São Paulo, terça-feira, 24 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Carros oficiais rejeitados por juízes ficam em garagem

HUDSON CORRÊA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

O Tribunal de Justiça de Mato Grosso vai leiloar 20 Corollas e nove Astras que estão parados na garagem do órgão desde janeiro de 2005, pois foram rejeitados por juízes que preferem receber auxílio-transporte de 15% sobre o salário.
Um desembargador (juiz do tribunal) recebe R$ 22.111,25 e mais R$ 3.316,69 de auxílio-transporte. Segundo o Tribunal de Justiça do MT, não há incidência de Imposto de Renda sobre o auxílio "porque se trata de verba indenizatória". Os juízes também não precisam apresentar notas fiscais ou recibos dos gastos.
Se os carros forem vendidos apenas pelo lance mínimo, o TJ terá prejuízo de R$ 530 mil -diferença entre o valor da compra dos veículos e o total a ser arrecadado no leilão.
Em janeiro de 2005, o tribunal comprou 30 Corollas por R$ 1,84 milhão e nove Astras por R$ 531 mil, totalizando R$ 2,37 milhões. Só três desembargadores aceitaram os carros. Os outros 27 rejeitaram os Corollas, que ficaram sem uso na garagem.
No final da semana passada, o tribunal anunciou que sete Corollas serão usados no setor administrativo e os outros 20 vão a leilão.
A venda incluirá ainda nove Astras rejeitados por juízes dos fóruns. O auxílio-transporte para esses magistrados varia de R$ 2.176 a R$ 2.985.
Cada Corolla, comprado a R$ 61,5 mil, terá lance mínimo de R$ 44 mil. No caso do Astra, adquirido por R$ 59 mil, o valor no leilão será de R$ 39 mil.
A decisão de vender os veículos foi do presidente do tribunal, desembargador Paulo Lessa, que assumiu o cargo em março passado e informou ter implantado um "setor de controle interno" para evitar gastos desnecessários.
Em 2005, antes de assumir a presidência, Paulo Lessa preferiu o auxílio-transporte ao Corolla. "Auxílio esse de que abri mão imediatamente após assumir a função de presidente do tribunal, tendo em vista que o papel de representação [cargo] exige a utilização de veículo", afirmou, por escrito, à Folha.
Segundo Lessa, a presidência do TJ-MT em 2005 "tomou a decisão de adquirir os carros entendendo que o CNJ [Conselho Nacional de Justiça] e o novo Estatuto da Magistratura excluiriam a possibilidade de manter a verba indenizatória [auxílio-transporte]".
Lessa disse que houve precipitação. "O CNJ não se manifestou sobre aspecto algum em relação ao auxílio-transporte. Então, se houve algum equívoco [na compra dos carros], entendo que pode ter sido o da precipitação."
O leilão dos veículos deve ocorrer em 45 dias. O tribunal pode arrecadar, no mínimo, R$ 1,23 milhão. O orçamento anual do TJ-MT é de R$ 338 milhões, para despesas de custeio e de pessoal.


Texto Anterior: Dividido, PSDB já cogita enfrentar Kassab
Próximo Texto: Janio de Freitas: As linhas da crise
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.