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ELEIÇÕES 2006/ PRESIDÊNCIA
Lula troca "Brasil decente" por "força do povo"
Slogan ético usado em 2002 é substituído por ligação com os mais pobres, que sustentam favoritismo de petista nas pesquisas
Em resposta à oposição, presidente dirá hoje ao se assumir candidato que tem projeto de nação e que vai manter controle da inflação
KENNEDY ALENCAR
MALU DELGADO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Sem a bandeira ética que levantou na campanha de 2002,
Luiz Inácio Lula da Silva, 60,
assume hoje a candidatura à
reeleição dizendo que deseja
um segundo mandato para
"aprofundar as mudanças" em
benefício dos mais pobres.
O Lula candidato hoje é diferente do oposicionista de 2002
-quando adotou uma linha
moral sintetizada no slogan
"Por um Brasil decente, vote
Lula presidente". Após a crise
do mensalão e de três anos e
meio de gestão, a condição de
presidente pede um discurso
com menos "bravata", como o
próprio Lula já classificou a antiga retórica petista.
Agora, perdeu o diferencial
ético e a liberdade de promessas típicas da oposição.
Não por acaso, o slogan desse
ano busca reforçar seu elo com
os mais pobres para os quais diz
ter governado e que sustentam,
por ora, seu favoritismo nas
pesquisas. "Lula de novo, com a
força do povo" é o jingle da convenção nacional do PT, que
acontece hoje a partir das 10h
em um clube de Brasília.
Para rebater críticas da oposição, Lula lançará "vacinas"
contra as eventuais mudanças
da política econômica e farra
fiscal a partir de 2007. Dirá que
o combate à inflação continuará prioritário e que manterá o
controle dos gastos públicos,
segundo apurou a Folha.
FHC e Alckmin
Nas palavras de um ministro,
o discurso "terá alto teor comparativo" com os dois governos
de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). A intenção é ligar o ex-presidente ao atual
candidato do PSDB ao Palácio
do Planalto, Geraldo Alckmin.
Repetindo análise feita no
Encontro Nacional do PT em
abril, Lula dirá que recebeu de
FHC um país em crise e fará um
balanço de governo, enfatizando que promoveu ações de inclusão social superiores à de
governos anteriores.
"Nós temos o que apresentar
à sociedade. Não precisamos
entrar no clima de baixaria.
Não vamos sucumbir a essa
tentação", afirma Marco Aurélio Garcia, assessor especial de
Lula para assuntos internacionais e coordenador do novo
programa de governo. A orientação é evitar ataques diretos
ao PSDB e ao PFL.
Alencar e propostas
Melhoria da educação básica,
reforma política e um governo
de coalizão serão destacados no
discurso. Priorizar a educação
seria uma segunda etapa na
área social. A reforma política é
uma resposta à crise do mensalão, que deteriorou as relações
entre Executivo e Legislativo,
além de destruído o pilar ético
do PT. Ao abordar o governo de
coalizão, Lula afagará aliados,
especialmente o PMDB, deixando claro que o PT não consegue governar sozinho.
O vice-presidente José Alencar (PRB), que repetirá a dobradinha com Lula, também
receberá atenção especial, sobretudo depois das negociações
fracassadas com PMDB e o PSB
que desgastaram a relação entre os dois. Antes de fechar com
Alencar, o presidente ofereceu
a vaga aos outros dois partidos.
Lula citará o que nas reuniões os ministros chamam de
"projetos estruturantes". Dirá
que começou a implementar
mudanças nas áreas de energia,
infra-estrutura e social e que
pretende continuá-las por serem estratégicas para o futuro
do país. Um exemplo é a obsessão presidencial pelo biodiesel.
O discurso deve ser lido por
volta das 12h. O texto foi preparado principalmente por três
auxiliares: os ministros Luiz
Dulci (Secretaria Geral) e Tarso
Genro (Relações Institucionais) e o seu novo marqueteiro,
João Santana. É possível que
Lula improvise, apesar de auxiliares dizerem que a intenção é
fazer um discurso em tom sóbrio e de estadista.
Presidente-candidato
Por cálculo político e para
evitar problemas com a Justiça
Eleitoral, Lula passou os últimos meses agindo como candidato sem admissão pública. No
auge da crise do mensalão, em
agosto passado, hesitou em
concorrer. Foi quando o publicitário Duda Mendonça admitiu ter recebido recursos do valerioduto em pagamento da
campanha de 2002. Lula chegou a temer um impeachment e
caiu nas pesquisas.
No entanto, em viagem à Europa em outubro, disse a dirigentes de partidos de esquerda
de Portugal e Itália que concorreria a um segundo mandato
por avaliar que superaria a crise. Desde então dedicou-se a
uma série de inaugurações pelo
país que substituirá por "vistorias" a partir de 1º de julho, data
em que a campanha começa
oficialmente. Nesse período,
recuperou o cacife eleitoral e se
mantém favorito na pesquisas.
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