São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 2002

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BASTIDORES

Para presidente, más notícias econômicas prejudicam tucano

FHC avalia que será difícil uma recuperação de Serra

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso já classifica como dificílima, em conversas reservadas, a recuperação do candidato da aliança PSDB-PMDB ao Planalto, José Serra, se Ciro Gomes (PPS) mantiver nas pesquisas uma dianteira de cerca de 15 pontos percentuais sobre o tucano até 20 de agosto, o início do horário eleitoral gratuito no rádio e na TV.
A Folha apurou que a avaliação pessimista de FHC embute uma autocrítica em relação às más notícias econômicas produzidas pelo governo, como aumento das tarifas públicas e dos preços controlados pela União. O presidente julga que o cenário externo sombrio, com a turbulência na economia dos EUA, também atrapalhará o Brasil. Esse efeito negativo sobrará para Serra, apesar de ele ter liberdade para marcar diferenças e criticar o governo.
A análise do presidente sobre a dificuldade de recuperação de Serra, porque também ficaria difícil segurar aliados e cabos eleitorais, foi feita antes de ele ser informado de que há pesquisas de consumo interno do PSDB que já revelariam empate técnico no primeiro turno entre Ciro e Lula.
Segundo a pesquisa do PSDB, Ciro e Lula teriam entre 32% e 34%, e Serra, por volta dos 14%.
FHC, porém, não jogará a toalha. Está disposto a participar de atos de campanha antes mesmo do horário eleitoral. Diante da dificuldade operacional de ir a um comício, FHC poderá comparecer ao lançamento do livro com a biografia de Serra ou a um encontro de políticos, como o de hoje. "Estar atrás nas pesquisas não é importante agora. A partir da propaganda na TV, vamos virar o jogo", diz o tucano Jutahy Júnior (BA).
As pesquisas levaram o PSDB a priorizar um plano de ataque a Ciro, com o ápice no horário eleitoral. Estão sendo estudadas as gestões de Ciro na Prefeitura de Fortaleza, no governo do Ceará e no Ministério da Fazenda. A intenção também é indagar se Ciro realmente representa mudanças por se aliar a políticos com "idéias antigas", como Leonel Brizola.
O PSDB espera a ajuda do PT nas críticas, por avaliar que Lula não deseja ver Ciro passar ao segundo turno com larga vantagem. "A TV é nossa hora de exercer o contraditório", diz o marqueteiro de Serra, Nizan Guanaes.
Serra terá praticamente o dobro do tempo de TV de Ciro e Lula.
Nizan acha que Ciro continuou crescendo após seus programas de TV de junho devido ao "efeito Tostines das pesquisas". Segundo ele, Ciro sobe numa pesquisa, imediatamente é feito outro levantamento aproveitando o noticiário sobre a ascensão, o que funcionaria como novo estímulo.
Nizan brinca, associando-se ao técnico Luiz Felipe Scolari, que ganhou o pentacampeonato após campanha medíocre nas eliminatórias e depois de sofrer críticas: "Não sei se o Felipão me apóia, mas tenho me apoiado no Felipão". Scolari declarou apoio a Ciro, mas no dia seguinte recuou.
Tido como melhor comunicador tucano, FHC deverá dizer na TV que houve um "salto econômico" em seus dois mandatos, "há muito por fazer" e o mais preparado para dar um "salto social" é Serra, que "entende de economia e do social".
O "entende de economia" é contraponto a Ciro, cujas propostas seriam inconsistentes. A passagem de quatro meses pela Fazenda teria sido marcada por erros. A menção ao "social" tenta tirar do PT sua principal marca e mostrar que o tucano reúne qualidades que Ciro e Lula dizem ter.


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