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Comissão vê indício de negociação de cota aérea por 4 deputados
Após 90 dias de apuração, sindicância da Câmara aponta ainda 44 servidores ou ex-servidores suspeitos de comercializar passagens
Temer não divulga nome de envolvidos; corregedoria vai investigar participação de deputados e decidir se abre ação por quebra de decoro
MARIA CLARA CABRAL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Uma comissão de sindicância da Câmara encontrou indícios da participação direta de
pelo menos quatro deputados
no esquema de comercialização de cotas de passagens aéreas. Outros 44 servidores ou
ex-servidores responderão a
processos administrativos pela
participação no esquema.
Depois de 90 dias de investigações, a comissão recomendou ontem que o relatório de
trabalho, com mais de cem páginas, fosse enviado para a Corregedoria Geral da Câmara, ao
STF (Supremo Tribunal Federal) e ao Ministério Público.
A corregedoria terá o prazo
de 45 dias (que começarão a ser
contados no começo de agosto), prorrogáveis por igual período, para apurar a participação dos deputados e determinar ou não a abertura de processo por quebra de decoro.
"Se ficar comprovado que algum deputado vendeu pas-
sagens dentro de sua cota, vou
defender a abertura do processo e a perda de mandato", disse
o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA), corregedor-geral da Câmara.
A comissão investigou a participação de, no mínimo, 30 gabinetes. Na maioria dos casos,
os servidores assumiram sozinhos a culpa. Em um deles, o
funcionário culpou o parlamentar. E em pelo menos mais
três casos, a comissão achou indícios contra os deputados.
Caberá a ACM Neto determinar o que será efetivamente alvo de investigação, já que a comissão era formada por três
funcionários da Câmara, que
não tinham competência para
ouvir os congressistas.
Em abril, a Folha mostrou
que a comissão de sindicância
já havia descoberto que senhas
fornecidas por companhias aéreas e usadas nos gabinetes para a emissão de bilhetes via internet foram vendidas para
agências de viagens. Com a
venda, tudo era feito pelas próprias agências, que repassavam
os bilhetes a terceiros.
O presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), ainda
não divulgou nomes das agências, deputados e funcionários
envolvidos. Em nota, ele disse
que todas as providências sugeridas pela comissão (abertura
de processo administrativo,
envio dos autos à Procuradoria
e ao Supremo) foram tomadas.
O escândalo conhecido como
farra das passagens teve início
após a revelação de que o deputado Fábio Faria (PMN-RN)
deu bilhetes da cota aérea da
Câmara para sua então namorada, Adriane Galisteu. Outros
deputados tiveram seus nomes
envolvidos no mau uso da cota.
A sindicância só foi instalada
após a revelação de que bilhetes aéreos da cota dos deputados Paulo Roberto (PTB-RS) e
Fernando de Fabinho (DEM-BA) foram usados pelo presidente do STF, Gilmar Mendes,
e pelo ministro Eros Grau, respectivamente. Como os dois
apresentaram provas da compra direta das passagens, nasceu a suspeita do esquema de
"terceirização" do benefício.
Em resposta à crise, o valor
da cota aérea a que os deputados têm direito ao mês diminuiu em 20%. Ficou proibido o
uso dos bilhetes por familiares
dos deputados. Mas todos os
excessos cometidos, incluindo
o de Faria, foram perdoados.
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