São Paulo, domingo, 24 de junho de 2001

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SUCESSÃO NO ESCURO

Governistas contabilizam 419 dos 712 votos que definirão chances de governador de MG ser candidato

PMDB fiel e FHC contam votos anti-Itamar

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Articulada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso, uma aliança de cinco dos seis governadores do PMDB com a cúpula nacional do partido contabiliza que terá maioria de votos na convenção de setembro da sigla, para tentar tirar fôlego da candidatura ao Palácio do Planalto do governador de Minas, o peemedebista Itamar Franco.
Dos 712 votos da convenção de 9 de setembro, a ala do PMDB fiel ao presidente conta com 419. Descontadas possíveis traições, hoje estimadas em 10%, o grupo governista crê ter pelo menos 377 votos -mais do que a maioria absoluta de 357 votos.
O plano é admitir candidatura própria, mas sem definir nome de candidato. Na prática, é jogar a decisão para 2002. Os governistas também querem evitar o rompimento com FHC e fazer maioria na direção do partido.
"Sob os céus há um tempo determinado para cada coisa, diz a Bíblia. Lançar nome de candidato é assunto para 2002", afirma o governador do Piauí, Francisco de Assis de Moraes Souza, o Mão Santa. Ele controla todos os 20 votos do diretório do Estado e pretende usá-los a favor de FHC.

Encontro com Jarbas
O presidente aceitou o plano peemedebista depois de se encontrar no começo do mês com o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos. Cotado para vice do ministro tucano José Serra (Saúde) em eventual chapa, Jarbas lhe assegurou que a união de cinco dos seis governadores à cúpula nacional venceria os itamaristas. Pernambuco tem 27 votos na convenção e faz parte do núcleo duro do governismo hoje.
Para justificar a tese de candidatura própria, Henrique Eduardo Alves, deputado federal licenciado e pré-candidato a governador do Rio Grande do Norte, afirma: "Queremos ter o mesmo direito que o PFL e o PSDB, partidos da aliança que dizem ter seus presidenciáveis".
Segundo Henrique Alves, "o discurso de Itamar é um discurso contra o PMDB que está no governo há seis anos". Alves, que é secretário no Rio Grande do Norte, diz que "a postura agressiva de Itamar em relação ao próprio partido lhe criará dificuldades se quiser mesmo ser o candidato do PMDB". Os 29 votos potiguares na convenção são todos contra o governador mineiro.
O núcleo duro do governismo conta ainda com a Bahia, onde o líder do PMDB na Câmara, Geddel Vieira Lima, controla a maioria dos 29 votos. Esse núcleo é composto também pelo diretório do Pará (31 votos), terra do presidente do Congresso, senador Jader Barbalho.
Aliás, a aliança governadores-cúpula foi articulada por FHC e Serra como uma saída de emergência caso o peemedebista não resista às acusações de corrupção contra ele e tenha de se afastar da presidência do Senado.
FHC não está disposto a bombardear Jader, mas ele e os peemedebistas mostram-se incomodados com os respingos do desgaste do presidente do Senado. Para o Planalto, a situação de Jader ganhou dinâmica própria. Seu destino não depende só de rede de proteção no Congresso, mas da mídia e da opinião pública.

Cargos e convênios
O núcleo duro do governismo avalia que ainda poderá pescar votos entre os 122 que considera incertos. Os itamaristas teriam 171 votos a favor de suas duas teses, que são: definir o nome do candidato já na convenção e romper com o governo.
A taxa de traição entre os itamaristas é de 5%, prevêem os aliados do governo FHC. A idéia é usar o poder de cargos e convênios federais para seduzir convencionais pró-Itamar.
Para superar a desvantagem numérica e vencer a convenção de setembro, o grupo que defende a candidatura do governador de Minas conta com o enfraquecimento de FHC e as brigas do PMDB governista com os outros dois partidos aliados.
"A crise energética e as dificuldades na aliança governista mostrarão que Itamar é a melhor opção para o PMDB", afirma Henrique Hargreaves, secretário da Casa Civil de Minas e articulador político do governador.
Os oposicionistas não dispõem de cálculos para se contrapor às projeções dos governistas. Confiam no clima da convenção e na pressão das bases para consagrar a candidatura Itamar.

A alternativa PDT
Se Itamar sofrer uma derrota acachapante na convenção, poderá sair do PMDB e tentar garantir sua candidatura a presidente em 2002 por outro partido.
As opções para o presidenciável são o minúsculo PL, onde teria controle total da legenda, e o PDT do ex-governador Leonel Brizola.
Para disputar um cargo em outubro do ano que vem, o candidato que mudar de partido deve fazê-lo pelo menos um ano antes. Assim, se perder em 9 de setembro, Itamar terá menos de quatro semanas para encontrar seu rumo político.
A Folha apurou que, caso perca, a tendência de Itamar é sair e tentar costurar uma espécie de frente nacionalista, com o PDT, o PL e o PSB do governador do Rio de Janeiro, o também presidenciável Anthony Garotinho.
Os itamaristas deixariam aberto um canal de diálogo com parte do PMDB. Se no ano que vem Fernando Henrique Cardoso afundar de vez, o governador mineiro crê que os governistas do PMDB se aliarão a ele. Assim, teria o tempo de TV que o presidente tanto teme que ele conquiste.



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