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Sob pressão, Sarney demite o diretor-geral do Senado
Heráclito Fortes (DEM) indica substituto, e líder tucano dá "voto de confiança"
Novo diretor-geral é chefe de gabinete de Heráclito; nova diretora de Recursos Humanos era chefe de gabinete de Roseana Sarney
Lula Marques/Folha Imagem
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O primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM), apresenta o novo diretor-geral, Haroldo Tajra, seu atual chefe de gabinete
ANDREZA MATAIS
VALDO CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em mais uma tentativa para
sobreviver no cargo, o presidente do Senado, José Sarney
(PMDB-AP), demitiu das funções o diretor-geral, Alexandre
Gazineo, e o diretor de Recursos Humanos, Ralph Siqueira,
suspeitos de envolvimento no
escândalo dos atos secretos.
É o segundo diretor-geral
que deixa o cargo neste ano.
Agaciel Maia foi o primeiro, depois de ficar no poder por 14
anos escolhido por Sarney. Ele
foi exonerado da função em
março depois da revelação de
que escondeu da Justiça uma
casa avaliada em R$ 5 milhões.
Gazineo e Ralph eram homens de confiança de Agaciel e
de João Carlos Zoghbi, respectivamente. Zoghbi deixou neste
ano a diretoria de Recursos Humanos, após a divulgação de
que ele emprestou um apartamento funcional para os filhos.
O caso de Agaciel iniciou uma
crise no Senado que envolveu a
descoberta de pagamento de
horas extras, recebimento de
auxílio-moradia de forma irregular e atos secretos beneficiando senadores e servidores.
Os novos diretores do Senado -que tem orçamento de R$
2,7 bilhões- foram escolhidos
numa operação de blindagem
para tentar controlar as turbulências na Casa. Ambos têm ligações com o PMDB e o DEM,
partidos que querem manter
Sarney na presidência.
O novo diretor-geral, Haroldo Tajra, por exemplo, foi escolha do primeiro-secretário Heráclito Fortes (DEM-PI) e é seu
atual chefe de gabinete.
A nova diretora de Recursos
Humanos, Doris Marize Peixoto, era até abril chefe de gabinete de Roseana Sarney (PMDB-MA) -ela estava lá quando
uma sobrinha de Sarney foi
contratada no local por ato secreto. Foi Doris quem presidiu
a comissão que identificou os
atos secretos. Eles ficarão no
cargo por ao menos 90 dias.
A troca no comando do Senado ocorre após vários senadores darem um ultimato a Sarney: ou ele propunha mudanças ou perderia a condição política de permanecer no cargo.
Os novos nomes foram indicados sem que os líderes partidários ou a Mesa Diretora tivessem sido consultados. Heráclito disse que foi uma escolha
dele e que Sarney não interferiu na decisão. A Folha apurou,
porém, que outras sugestões
foram apresentadas, mas houve veto de Sarney por considerá-los muito independentes.
Líder do PSDB e um dos
principais críticos de Sarney,
Arthur Virgílio (AM) disse que
daria um "voto de confiança"
aos escolhidos e espera que
eles mostrem que estão comprometidos com mudanças.
Em reunião a portas fechadas, os líderes Aloizio Mercadante (PT-SP) e Virgílio pediram a Sarney a demissão de
Agaciel. Foi na gestão do ex-diretor-geral que atos deixaram
de ser publicados.
Sarney consultou a advocacia do Senado, que disse não
ser possível afastá-lo sem a decisão de uma comissão de inquérito. Ele então teria concordado em fazer um apelo a Agaciel e Zoghbi para que não venham à Casa até a conclusão da
sindicância que os investiga.
Com 14 anos de poder no Senado, Agaciel reuniu informações sobre todos os senadores
que, segundo o líder tucano, estão sendo ameaçados por ele.
Nos próximos dias, os senadores devem aprovar projeto
de resolução para que o novo
diretor-geral seja escolhido em
plenário e tenha mandato de
dois anos, prorrogáveis por
mais dois. Também querem ter
o poder para exonerá-lo através de votação no plenário.
O Senado anunciou que pedirá ao TCU (Tribunal de Contas da União) uma auditoria na
folha de pagamento e nos contratos. Foi anunciada ainda a
criação do Portal da Transparência da Casa na internet.
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