São Paulo, quarta-feira, 24 de junho de 2009

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Sob pressão, Sarney demite o diretor-geral do Senado

Heráclito Fortes (DEM) indica substituto, e líder tucano dá "voto de confiança"

Novo diretor-geral é chefe de gabinete de Heráclito; nova diretora de Recursos Humanos era chefe de gabinete de Roseana Sarney

Lula Marques/Folha Imagem
O primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM), apresenta o novo diretor-geral, Haroldo Tajra, seu atual chefe de gabinete

ANDREZA MATAIS
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em mais uma tentativa para sobreviver no cargo, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), demitiu das funções o diretor-geral, Alexandre Gazineo, e o diretor de Recursos Humanos, Ralph Siqueira, suspeitos de envolvimento no escândalo dos atos secretos.
É o segundo diretor-geral que deixa o cargo neste ano. Agaciel Maia foi o primeiro, depois de ficar no poder por 14 anos escolhido por Sarney. Ele foi exonerado da função em março depois da revelação de que escondeu da Justiça uma casa avaliada em R$ 5 milhões.
Gazineo e Ralph eram homens de confiança de Agaciel e de João Carlos Zoghbi, respectivamente. Zoghbi deixou neste ano a diretoria de Recursos Humanos, após a divulgação de que ele emprestou um apartamento funcional para os filhos.
O caso de Agaciel iniciou uma crise no Senado que envolveu a descoberta de pagamento de horas extras, recebimento de auxílio-moradia de forma irregular e atos secretos beneficiando senadores e servidores.
Os novos diretores do Senado -que tem orçamento de R$ 2,7 bilhões- foram escolhidos numa operação de blindagem para tentar controlar as turbulências na Casa. Ambos têm ligações com o PMDB e o DEM, partidos que querem manter Sarney na presidência.
O novo diretor-geral, Haroldo Tajra, por exemplo, foi escolha do primeiro-secretário Heráclito Fortes (DEM-PI) e é seu atual chefe de gabinete.
A nova diretora de Recursos Humanos, Doris Marize Peixoto, era até abril chefe de gabinete de Roseana Sarney (PMDB-MA) -ela estava lá quando uma sobrinha de Sarney foi contratada no local por ato secreto. Foi Doris quem presidiu a comissão que identificou os atos secretos. Eles ficarão no cargo por ao menos 90 dias.
A troca no comando do Senado ocorre após vários senadores darem um ultimato a Sarney: ou ele propunha mudanças ou perderia a condição política de permanecer no cargo.
Os novos nomes foram indicados sem que os líderes partidários ou a Mesa Diretora tivessem sido consultados. Heráclito disse que foi uma escolha dele e que Sarney não interferiu na decisão. A Folha apurou, porém, que outras sugestões foram apresentadas, mas houve veto de Sarney por considerá-los muito independentes.
Líder do PSDB e um dos principais críticos de Sarney, Arthur Virgílio (AM) disse que daria um "voto de confiança" aos escolhidos e espera que eles mostrem que estão comprometidos com mudanças.
Em reunião a portas fechadas, os líderes Aloizio Mercadante (PT-SP) e Virgílio pediram a Sarney a demissão de Agaciel. Foi na gestão do ex-diretor-geral que atos deixaram de ser publicados.
Sarney consultou a advocacia do Senado, que disse não ser possível afastá-lo sem a decisão de uma comissão de inquérito. Ele então teria concordado em fazer um apelo a Agaciel e Zoghbi para que não venham à Casa até a conclusão da sindicância que os investiga.
Com 14 anos de poder no Senado, Agaciel reuniu informações sobre todos os senadores que, segundo o líder tucano, estão sendo ameaçados por ele.
Nos próximos dias, os senadores devem aprovar projeto de resolução para que o novo diretor-geral seja escolhido em plenário e tenha mandato de dois anos, prorrogáveis por mais dois. Também querem ter o poder para exonerá-lo através de votação no plenário.
O Senado anunciou que pedirá ao TCU (Tribunal de Contas da União) uma auditoria na folha de pagamento e nos contratos. Foi anunciada ainda a criação do Portal da Transparência da Casa na internet.


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