São Paulo, quarta-feira, 24 de maio de 2006

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Para Suplicy, Bastos deve explicar encontro

Caio Guatelli/Folha Imagem
Eduardo Suplicy deixa a Fundação Getúlio Vargas, onde dá aula


MALU DELGADO
DA REPORTAGEM LOCAL

Fator de irritação da cúpula do PT por seus sucessivos questionamentos, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), agora, quer explicações detalhadas sobre o encontro do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, com o dono do banco Opportunity, Daniel Dantas. Antes, ele assinou o requerimento de criação da CPI dos Correios, foi a favor da convocação do caseiro Francenildo Costa na CPI dos Bingos e mandou há duas semanas carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em que sugere o comparecimento dele ao Congresso para falar sobre a crise política e atual conjuntura. Ontem, no entanto, ele votou contra a convocação de Dantas pela CPI dos Bingos. A seguir, trechos da entrevista:  

FOLHA - Qual sua opinião sobre o encontro entre Daniel Dantas e o ministro Márcio Thomaz Bastos?
EDUARDO SUPLICY
- Liguei para o senador Heráclito Fortes (PFL-PI), porque a reunião foi na casa dele. O assunto Daniel Dantas foi objeto de perguntas e questionamentos na CPI dos Correios. Sinceramente, não estou persuadido de que há necessidade de outra CPI. São informações frágeis [denúncias sobre supostas contas de petistas no exterior]. Sobre o encontro, eu próprio avalio que seja melhor que tenhamos as informações completas. O senador Heráclito me disse que faz questão de contar o que ocorreu na casa dele. Pode haver reuniões na casa de senadores. Agora, o importante é que as partes envolvidas esclareçam o que foi conversado e, se é do interesse público, que os presentes dêem transparência total ao conteúdo.

FOLHA - Ao longo da crise,o sr. pensou em deixar o PT?
SUPLICY
- Não. Sou a favor da fidelidade partidária. Não teria vontade nenhuma de deixar o PT ao longo do meu mandato. Prefiro continuar a batalhar para que o PT seja o partido cujos objetivos e metas maiores sempre me entusiasmaram: a luta pela democracia, por ética na política e por realização de justiça em nosso país. Uma das razões pelas quais eu sou do PT é porque eu gosto muito de desvendar a verdade. É humano. É um princípio de vida.

FOLHA - O que levou o PT a cometer desvios éticos?
SUPLICY
- Uma das razões é que alguns viram que, uma vez obtida a Presidência, era preciso assegurá-la por todos os meios.

FOLHA - O presidente Lula já perdeu a paciência com o sr.?
SUPLICY
- Em alguns momentos eu sei que sim. Mas, em ele me dando a oportunidade de explicar olho no olho o que eu tenho feito, tenho a convicção de que, como amigo, ele vai respeitar.

FOLHA - Com a crise em São Paulo, segurança pública será um dos principais assuntos da campanha. Como o sr. analisa o ocorrido e quais bandeiras defenderá?
SUPLICY
- Na minha avaliação, é muito importante que percebamos que todos somos responsáveis pelo que aconteceu. Precisamos ter espírito suprapartidário e de cooperação das autoridades estaduais, municipais e da União para resolver os problemas. Na segunda-feira passada eu liguei para o governador Cláudio Lembo e expressei minha solidariedade e me coloquei à disposição para trocarmos idéias sobre o episódio. Eu pretendo dar muito mais ênfase à resolução das raízes que causam tanta violência, com os programas que defendo da renda básica de cidadania, do que dar tanta ênfase a se aumentar de um para três anos o isolamento dos presos. Eu temo um pouco por esses excessos de isolamento dos detentos porque eu fico pensando se não poderão levá-los a se tornar piores, senão à loucura. Vou dedicar meu tempo defendendo a reforma agrária, expansão do microcrédito e passagem gradual do Bolsa-Família para a Renda Básica de Cidadania.


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