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Pesquisadoras desenham perfil dos fiscais da lei
DA REPORTAGEM LOCAL
Em sua maioria, os procuradores da República (uma versão
brasileira de Eliot Ness, agente
federal norte-americano que
prendeu o mafioso Al Capone)
são jovens e vivem um processo
de ascensão social e econômica.
"Os procuradores exercem
uma atividade relevante, estão
todos os dias nos jornais. Seria
de estranhar se o Ministério Público não estivesse cheio de jovens", diz a professora Maria
Tereza Sadek, do Idesp (Instituto de Estudos Econômicos Sociais e Políticos de São Paulo).
Os defeitos que em geral são
atribuídos a esses fiscais da lei
não são específicos do Ministério Público, segundo Sadek:
"Eles têm dado uma contribuição muito importante para o
processo democrático". Para
ela, se outras instituições, como
os tribunais de contas e os legislativos, cumprissem o seu papel,
a eficiência que se exige do Ministério Público seria menor.
O presidente da Associação
Nacional dos Procuradores da
República, Carlos Frederico
Santos, diz que é inócuo o governo federal propor um plano
nacional de segurança pública,
criando 12 mil cargos de policiais, enquanto o MPF continua
com quadros reduzidos. "De
que adianta criar novos cargos
de policiais, se não há quem leve
os criminosos às barras do tribunal?", pergunta Santos.
Em 1997, Maria Teresa Sadek
e a subprocuradora-geral da República Ela Wiecko Castilho
coordenaram uma pesquisa sobre o perfil do MPF.
A média de idade dos procuradores é 36 anos; 71,6% são homens; a maioria provém de classe média; outros são de classe
baixa. A pesquisa do Idesp revela que só 21% dos procuradores
são filhos de pais que exercem
atividades de nível superior.
O pai de Rogério Nascimento
foi operário metalúrgico. O de
Mário Bonsaglia, alfaiate. O de
Artur Gueiros, representante
comercial. Airton de Barros orgulha-se de ser filho de um ex-artista de circo e pedreiro. Airton diz que, ainda estudante, ao
ler os sobrenomes famosos dos
promotores paulistas, não acreditava que entraria no Ministério Público. Antes de ingressarem na instituição, 95% dos
procuradores desempenharam
uma atividade remunerada.
Blat ajudava o pai, dono de
restaurante, a atender os clientes. Raquel Branquinho e Luiz
Francisco foram bancários.
Também ex-bancário, Bonsaglia foi escrivão de delegacia.
Airton foi auxiliar de caixa e escrevente de cartório.
A pesquisa do Idesp revela
uma alta inclinação dos integrantes do MPF (61%) por carreiras ligadas à defesa dos interesses públicos. Quanto ao espectro ideológico, a maioria
(53%) classifica-se como de
centro-esquerda. Nenhum dos
entrevistados se diz de direita.
Dos ouvidos pela Folha, apenas
Luiz Francisco teve militância
partidária (foi filiado ao PT).
Só uma minoria (18,5%) ingressou na instituição antes da
Constituinte. É forte a rejeição
ao exercício concomitante de
atividade privada, como a advocacia, opção garantida aos admitidos antes da Constituição.
Para 93% dos procuradores,
os principais obstáculos ao bom
funcionamento da justiça são a
falta de recursos materiais na
polícia e o mau desempenho
dessa instituição (para 85%).
Entre as propostas listadas na
pesquisa, a mais consensual foi
a que advoga a tramitação direta
de inquéritos entre a polícia e o
Ministério Público, sem participação do Judiciário.
(FV)
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