São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 2008

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Procuradoria pede apuração sobre nome do caso Alstom

STJ precisa autorizar investigação contra Robson Marinho, conselheiro do TCE

Nome de Marinho, que não foi localizado ontem, surgiu em apuração sobre supostas propinas pagas a políticos do PSDB entre 1997 e 2003


MARIO CESAR CARVALHO
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério Público Federal de São Paulo solicitou ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) que instaure uma investigação criminal para apurar o eventual envolvimento de Robson Marinho com o pagamento de propinas para políticos do PSDB paulista.
O STJ precisa autorizar a investigação criminal porque Marinho é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado e goza de foro privilegiado, da mesma forma que ocorre com desembargadores.
O conselheiro já é investigado na área cível pelo Ministério Público Estadual porque nessa esfera da Justiça não vigora o foro privilegiado.

O ex-secretário
O nome de Marinho surgiu no curso de uma investigação feita pelo Ministério Público da Suíça sobre supostas propinas pagas pela Alstom para obter contratos com o governo de São Paulo entre 1997 e 2003.
Um documento apreendido pelos promotores suíços traz a sigla "RM", acompanhada de duas informações que sugerem tratar-se de Robson Marinho: ele é apresentado como um ex-secretário do governador e parte da propina paga iria para o Tribunal de Contas, como está anotado num memorando em francês obtido pela Folha.
O texto, datado de 21 de outubro de 1997, afirma o seguinte sobre a suposta propina: "Ela está sendo negociada por meio de um ex-secretário do governador (RM). Ela diz respeito a: finanças do partido, Tribunal de Contas e Secretaria de Energia".
O memorando detalha o suposto destino da comissão de 7,5%: "Trata-se de remuneração para o governo local".
Marinho foi chefe da Casa Civil do governador Mario Covas (PSDB) entre janeiro de 1995 e abril de 1997, quando o então governador indicou-o para o Tribunal de Contas. Antes, ele havia sido o coordenador da campanha de Covas.
O mesmo memorando diz que a propina a ser paga seria de 7,5% em relação a um contrato de R$ 110 milhões da Eletropaulo. Em 1997, a Eletropaulo negociava a reativação de um contrato de 1990 para a compra de sete transformadores e uma subestação blindada.
Os equipamentos foram usados numa subestação do Cambuci, na região central de São Paulo (subestação é o local onde a energia sofre reduções para ser distribuída aos usuários).
O memorando foi trocado por dois diretores da Cegelec na França, Bernard Metz e André Botto. A Cegelec mundial, empresa da área de energia, foi comprada pela Alstom em 1997, mesmo ano em que começou a negociação na França para o pagamento de propinas a políticos do PSDB paulista.
Só nesse contrato da Eletropaulo a suposta propina de 7,5% corresponde a R$ 8,25 milhões. Esse valor, porém, não é o total das "gratificações ilícitas", como os suíços chamam as comissões.
Os promotores daquele país têm documentos segundo os quais a Alstom transferiu cerca de US$ 5 milhões entre 1998 e 2003 só para um dos intermediários dos políticos, chamado nos papéis de Claudio Mendes.
Marinho foi voz solitária no Tribunal de Contas na defesa de um contrato entre o Metrô e a Alstom que durou 13 anos -de 1994 a 2007. No final do julgamento, o órgão considerou irregulares todos os acréscimos feitos a partir de 2001. Nesse negócio, o Metrô pagou R$ 57 milhões para que a Alstom construísse um centro de controle operacional.

Outro lado
A reportagem da Folha não conseguiu localizar Marinho ontem. Quando a Folha revelou que ele fora a única voz a defender o contrato do Metrô com a Alstom, o conselheiro disse que não havia privilegiado a empresa. Afirmou que esse contrato durou tanto tempo porque a tecnologia sofrera mudanças e o Metrô não poderia aceitar produtos defasados.


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