São Paulo, domingo, 24 de junho de 2007

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Gravações colocam Roriz sob suspeita

Diálogo entre o senador do PMDB e o ex-presidente do BRB (Banco de Brasília) insinua negociação para partilha de R$ 2,2 mi

Abertura de inquérito contra o ex-governador do DF deve ser decidida pelo procurador-geral da República nos próximos dias

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Conversas gravadas em 13 de março último, com autorização judicial, registraram o senador e ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz (PMDB) supostamente combinando a partilha de dinheiro. O caso chegou ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, que irá decidir se requisita ao Supremo Tribunal Federal a abertura de inquérito criminal contra Roriz.
São dois diálogos entre o ex-governador (1998-2006) e o ex-presidente do BRB (Banco de Brasília) Tarcísio Franklin de Moura, gravados pela Polícia Civil do DF na Operação Aquarela. A operação resultou na prisão de 19 pessoas em Brasília e em São Paulo, inclusive Moura, por suspeita de desvio de R$ 50 milhões do BRB.
Em uma das conversas, Moura avisa a Roriz que já está com o dinheiro, pergunta para onde levar o montante e sugere entregar o dinheiro na casa de Roriz. O senador diz: "O dinheiro é de muita gente". Moura afirma: "Ahã. Pois é. O problema é que tinha de centralizar em um lugar e fazer [supostamente a partilha]. Porque depósito mesmo é só um, de 200 e poucos mil. E como é que entrega os outros? Não tem jeito. Tinha que entregar num lugar, pra naquele lugar dividir. Eu imaginei que podia levar para lá [casa de Roriz]." O senador rejeita a sugestão: "Não convém, não."
Em outro diálogo, eles aparentemente acertam fazer a partilha no escritório do empresário Constantino de Oliveira, conhecido como Nenê, presidente do conselho de administração da companhia aérea Gol. Moura indaga: "Por que a gente não leva lá para o escritório do Nenê?" Roriz responde: "É pra isso mesmo". Moura prossegue: "E, de lá, sai cada um com o seu". Roriz afirma: "An, então "tá" ótimo. Nós pensamos a mesma coisa".
No mesmo dia, segundo relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras, houve um saque de R$ 2,231 milhões em uma agência do BRB em nome de Constantino, que afirma não possuir conta nesse banco. Contrariando normas bancárias, segundo a apuração, Moura teria autorizado a compensação do cheque, de uma agência do Banco do Brasil em Taguatinga (DF), emitido pela Agrícola Xingu.
Roriz tem dito a interlocutores estar disposto a prestar esclarecimentos, mas que aguardará a eventual abertura do inquérito. Por meio de assessores, confirmou ter recebido R$ 300 mil do empresário, como empréstimo pessoal para pagar uma compra de gado nelore que havia negociado com a Universidade de Marília (SP).
No final da tarde do ontem, a Gol divulgou nota em que confirma a entrega do cheque de Constantino para Roriz. O texto explica que os R$ 2,2 milhões se referiam à venda de uma fazenda do empresário e, feita a compensação do cheque, Roriz devolveu R$ 1,9 milhão. A diferença de R$ 300 mil seria o empréstimo ao senador.
Procurado pela Folha, por meio de sua assessoria de imprensa, o procurador-geral Antonio Fernando de Souza disse que não se manifestaria porque a apuração está sob sigilo. (RENATA GIRALDI E SILVANA DE FREITAS)

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