|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SUCESSÃO NO ESCURO
Governistas contabilizam 419 dos 712 votos que definirão chances de governador de MG ser candidato
PMDB fiel e FHC contam votos anti-Itamar
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Articulada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, uma
aliança de cinco dos seis governadores do PMDB com a cúpula nacional do partido contabiliza que
terá maioria de votos na convenção de setembro da sigla, para
tentar tirar fôlego da candidatura
ao Palácio do Planalto do governador de Minas, o peemedebista
Itamar Franco.
Dos 712 votos da convenção de
9 de setembro, a ala do PMDB fiel
ao presidente conta com 419. Descontadas possíveis traições, hoje
estimadas em 10%, o grupo governista crê ter pelo menos 377
votos -mais do que a maioria
absoluta de 357 votos.
O plano é admitir candidatura
própria, mas sem definir nome de
candidato. Na prática, é jogar a
decisão para 2002. Os governistas
também querem evitar o rompimento com FHC e fazer maioria
na direção do partido.
"Sob os céus há um tempo determinado para cada coisa, diz a
Bíblia. Lançar nome de candidato
é assunto para 2002", afirma o governador do Piauí, Francisco de
Assis de Moraes Souza, o Mão
Santa. Ele controla todos os 20 votos do diretório do Estado e pretende usá-los a favor de FHC.
Encontro com Jarbas
O presidente aceitou o plano
peemedebista depois de se encontrar no começo do mês com o governador de Pernambuco, Jarbas
Vasconcelos. Cotado para vice do
ministro tucano José Serra (Saúde) em eventual chapa, Jarbas lhe
assegurou que a união de cinco
dos seis governadores à cúpula
nacional venceria os itamaristas.
Pernambuco tem 27 votos na
convenção e faz parte do núcleo
duro do governismo hoje.
Para justificar a tese de candidatura própria, Henrique Eduardo
Alves, deputado federal licenciado e pré-candidato a governador
do Rio Grande do Norte, afirma:
"Queremos ter o mesmo direito
que o PFL e o PSDB, partidos da
aliança que dizem ter seus presidenciáveis".
Segundo Henrique Alves, "o
discurso de Itamar é um discurso
contra o PMDB que está no governo há seis anos". Alves, que é
secretário no Rio Grande do Norte, diz que "a postura agressiva de
Itamar em relação ao próprio partido lhe criará dificuldades se quiser mesmo ser o candidato do
PMDB". Os 29 votos potiguares
na convenção são todos contra o
governador mineiro.
O núcleo duro do governismo
conta ainda com a Bahia, onde o
líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima, controla a maioria dos 29 votos. Esse núcleo é
composto também pelo diretório
do Pará (31 votos), terra do presidente do Congresso, senador Jader Barbalho.
Aliás, a aliança governadores-cúpula foi articulada por FHC e
Serra como uma saída de emergência caso o peemedebista não
resista às acusações de corrupção
contra ele e tenha de se afastar da
presidência do Senado.
FHC não está disposto a bombardear Jader, mas ele e os peemedebistas mostram-se incomodados com os respingos do desgaste do presidente do Senado.
Para o Planalto, a situação de Jader ganhou dinâmica própria.
Seu destino não depende só de rede de proteção no Congresso, mas
da mídia e da opinião pública.
Cargos e convênios
O núcleo duro do governismo
avalia que ainda poderá pescar
votos entre os 122 que considera
incertos. Os itamaristas teriam
171 votos a favor de suas duas teses, que são: definir o nome do
candidato já na convenção e romper com o governo.
A taxa de traição entre os itamaristas é de 5%, prevêem os aliados
do governo FHC. A idéia é usar o
poder de cargos e convênios federais para seduzir convencionais
pró-Itamar.
Para superar a desvantagem numérica e vencer a convenção de
setembro, o grupo que defende a
candidatura do governador de
Minas conta com o enfraquecimento de FHC e as brigas do
PMDB governista com os outros
dois partidos aliados.
"A crise energética e as dificuldades na aliança governista mostrarão que Itamar é a melhor opção para o PMDB", afirma Henrique Hargreaves, secretário da Casa Civil de Minas e articulador político do governador.
Os oposicionistas não dispõem
de cálculos para se contrapor às
projeções dos governistas. Confiam no clima da convenção e na
pressão das bases para consagrar
a candidatura Itamar.
A alternativa PDT
Se Itamar sofrer uma derrota
acachapante na convenção, poderá sair do PMDB e tentar garantir
sua candidatura a presidente em
2002 por outro partido.
As opções para o presidenciável
são o minúsculo PL, onde teria
controle total da legenda, e o PDT
do ex-governador Leonel Brizola.
Para disputar um cargo em outubro do ano que vem, o candidato que mudar de partido deve fazê-lo pelo menos um ano antes.
Assim, se perder em 9 de setembro, Itamar terá menos de quatro
semanas para encontrar seu rumo político.
A Folha apurou que, caso perca,
a tendência de Itamar é sair e tentar costurar uma espécie de frente
nacionalista, com o PDT, o PL e o
PSB do governador do Rio de Janeiro, o também presidenciável
Anthony Garotinho.
Os itamaristas deixariam aberto
um canal de diálogo com parte do
PMDB. Se no ano que vem Fernando Henrique Cardoso afundar de vez, o governador mineiro
crê que os governistas do PMDB
se aliarão a ele. Assim, teria o tempo de TV que o presidente tanto
teme que ele conquiste.
Texto Anterior: Deputados farão expedição ao Pará Próximo Texto: Tempo na TV atenua a divisão no partido Índice
|