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ELEIÇÕES 2006 / PRESIDÊNCIA
Lula diz que, sem reforma, novos escândalos surgirão
"Precisamos mexer nessa ferida chamada política brasileira", diz petista no Nordeste
Presidente atribui casos de corrupção à deformação do sistema, mas não detalha que medidas efetivas iria tomar em um 2º mandato
PEDRO DIAS LEITE
ENVIADO ESPECIAL A OLINDA
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM OLINDA
A poucos meses do final de
seu governo, o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, candidato
à reeleição, defendeu ontem
em Olinda (PE) uma reforma
política como o único meio de
acabar com os escândalos de
corrupção no Brasil.
O petista disse que, se nada
for feito, os casos vão se repetir.
"Nós precisamos mexer nessa
ferida chamada política brasileira", afirmou. Foi no mandato
de Lula que vieram à tona os escândalos do mensalão e dos
sanguessugas. Ontem, o presidente atribuiu essas crises basicamente aos problemas do sistema político.
"Não pensem que o erro de
cada um é individual ou partidário. O que acontece são os
acúmulos de deformações que
vêm da estrutura política do
nosso país", afirmou a uma platéia de cerca de 300 pessoas,
entre políticos e intelectuais,
que estavam reunidos para discutir propostas de sua candidatura para o Nordeste.
"Ou nós temos a coragem de
mudar isso com uma certa profundidade ou nós, daqui a 20
anos, estaremos amargando as
mesmas coisas que estamos lamentando hoje", concluiu.
O presidente não aprofundou sua proposta, mas disse
que a reforma que pretende fazer caso reeleito "passa pelas
organizações das estruturas
partidárias deste país", o que
incluiria "desde a mudança no
regimento interno" do Congresso "até a discussão de mandato de pessoas, até a existência
ou não de partidos-laranja e
partidos de verdade".
Os escândalos de corrupção e
seu uso político pela oposição
têm surgido com freqüência
nas falas de Lula. Anteontem,
em seu primeiro comício na
campanha pela reeleição, ele
disse aos adversários que "meçam suas línguas", porque vai
responder no mesmo tom.
Lula aproveitou para criticar
o Legislativo. "Não podemos
permitir que se repita no Congresso Nacional o que aconteceu com o Orçamento do ano
passado, quando ficou demonstrada pouca seriedade com o
Brasil e muita vocação para
prejudicar o governo, sem saber que por trás do governo estavam prejudicando o povo",
afirmou, sobre o atraso para
aprovar a proposta de Orçamento da União.
"Buchinhos dos pobres"
Lula passou a maior parte do
tempo falando sobre o Nordeste e defendeu altivez como primeiro passo para o fim das desigualdades. Na região, o presidente tem ampla vantagem sobre seus adversários, segundo
pesquisa Datafolha (63% para o
petista, contra 13% para o tucano Geraldo Alckmin). "O Nordeste precisa parar de ser vítima. Não dará o salto de qualidade que tem de dar se o nordestino se apresentar para o resto do
país como se fosse vítima."
Ele voltou a vestir o figurino
de "pai dos pobres" e afirmou
que não importa se o Bolsa-Família é ou não assistencialista,
mas sim que ele alimenta quem
precisa. "O Bolsa-Família está
levando calorias e proteínas para os buchinhos dos nossos meninos mais pobres."
Disse ainda que uma pequena parcela deseja manter a população sem estudo para não
ser contestada. "A ignorância é
uma forma de tornar o povo vítima. A sabedoria não interessa
a uma parte dos que governaram este país, historicamente."
O ataque às elites já havia começado na noite anterior. "A
mesma elite que levou Getúlio
[Vargas] à morte, que levou
Juscelino [Kubitschek] ao
maior processo de acusação e
de mentiras, que tirou João
Goulart, essa mesma elite tentou me tirar. Só que a diferença
básica no meu caso não é que eu
fosse melhor. É que tinha um
componente que eles não contavam e descobriram que existia, chamado povo brasileiro."
Lula também defendeu uma
mudança nas rotas aéreas do
Brasil, hoje concentradas em
São Paulo, disse que o problema da Varig está "quase resolvido" e criticou as empresas aéreas por não comprar aviões da
Embraer -apesar de ele próprio ter comprado um Airbus,
europeu, para a Presidência.
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