ou dieta?
Rita - Tenho um "personal trainer" de um ano e nove meses de
idade, meu filho Bruno David.
Caminhava antes da gravidez.
Folha - Por que a sra. fuma?
Rita - Porque é uma fraqueza.
Folha - A sra. se importa quando
perguntam a sua idade?
Rita - Não. Tenho 41. A idade é
um processo de amadurecimento. Os traços começam a aparecer.
Tem toda uma história por trás
deles.
Folha - A sra. é a favor da legalização do aborto?
Rita - Sou a favor de um atendimento integral à saúde da mulher,
com processo preventivo que evite o recurso ao aborto.
Folha - E a mulher, informada e
atendida, que deseja abortar?
Rita - Aí tenho dificuldade. Não
tenho opinião consolidada.
Folha - E se amanhã a sra. fosse
votar um projeto de aborto?
Rita - Votaria contra.
Folha - Virgindade é tabu? Mulher tem de casar virgem?
Rita - [Ri" Casar virgem? Não. As
pessoas devem conviver mais antes de um processo estável, para
evitar esse casa e descasa, que tem
reflexo sobre os filhos. Na hora
em que achar que não dá certo a
relação, é uma coisa muita digna
assumir que não dá mais.
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