São Paulo, sexta-feira, 24 de julho de 2009

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"É preciso saber o tamanho do crime", diz Lula sobre Sarney

Presidente volta a minimizar denúncias e a defender senador no comando da Casa

PT mantém posição dúbia; líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, entrega a sua quarta denúncia contra Sarney no Conselho de Ética


Sebastião Moreira/Efe
O presidente Lula visita projeto de horta orgânica depois de abertura de feira em São Paulo

DA REPORTAGEM LOCAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, em São Paulo, que é preciso evitar o que chamou de "morte precoce" do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Mesmo depois da revelação de conversas em que Sarney orienta o processo de contratação do namorado da neta, Lula minimizou o teor das denúncias, defendeu a permanência do presidente do Senado no cargo e censurou condenação precoce no país.
"O que você não pode é vender tudo como se fosse um crime de pena de morte", afirmou.
Ao falar das gravações, Lula disse que "é preciso saber o tamanho do crime". "Ou seja, uma coisa é você matar, outra coisa é você roubar, outra coisa é você pedir um emprego, outra coisa é relação de influências, outra coisa é o lobby."
Em entrevista à rádio Globo, Lula reiterou o discurso de véspera -no qual recomendou ao Ministério Público cautela com a biografia dos investigados- e chegou a comparar prejulgamentos à prática de um crime. "O que precisamos é não cometer um crime antecipado."
Para Lula, é necessário garantir "confiabilidade às instâncias" de investigação e julgamento: "O que nós precisamos é não estabelecer a morte precoce. O que nós precisamos estabelecer é um processo de investigação, de julgamento e aí, sim, a pessoa será absolvida ou condenada em função da qualidade da investigação".
Segundo o presidente, há "denúncias que, investigadas, são verdadeiras". "Mas tem denúncias que não deram em nada e as pessoas já estão condenadas antes. É isso o que eu quero evitar", justificou.
Apesar do agravamento de sua situação política, Sarney disse a amigos e familiares que não pretende renunciar ao comando da Casa durante o recesso, como estão defendendo senadores da oposição.
Aliados de Sarney, contudo, manifestaram preocupação ontem depois de receberem a notícia do acidente doméstico de sua mulher, Marly Sarney, que deve passar por uma cirurgia. O receio é que o acidente abale emocionalmente Sarney e o leve a pedir uma licença durante o período de recuperação dela.

Senadores
O PT continua mantendo uma posição dúbia em relação ao presidente do Senado. Apesar de considerar grave a série de denúncias contra Sarney, o partido não decidiu mudar de posição e pedir a renúncia.
A líder do governo no Congresso, senadora Ideli Salvatti (PT-SC), disse ter ficado "muito preocupada". "Na minha avaliação, a situação é grave. Os indícios e denúncias são muito fortes", disse Ideli, que sempre seguiu a orientação do Planalto de defender Sarney. Questionada sobre uma mudança de opinião na bancada, afirmou: "Para a bancada mudar de opinião é preciso ter reunião".
Antes do início do recesso parlamentar, o PT pediu para Sarney se licenciar. Como ele não aceitou, o partido não defendeu publicamente sua saída.
A bancada chegou a ter uma reunião tensa com Lula, que lembrou que Sarney é um importante aliado do governo. Depois disso, os petistas mantiveram sua opinião, mas pararam de pressionar o peemebebista.
Ontem, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) divulgou nota defendendo que Sarney se licencie. "As gravações realizadas pela Polícia Federal mostram como pessoas da família do senador e de seu círculo de amizades foram contratadas pelo Senado por atos não publicados", afirmou.
Suplicy afirmou ainda que concorda com a proposta dos senadores Cristovam Buarque (PDT-DF) e Pedro Simon (PMDB-RS) de antecipar a reunião do Conselho de Ética marcada para agosto. No entanto, só o presidente do conselho, senador Paulo Duque (PMDB-RJ), pode antecipar o encontro. Ele é aliado de Sarney e não deverá tomar uma atitude que poderá prejudicar o presidente.
O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), entregou ontem a sua quarta denúncia no conselho contra Sarney, que se baseia nas gravações divulgadas pelo jornal "O Estado de S. Paulo".
O presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), afirmou que o partido ainda não decidiu abrir representação contra Sarney. Até agora, só o PSOL ingressou com um pedido de processo.


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