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CONFLITO AGRÁRIO
Presidente determina que Dulci e Dirceu ampliem diálogo com entidades e marca encontro com MST
Nova onda de invasões preocupa, diz Lula
LEILA SUWWAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da
Silva disse ontem que está "preocupado" com a nova onda de invasões de terra e que pretende se
reunir com os dirigentes do MST
(Movimento dos Trabalhadores
Rurais Sem Terra) na segunda semana de julho. Até que o encontro ocorra, determinou que os ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral) e José Dirceu (Casa Civil) ampliem o diálogo com as entidades
que representam os sem-terra.
A mobilização do Planalto ocorreu na véspera do lançamento do
Plano Safra para a agricultura familiar. Apesar do anúncio de R$
5,4 bilhões em crédito rural, os
sem-terra não estão satisfeitos e
criticam a falta de novos assentamentos em seis meses de governo.
A verba para a agricultura familiar já havia sido anunciada por
Lula no dia 14 de maio, durante o
lançamento do Grito da Terra.
O encontro de Lula com membros do MST deve ocorrer no dia
7 de julho e vem sendo cobrado
pelo MST desde o começo do ano.
Segundo o Planalto, Dirceu e Dulci já tiveram três reuniões com as
entidades dos sem-terra. Será difícil negociar a contenção de invasões no campo sem a sinalização
concreta de assentamentos no início do segundo semestre.
A meta inicial do governo era de
assentar 37 mil famílias neste ano,
mas Lula prometeu beneficiar 60
mil durante o Grito da Terra.
"O governo está empenhado em
estabelecer um diálogo com as diversas entidades representativas
do setor para que o Brasil conclua
uma reforma agrária tranquila e
pacífica. O presidente acredita ser
possível, estritamente dentro da
lei, assentar os que precisam de
terra", disse o porta-voz da Presidência, André Singer. No dia 21 de
maio, em Balsas (MA), Lula condenou invasões violentas de terra.
Para o MST, as invasões não são
um protesto contra o governo,
mas um instrumento de pressão
que continuará a ser usado. "As
ocupações vão continuar. O governo não tem justificativa para
pedir que elas parem. Compreendemos as dificuldades que o governo herdou, mas temos 90 mil
famílias acampadas. Nenhuma
família do MST foi assentada neste ano", disse João Paulo Rodrigues, dirigente nacional do MST.
O governo ainda não assentou
sem-terras neste ano, mas iniciou
processos de desapropriação que,
quando forem completados, permitirão o assentamento de cerca
de 6.000 famílias. O Incra só pode
assentar uma família depois de
sair a imissão de posse do terreno.
Segundo o ministro Miguel Rossetto, o governo decretou a desapropriação de áreas que totalizam
197 mil hectares, mas ainda não
houve imissão de posse de nenhuma área (algumas tiveram a desapropriação contestada na Justiça).
Outra reclamação é a de que o
diálogo com o governo não tem se
traduzido em ações concretas no
campo: "Não dá mais para a gente
segurar os trabalhadores com um
"vamos aguardar'", disse Manuel
dos Santos, presidente da Contag
(Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura). "Temos conversado com o governo,
mas o processo não se resolve só
na conversa. Já se passaram seis
meses de governo. Queremos
uma política efetiva", completou.
Para o governo, as invasões são
um meio de pressão que se tornará desnecessário à medida que a
reforma deslanchar. "Não há motivo para que haja invasões nessa
escala porque o governo está conversando com os sem-terra", disse Dulci à rádio Jovem Pan.
Como novidade aos sem-terra,
o governo deve anunciar no encontro do dia 7 que decidiu elaborar um novo PNRA (Plano Nacional de Reforma Agrária). E, para
coordenar o plano, o governo
convidou o economista Plínio de
Arruda Sampaio, nome de consenso entre os movimentos.
De acordo com Manuel dos
Santos, da Contag, a liberação do
crédito é positiva, mas não atende
à reivindicação original, de R$ 8
bilhões: "O desafio para o governo é a aplicação dos recursos".
Colaborou EDUARDO SCOLESE, da
Agência Folha
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