São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

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RUMO ÀS ELEIÇÕES

Presidente se disporia a receber petista, mas não tomará iniciativa

FHC espera pedido de Lula para debater crise do país

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso está disposto a receber o pré-candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, desde que fique claro para o Palácio do Planalto que não há propósito eleitoral na intenção manifestada pelo petista ontem de dialogar com o governo sobre a crise econômica do país.
Basta, para que a conversa ocorra, um pedido formal de Lula. A informação é de um auxiliar direto de FHC, com o qual o presidente despacha diariamente.
"O presidente concede [a audiência", como concederá a qualquer outro. Mas é preciso ficar claro que não há propósito eleitoral. Não haveria sentido, numa iniciativa dessa natureza", disse o presidente nacional do PSDB, José Aníbal (SP).
Lula se dispôs a dialogar "com todos os segmentos da sociedade e com o próprio governo" em discurso pronunciado anteontem, durante encontro do PT realizado em São Paulo para discutir o programa de governo da sigla.
Lula não chegou a propor diretamente um encontro com FHC. A possibilidade de haver uma conversa entre ambos foi levantada pelo coordenador do programa de governo do PT, Antônio Palocci. Mas não há nada agendado até agora.
No discurso de sábado, Lula declarou-se disposto a discutir uma agenda de resposta à crise com o governo, mas responsabilizou a condução da política econômica, segundo ele "apresentada de modo totalitário como único caminho possível para o Brasil", pelo nervosismo do mercado. Foi uma resposta aos tucanos, e em particular ao candidato do PSDB à Presidência, José Serra.
A crítica não é aceita nem no Planalto nem na campanha de Serra. Mas, segundo assessores de FHC, a união de todas as forças políticas para enfrentar a crise de credibilidade que deixou o mercado financeiro nervoso seria uma demonstração positiva de equilíbrio e de normalidade.
Ao contrário de setores do PSDB, que desconfiam de retórica eleitoral na disposição de Lula para o diálogo, assessores do presidente dizem preferir acreditar que o petista foi sincero em suas declarações. Do contrário, o presidente não teria o menor interesse em receber Lula.
Além disso, de acordo com o Planalto, quem conhece FHC sabe que ele não se nega a conversar.

Encontros anteriores
Nos dois mandatos de FHC, Lula esteve duas vezes com o presidente. A primeira foi em dezembro de 1998, no Palácio do Alvorada. A segunda, em janeiro deste ano, após o sequestro e assassinato do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel.
Realizada no Planalto, foi a primeira conversa oficial do chefe do governo com o chefe da oposição. Lula estava acompanhado do presidente do PT, José Dirceu (SP).
Os dois foram manifestar preocupação com o crescimento do crime organizado no país e sua ramificação na política, na economia, nas polícias e na Justiça. Em 1995, a pedido de Lula, FHC recebeu Dirceu e outros dirigentes petistas para uma conversa sobre a reforma agrária.
O Planalto saudou outros aspectos do discurso feito no sábado passado por Lula, como os compromissos assumidos pelo petista de honrar os contratos e de manter a estabilidade e a política de controle da inflação.
O Planalto ressalta, no entanto, que Lula apenas repetiu o que o governo vem dizendo e que sempre tentou fazer nesses sete anos e meio de mandato.
A reação ao discurso do petista na campanha de Serra foi idêntico à do Planalto. Para os tucanos, Lula cada vez mais se aproxima do discurso do candidato do PSDB. Mas é maior a desconfiança de que tudo não passa de retórica.



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